Crítica | Primeira Morte (1ª Temporada)

Primeira Morte (1ª Temporada)
(First Kill)
Data de Lançamento: 10/06/2022
Criada por: V.E. Schwab
Distribuição: Netflix

Eu, particularmente, adoro o trunfo narrativo de um amor proibido no melhor estilo “Romeu e Julieta”. Famílias rivais, classes sociais diferentes, relacionamentos interraciais. Eis que no mês do Orgulho LGBTQIA+, a Netflix lança uma série que mistura isso tudo e muito mais.

Primeira Morte nos apresenta Juliet (Sarah Catherine Hook), uma jovem vampira que se encontra num dilema ao precisar realizar sua “primeira morte”, e Calliope (Imani Lewis), que vem de uma linhagem antiga de caçadores de monstros e está a procura de se provar digna de também, pasmem, realizar sua “primeira morte”. 

A série é baseada num conto de mesmo nome da escritora V.E. Schwab (criadora e produtora da série que também roteirizou um dos episódios da temporada) que foi lançado no livro de antologia “Vampires Never Get Old: Tales with Fresh Bite”.

Além do dilema implícito de “caçadora x vampira”, a série envolve outros mistérios, ainda mais dilemas familiares novelescos, o famigerado “inimigos a amantes” e uma mitologia bem rica, diga-se de passagem. O problema é que, apesar de tudo isso, a série não conseguiu me prender em praticamente nenhum momento. 

Começando pelos pontos positivos, a série é provavelmente uma das mais diversas da atualidade. Com personagens LGBTQIA+ que não se resumem apenas a sua sexualidade ou a servir como “cota narrativa” para ganhar pink money. Protagonismo negro de personagens diversos. Protagonismo feminino que, aliás, salva a série em diversos momentos. 

Além disso, a trilha sonora da série é maravilhosa e, até onde pude notar, é majoritariamente composta por artistas femininas. Obviamente, a abertura talvez seja a melhor coisa de tudo: a vibe brega com a trilha pop rock com a letra cheia de referências que cita descaradamente “Crepúsculo” em um momento e GRITA ANOS 2000 – me trouxe memórias de “Pretty Little Liars”, inclusive.

Porém, o roteiro da série entra em conflito consigo mesmo em vários momentos. Em momentos é uma “trasheira” que não se leva a sério e em outros momentos muda para um tom grave e tenso que não encaixa muito bem naquele ambiente até então. Outra coisa são as atuações completamente destoantes.

Quase todo o elenco jovem é composto por artistas com poucos créditos de atuação. Talvez as mais experientes ali sejam as protagonistas, mas isso às vezes pesa um pouco – culpa que pode ser posta na direção. 

Em alguns momentos – em especial na interação entre Cal e Juliet – as duas atrizes passam aquele conflito misturado com atração muito bem. Mas, especialmente nos momentos que precisam de um pouco mais de pulso dramático, a coisa chega a ficar meio constrangedora.

Talvez as atuações mais consistentes e interessantes partam das matriarcas de cada uma das famílias. Margot (Elizabeth Mitchell) – que eu simplesmente chamei de Juliet durante toda a série por conta de “Lost” – é uma personagem de muitas camadas e que faz a gente passar pelo amor e pelo ódio por ela durante vários momentos. Já Talia (Aubin Wise) é um caso à parte. A mulher é incrível a série toda e eu posso ou não estar um pouco apaixonado. 

Os embates entre Margot e Talia são os momentos que mais me atraíram durante a série, em especial o primeiro encontro entre elas, que exalam o desdém recíproco atrás de sorrisos e palavras educadas. 

Além disso, a Primeira Morte parece que não consegue seguir uma coerência muito legal durante os episódios já algumas coisas são simplesmente jogadas (como o motivo exato da ligação entre as meninas, o que aconteceu durante Theo durante o ritual de ruptura) e também joga algumas tramas que poderiam render muito pela janela na tentativa de simplificar demais as coisas. 

O melhor exemplo disso para mim é o que acontece entre os gêmeos Fairmont. Durante toda a série temos a noção de que Oliver (Dylan McNamara) é alguém horrível e culpa sua irmã, Elinor (Gracie Dzienny) por algo. Tendo em vista a habilidade especial da garota, eu esperava algo super vilanesco e elaborado da parte dela, mas no último episódio tomamos um balde de água fria com o confronto entre eles. Mas aí talvez o problema tenha sido minha própria expectativa…

Eu até poderia falar sobre o CGI péssimo da série, mas considerando o orçamento baixíssimo, acho que ela conseguiu fazer o melhor que pode com o que tinha. Apesar de tudo, ainda acredito que eles poderiam ter investido muito mais em efeitos práticos. Até sangue na água eles fizeram digitalmente. Ai não dá pra defender…

Eu esperava gostar bem mais do que gostei de Primeira Morte, mas, no final, os pontos negativos acabaram pesando bem mais pra mim. Ainda espero que a série seja renovada pois a cena final abre margem para abrir ainda mais a mitologia da série e, quem sabe, ela pode se tornar a “Buffy, A Caça Vampiros” que se vendeu ser desde o princípio.