Crítica | Resident Evil: Bem-Vindo à Racoon City

Resident Evil: Bem-Vindo à Racoon City
(Resident Evil: Welcome To Racoon City)
Data de estreia: 02/12/2021
Direção: Johannes Roberts
Distribuição: Sony Pictures

 

O símbolo composto por um guarda-chuva branco e vermelho é um ícone entre os diversos fãs de Resident Evil, uma franquia de jogos de terror criada por Shinji Mikami e lançada pela Capcom na década de 90. De acordo com rankings atualizados pela própria Capcom, Resident Evil é um dos jogos mais vendidos no mundo, tendo ultrapassado 120 milhões em vendas e dividindo o topo de sucessos da empresa com Monster Hunter e Street Fighter. Tamanha popularidade atraiu a atenção do ramo cinematográfico e, em 2002, foi lançada a adaptação do primeiro filme, Resident Evil: O Hóspede Maldito, com Paul W. S. Anderson na direção. Ainda que alvo de muitas críticas, sendo considerado como o básico de uma adaptação, ele foi somente o começo do que estava por vir: mais cinco longas em sequência (alguns com alto aproveitamento). É quase nostálgico relembrar Milla Jovovich brilhando com seu protagonismo em todos os filmes através da poderosa Alice, personagem criada especialmente para as telas.

O lançamento de Resident Evil: Bem-Vindo à Racoon City este ano veio como um recomeço nas intenções da saga original. A proposta do filme atual é ser mais fidedigna aos primeiros dois jogos da franquia e acrescentar um tom mais sombrio de terror que não foi tão explorado nos anteriores. No longa, a cidade de Racoon City é abandonada pela gigantesca empresa farmacêutica Umbrella Corporation. No entanto, alguns segredos sobre as experiências da empresa são mantidos abaixo da cidade e, uma vez que o vírus T criado pela corporação é liberado na água, os moradores começam a sofrer as consequências.

Quando a cidade entra em caos, cabe ao grupo de policiais de elite conhecidos como STARS investigar a Umbrella, sobreviver à destruição de Racoon City e impedir que o vírus seja transmitido para o mundo. O grupo é composto por Chris Redfield (Robbie Amell), Jill Valentine (Hannah John-Jamen), Albert Wesker (Tom Hopper) e Richard Aiken (Chad Rook), contando com a ajuda da irmã de Chris, Claire Redfield (Kaya Scodelario) e o policial novato na delegacia de Racoon, Leon S. Kennedy (Avan Jogia).

 

Se a proposta era satisfazer os fãs proporcionando um remake fiel na direção de arte somado ao toque sombrio dos jogos, acredito que o filme atingiu a proposta. As cenas iniciais de Resident Evil 2 são caprichosamente referenciadas, como o caminhão desgovernado, os cães contaminados no subsolo da delegacia e até mesmo a primeira aparição de um zumbi na Mansão Spencer. O cenário carrega características meticulosas que reproduzem o cenário virtual nas telas, desde os mapas nas paredes, os quadros e o ladrilho preto e branco no chão da Mansão, até toda a delegacia e também o orfanato onde as crianças sofriam os experimentos. É quase como mergulhar no jogo, exceto pelo fato de que o roteiro precisou trabalhar com adaptações para amarrar bem as pontas, fazendo uma mistura de informações dos games e alterando o roteiro original da franquia. Com esse intuito, a própria ligação de Chris e Claire com a Umbrella é reconstruída, além dos objetivos dos personagens nos jogos, como os cuidados de Claire com Sherry (Holly de Barros), parte que não é explorada no longa.

 

A proposta de juntar dois jogos com diferentes cenários em apenas um filme omite muitas informações que permitiriam ao público que desconhece a saga participar mais ativamente da hype que o remake poderia gerar, mas no total não é desagradável. Pode ser considerado um pouco cansativa a alternância entre os grupos de personagens que se separam, cada qual com seus propósitos. A distribuição de jumpscares é um pouco previsível e o desenvolvimento dos personagens é retratado de forma superficial, até mesmo com desvios de rota como um Leon bem mais atrapalhado, subalterno e muito mais cômico e uma Claire bastante preocupada e irritadiça. Contudo, a escolha de Avan Jogia para o papel torna fácil simpatizar com Leon e Kaya Scodelario possui bagagem o suficiente para entregar uma boa dramaticidade e sensação de urgência nas cenas de investigação e de clímax. A maneira como o filme retrata Wesker, um dos maiores vilões da franquia de jogos, também é interessante, conferindo-lhe um toque mais humanizado e proporcionando uma brecha para continuações com grande potencial para a franquia. 

 

Considerando o todo, o filme poderia entregar mais, mas ainda entrega o suficiente para curtir um bom terror com muitas mortes, zumbis abatidos, cenas de alívio cômico, uma trilha sonora bem aproveitada e os maiores monstros dos primeiros filmes são  bem construídos diante dos espectadores. Afinal, quem imaginaria que seria tão bom ver o ataque de um carnífice em ótima qualidade nas telonas?