Crítica | Pânico (2022)

Pânico
(Scream)
Data de Estreia: 13/01/2022
Direção: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett
Distribuição: Paramount Pictures

Babadook“, “A Bruxa” e “Hereditário” são apenas alguns dos filmes de “horror elevado” citados durante a sequência inicial de Pânico. Seguindo a tradição da franquia, até então conduzida por Wes Craven e Kevin Williamson, o novo Pânico traça diversos comentários metalinguísticos sobre o estado do cinema de horror. Enquanto a trilogia dos anos 1990 comentava os clichês dos slashers e suas intermináveis sequências, e Pânico 4 (2011) a onda de remakes que se seguiu, Pânico (2022) mira os requels. “E o que são eles?”, um personagem pergunta. São espécies de “reboots de legado”, outra explica, filmes que trazem de volta personagens lendários de uma franquia enquanto apresentam rostos e situações novas a fim de renová-la. Como o Halloween de 2018…. e o novo Pânico.

Metalinguagem, como já era de se esperar, é um tema predominante no roteiro escrito por James Vanderbilt e Guy Busick. Entretanto, a pergunta que lateja em nossa mente ao acompanhar o desenrolar de sua trama é a seguinte: admitir de forma “espertona” e cínica que se está fazendo algo clichê justifica esta escolha? Dar constantes piscadelas ao público através da 4ª parede exime Pânico de suas admitidas falhas, como, por exemplo, suprimir o “5” do título? A resposta encontra-se em algum lugar no meio do caminho. Em seus melhores momentos, o filme traz uma revigorante análise sobre o horror e sobre a própria franquia e seu legado nos dias atuais. Em outros, força a pergunta: um Pânico sem Wes Craven é realmente necessário….. ou sequer justificável?

Enquanto “Pânico 4” (2011) trazia questões de legado e releitura passados 11 anos de seu antecessor, a década adicional que o separa de Pânico (2022) traz uma nova transformação na cultura e no consumo do horror. A temática predominante neste novo capítulo da saga é, então, a do “respeito” ao original, ou, da toxicidade disseminada por aqueles “fãs” que se julgam guardiões de uma determinada franquia ou produto. A trama começa então mergulhando as irmãs Tara (Jenna Ortega) e Sam Carpenter (Melissa Barrerra), bem como seu grupo de amigos mais próximos, em uma rede de paranoia e desconfiança quando alguém próximo a elas começa uma nova onda de assassinatos Ghostface em Woodsboro.

A ótima sequência inicial de Pânico (2022) expõe logo de cara algumas de suas principais forças…. mas também seu calcanhar de Aquiles. Começando pelos pontos positivos, devo dizer que a direção de Matt Bettinelli-Oplin e Tyler Gillet, dupla responsável pelo ótimo Casamento Sangrento (2019), me surpreendeu muito positivamente. Optando por um tom visual e narrativo mais visceral, os diretores encaram muito bem a impossível tarefa de substituir Wes Craven, entregando ótimas sequências de ação e um controle muito competente de expectativas e surpresas. Suas escolhas acertadas na colocação de jumpscares e de falsos jumpscares sustentam muito bem a tensão e o interesse do público pelas quase duas horas de filme.

Outro destaque dos momentos iniciais de Pânico (2022) que se mantém até os créditos é a excelente atuação de Jenna Ortega como Tara. Estabelecendo um forte tom de apreensão para o restante da narrativa, a atriz demonstra todo o desespero e obstinação de sua personagem ao ser perseguida pelo novo Ghostface (não é spoiler, tá no trailer). O mesmo não pode ser dito, infelizmente, de Melissa Barrerra, que deixa muito a desejar como Sam. A atriz desperdiça todo o potencial de carga dramática da nova protagonista, não tendo nada do carisma e nível de atuação necessários para sustentar o filme. O estrago só não é maior por conta da presença de peso dos veteranos da franquia, Neve Campbell, Courtney Cox, David Arquette e Marley Shelton, todos excelentes.

E aqui entra o grande calcanhar de Aquiles de Pânico: quando chegamos ao clímax da narrativa, descobrimos que seus melhores momentos haviam ficado para trás. As piadinhas e momentos de quebra da 4ª parede que haviam anteriormente servido tão bem ao filme não são capazes de salvar seu 3º ato de uma monótona sensação de déjà vu. Salvo brevíssimos comentários precisos sobre fandoms tóxicos e a radicalização em fóruns de internet, não há absolutamente nada aqui que não tenha sido feito melhor antes. Conforme a câmera subia e os créditos se aproximavam me percebi me questionando de forma incômoda: “é só isso???”.

Este sentimento de potencial desperdiçado ao fim de Pânico acaba deixando um gosto amargo que deteriora minha percepção do filme a cada vez que penso sobre ele. No fim das contas, parece que faltou coragem ao time de produção para ir além e trazer algum elemento inesperado que realmente justificasse a produção de um novo Pânico sem Wes Craven. Pânico (2022), então, acaba se demonstrando um filme repleto de bons momentos e ideias promissoras, mas que progressivamente perde seu frescor conforme a trama se aproxima de seu desfecho. Se havia algo de realmente inovador e surpreendente no roteiro de Vanderbielt e Busick, acabou sendo descartado em algum momento da produção. E é uma que pena que o tenha sido. “Pânico 5” poderia ter sido muito mais memorável.