Crítica | Os Pequenos Vestígios

Os Pequenos Vestígios
(The Little Things)
Data de Estreia no Brasil: 22/04/2021
Direção: John Lee Hancock
Distribuição: Warner Bros. 

Gerando as melhores expectativas possíveis desde seu primeiro trailer, Os Pequenos Vestígios prometeu muito aos fãs de suspenses investigativos, principalmente por seu elenco ousado. Mesmo que com promessas decepcionantes vindas de Hollywood já estejamos acostumados, o que de fato ameniza nossas frustrações, mas não nos torna isentos das mesmas. A mais nova aposta do prestigiado diretor John Lee Hancock é um thriller policial com influências neo-noir que, mesmo nos desanimando fortemente por  bons períodos de tempo, nos conquista com sua estética e com o charme singular de algumas de suas cenas.

Ambientada na Los Angeles de 1990, a história nos apresenta a Joe Deacon (Denzel Washington), um policial experiente, capaz de enxergar pequenos detalhes que podem solucionar casos, mas com uma tendência a quebrar regras. Juntando-se a um jovem e promissor investigador chamado Jim Baxter (Rami Malek), ambos precisam investigar casos semelhantes, de mulheres assassinadas, ligados a um suspeito e possível serial killer chamado Albert Sparma (Jared Leto). Quando antigos traumas de Deacon e sua conduta indevida começam a entrar em jogo, tanto ele quanto Jim irão se descobrir emocionalmente afetados e envolvidos demais com o caso.

O trio de atores principais, todos vencedores de Oscar, não deixa a desejar em suas performances. Fazem o possível com os personagens e com o tempo de tela que possuem em mãos para entregar interpretações convincentes. Enquanto Denzel cumpre bem um papel que está acostumado a representar, sendo um policial cansado que esconde um passado sombrio, e Malek carrega consigo a conhecida fome por justiça de um investigador iniciante, é Jared Leto quem se destaca (merecidamente  indicado na categoria de melhor ator coadjuvante de premiações como o Globo de Ouro e o SAG Awards) ao construir seu personagem com base em um eficiente ar ardiloso e misterioso, ao mesmo tempo alucinadamente comedido. Junto ao tom sarcástico e metódico dos diálogos de seu personagem, sua atuação nos gera nojo e raiva, exatamente da forma que deveria.

O filme possui cenas angustiantemente bem elaboradas que bebem da fonte de grandes referências do cinema de serial killer, principalmente Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995), de David Fincher. São sequências  que prendem nossa atenção e nos permitem extrapolar os futuros caminhos que a narrativa irá percorrer, sem estragar nossa imersão com excessos de exposição. Porém, o desenvolvimento e o andamento da trama não acertam em todos os momentos, tornando a experiência do espectador desgastante durante uma significativa parte do segundo ato. A investigação não progride da forma que deveria e a necessidade de mostrar Sparma sempre à frente dos investigadores dá a sensação de realismo da obra, porém não nos cativa como gostaríamos.

Falta ousadia por parte do roteiro para nos impressionar, trazendo algo que não vimos antes, ou ao menos de uma forma que dificilmente poderíamos prever. Toda a ordem dos acontecimentos falha em manter nosso interesse pela história. Ainda que a direção e o enredo consigam transmitir bem a frustração presente diariamente no trabalho de tantos policiais e investigadores, esse conhecimento não é compensador no fim das contas.

O maior defeito de Os Pequenos Vestígios é sua incapacidade de resolver os problemas que nos apresentou até a metade da trama. A conclusão do filme revolta por sua superficialidade, ao focar em um aspecto específico e pequeno de toda a investigação, abdicando de toda a seriedade dos crimes e de tudo que até então estava em jogo. A história pedia mais cuidado em sua abordagem, e o poderoso elenco pedia mais carinho e profundidade com seus personagens. E todas essas complicações nem mesmo a esforçada trilha musical do experiente e já calejado compositor Thomas Newman consegue abafar.

De forma geral, diversas cenas do filme funcionam extremamente bem, se analisadas individualmente e sob uma perspectiva específica. É ao unir todas as informações propostas que Os Pequenos Vestígios escorrega. A coesão do roteiro é abdicada em prol de uma resolução simplista, que não convence, não surpreende e muito menos agrada. Mesmo com boas interpretações de seu elenco , a narrativa encontra problemas visíveis em transmitir sua mensagem com clareza e de maneira inteligente, nos incomodando durante boa parte de seus longos 128 minutos de duração.