Crítica | Tem Alguém na sua Casa

Tem Alguém na sua Casa
(There’s Someone Inside Your House)
Data de Lançamento no Brasil: 06/10/2021
Direção: Patrick Brice
Distribuição: Netflix

Algumas produções parecem ter tudo para se tornarem grandiosas e alcançarem façanhas significativas, mas nem sempre isso acontece. É o caso do novo mediano filme de terror da Netflix, Tem Alguém na sua Casa, que, embora conte com nomes como James Wan e Shawn Levy (produtor de Stranger Things) na produção, além de Patrick Brice, responsável pelos ótimos Creep (2014) e Creep 2 (2017), na direção, infelizmente não alcança metade de seu potencia. O filme acaba caindo facilmente no esquecimento ao propor uma trama que pouquíssimo acrescenta ao gênero, ainda que contenha algumas boas cenas de horror.

Acompanhamos a promissora jovem Makani Young (Sydney Park), que se muda do Havaí para uma pacata cidade no estado de Nebraska para morar com sua avó e terminar o ensino médio. Porém, o que parecia simples se torna muito mais difícil e perigoso quando, próximo à formatura, seus colegas de sala passam a ser perseguidos e assassinados por um serial killer que utiliza máscaras de seus rostos, pouco antes de revelar seus segredos mais sombrios para toda a turma. Conforme o terror se instala, Makani precisa lutar com os traumas de seu passado, enquanto se junta à busca de seus amigos a fim de descobrir o verdadeiro rosto por trás das máscaras, antes que se tornem vítimas de assassinatos aterrorizantes. 

A atriz Sydney Park demonstra um bom trabalho ao enfrentar internamente o passado traumático de sua personagem, sem esconder seus receios e suspeitas, evidentes em seus olhares. De forma geral, as outras peças do elenco também funcionam bem, na maior parte do tempo, cumprindo com seus respectivos papéis. Se inspirando principalmente em Pânico (1996), Tem Alguém na sua Casa aposta fortemente nas mortes de seus personagens e, principalmente, no mistério existente por trás das máscaras para manter nossa atenção, nos fazendo questionar a todo tempo qual dos personagens estaria realizando aqueles assassinatos. Porém, os espectadores mais atentos e até exigentes percebem que o roteiro de Henry Gayden, adaptado do livro homônimo escrito por Stephanie Perkins, usa desses artifícios para nos distrair enquanto oculta o fato de que quase não tem o que dizer a seu público, não possui nenhuma mensagem relevante para transmitir.

Mesmo pincelando conflitos sociais presentes em ambientes escolares, o longa apenas ameaça se debruçar sobre temas como depressão, luto, preconceitos, expectativas próprias e até mesmo as consequências desastrosas da facilidade tecnológica no mundo atual. Não há um bom desenvolvimento de nenhum desses temas, pois todos são desprezados em prol de um enredo agitado, conduzido com o dinamismo e o cuidado necessários para não nos fazer perder o interesse pelos crimes nem entregar respostas na hora errada. Nisso, o diretor Patrick Brice demonstra total competência, com enquadramentos atrativos e um bom ritmo.

Ainda assim, é difícil não nos revoltarmos com o que talvez seja o maior problema da trama: a falta de clareza e plausibilidade dos objetivos do assassino. Ao final do terceiro ato, finalmente somos apresentados à pessoa responsável pelos crimes, que de forma gratuita e extremamente expositiva decide dissertar sobre as razões que o levaram a cometê-los. Tais argumentos imprecisos e fracos são capazes de afastar diversos espectadores, que até então se viam envolvidos com a narrativa. No fim, é justo dizer que nos vemos diante de muita farofa pra muito pouca feijoada.

Prometendo demais e entregando de menos, o filme desperdiça as oportunidades de elaborar seus personagens e suas circunstâncias de maneira interessante, e acaba sendo bem menos funcional do que poderia. Se a série de filmes Rua do Medo (2021), também distribuída pela Netflix, nos mostrou que mesmo nos dias atuais o slasher pode trazer bons frutos ao cinema e à televisão, o longa Tem Alguém na sua Casa, apesar de seu belo pôster e trailer instigante, nos prova que a grande maioria das obras do gênero ainda encontra dificuldades de se reinventar e realmente trazer algo novo, eficiente e memorável. Entretanto, a produção não deixa de fora muito sangue, mortes e um duradouro mistério sobre quem é o assassino por trás das máscaras, o que para muitos pode ser mais do que suficiente para um bom entretenimento.