Crítica | Shadow In The Cloud

Shadow In The Cloud
Data de Lançamento: 31/12/2020
Direção: Roseanne Liang
Distribuição: Vertical Entertainment

Shadow In The Cloud (2020) é o mais novo filme de Roseanne Liang, cineasta chino-neozelandesa, que assina o roteiro e dirige o longa-metragem apresentado inicialmente no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2020. O filme gira em torno de uma misteriosa tripulante de um avião de combate, que é designada para um voo na Segunda Guerra Mundial levando um pacote ultrassecreto.

O que nos atrai desde o início da trama, é a construção da personagem capitã Maude Gardner (Chloë Moretz), que está prestes a embarcar em um avião B-17 com um pacote misterioso. A partir desse momento, até os créditos finais, participamos de um passeio selvagem e acelerado acompanhando Maude em sua jornada. Quer seja pelas surpresas em cada curva do roteiro, ou pela sensação de perigo iminente que ela passa presa dentro de uma escotilha claustrofóbica.

Shadow In The Cloud com toda certeza, lhe trará um misto de várias emoções durante seus 83 minutos de duração. O roteiro e a direção fazem um excelente trabalho, combinando componentes da Segunda Guerra Mundial com um assertivo comentário sobre o tratamento dado às mulheres, especialmente nas forças armadas. O filme ainda flerta com um elemento adicional de ficção-científica e terror que lembra muito Além da Imaginação.

Chloë Grace Moretz rouba a cena com sua atuação no papel de Maude Gardner. Na verdade, este filme mostra que ela é capaz de ser uma ótima protagonista, já que a maior parte do filme gira em torno dela estar presa em uma escotilha, se comunicando com outros personagens por meio do rádio.

Quanto ao demais integrantes do elenco, os homens que tripulam o avião, eles são o mais degradante e sexista possível. O recurso serve para, justamente, dar uma ideia do tratamento que essas mulheres receberam durante a guerra, mesmo estando em cargos superiores. Um paralelo com o mundo corporativo atual muito bem elaborado.

Quanto à apresentação do filme, foi excepcional. O diretor de fotografia Kit Fraser fez um belo trabalho de mostrar a vastidão infinita do céu, o que permitiu uma justaposição interessante, mostrando a divergência entre os horrores da guerra e a beleza dos céus.

Sobre a criatura demonstrada no filme, existe uma lenda na aviação que nos conta que foi um aviador da Royal Air Force que identificou, durante a batalha da Inglaterra, em 1940, os culpados pelos inevitáveis enguiços mecânicos que aconteciam quando os aviões eram mais solicitados: eram os Gremlins, os espíritos das máquinas e ferramentas.

Os Gremlins já foram muito úteis ao homem, inspirando suas invenções. Mas os inventores lhes negaram crédito e tal insulto levou os pequeninos espíritos a se colocarem contra a humanidade e agora, em vez de ajudarem, eles dificultam o funcionamento das máquinas e ferramentas. Essa é premissa do sobrenatural do filme, mas que não deixa de guardar relação com o passado revelado na trama por Maud Gardner em uma interpretação mais ampla.

Quando finalmente vemos a criatura em carne e osso, ela desaponta. Os efeitos visuais poderiam ter sido um pouco mais elaborados. A revelação poderia ser melhor trabalhada, para se manter no mesmo nível do resto do filme. Dito isso, elogiamos os efeitos práticos que usados que funcionam muito bem, ao mostrar a natureza claustrofóbica da escotilha em que Maude se encontra em boa parte do primeiro ato.

A diretora Roseanne Liang fez um ótimo trabalho de capturar aquela sensação sufocante e os horrores das batalhas aéreas na Segunda Guerra Mundial. Como um todo, o filme nos dá uma sensação vibrante, elétrica e colorida que realmente envolve o espectador, especialmente com a inserção de uma boa trilha sonora em cenas específicas.

Dado que o elenco masculino do filme (incluindo Nick Robinson, Taylor John Smith, Beulah Koale e Byron Coll) passa a maior parte da trama fora da tela, apenas representados por suas vozes e comentários no rádio, este é um filme de Cloë Moretz. Podemos ver que ela abraçou a ideia e se divertiu com seu momento Sigourney Weaver, jogando os cansativos estereótipos de gênero pela janela, disparando armas com uma mão e socando monstros com a outra.

Shadow in the Cloud (2020) tem aquela energia turbulenta de filme B, e é um lembrete de que é permitido arriscar em roteiros quando a história é bem contada. Um filme que celebra de forma leve e agradável o empoderamento feminino. Não é um filme perfeito, mas fala sobre a força e determinação de uma mulher que fará de tudo para proteger o que ela ama dos horrores (reais e sobrenaturais) no mundo.