Crítica | The Medium

            Intragável. Grotesco. Convincente. Esses são alguns adjetivos que descrevem The Medium. Com Banjong Pisanthanakun na direção, podia-se esperar algo bem apresentado. O diretor alcançou bons resultados (e um final assustador!) com Espíritos – A Morte está ao Seu Lado em 2004, rendendo uma continuação em 2007. Este ano, o diretor volta à ativa com o novo horror tailandês, The Medium.

            A trama inicia com cinegrafistas gravando um documentário sobre xamãs na vila de Loei, localizada na Tailândia. Para isso, eles entrevistam Nim (Sawanee Utoomma), uma mulher calma e tranquila que acredita ter recebido o espírito de uma entidade protetora chamada Ba Yan. Esta, conta-nos Nim, passa de geração a geração pela família, escolhendo apenas receptáculos mulheres.

            Nim é a irmã mais nova e, portanto, não seria a primeira escolha de Ba Yan. No entanto, a tarefa cabe a ela quando sua irmã mais velha e sucessora da ancestral, Noi (Sirani Yankittikan), renega tal destino e converte-se ao cristianismo. Noi parte da vila para fundar sua família e Nim permanece, atendendo aos moradores no templo e cumprindo seu dever como xamã.

            Quando o marido de Noi morre misteriosamente, Nim parte com a equipe para o funeral e lá conhecemos Mink (Narya Gulmongkolpech), peça chave do filme. A menina passa a exibir comportamentos estranhos e sua mãe entra em negação de que seriam sintomas da possessão de Ba Yan. Conforme o filme se desenrola, descobrimos que Ba Yan não tem um papel nisso, e Nim faz de tudo para tentar salvar a sobrinha das garras de espíritos muito sombrios.

            A escolha da gravação no formato filmagem tem pontos positivos, alcançando aquele arrepio e expectativa em cenas de câmeras paradas, como desfrutamos em Atividade Paranormal. Também agrada com o fator aproximação, pois podemos seguir os atores nas cenas como se participássemos da situação.

            Porém, ainda que ofereça ao espectador essa participação, há momentos em que essa imersão é quebrada, como por exemplo, durante a falta de intervenção por parte da equipe de filmagem em momentos cruciais. Talvez fosse mais realista (e assustador) que tais momentos não fossem gravados em primeira pessoa, pois assim o público poderia ver a reação até mesmo de quem “se esconde” atrás das câmeras.

            Os grandes destaques de atuação no filme vão para Sawanee e Narya. Nim exala comprometimento e determinação. Mink, por sua vez, entrega toda a transformação diante da possessão, brilhando na movimentação corporal, nas expressões faciais e nas cenas mais sanguinolentas que a personagem protagoniza. Narya não deixa margem à dúvidas sobre a possessão, convencendo do começo ao fim sem quebrar o feitiço do espectador.

            Embora seu início seja sutil e focado na construção não somente das personagens, mas também na ambientação e suas rotinas, a partir das mudanças de comportamento de Mink, encaramos outra faceta do longa. Uma faceta nada sutil, diga-se de passagem. As cenas chocam na violência física, no gore, na carnificina. As mortes não são omitidas, pelo contrário, são escancaradas.

            O longa também discute, mesmo que muito rapidamente, questões de tradição familiar, destino e fé. Há um diálogo bem interessante entre Nim e Noi a respeito da crença em Ba Yan, em algo que não pode ser visto, apenas sentido. Tal ponto não é exclusivo da religião abordada no filme, traçando linhas de questionamento com diversas outras.

            No quesito destino, podemos inferir que todo o banho de sangue poderia ser evitado caso Noi não tivesse renunciado ao xamanismo, ou ainda, caso fizesse uma boa pesquisa sobre os ancestrais de seu marido. O fatalismo presente no longa se sustenta na crença de escolhas que tiveram consequências e repercutiram na linhagem familiar.

            Atualmente, eu diria se tratar de um dos melhores filmes de possessão que já assisti. Com uma trama bem amarrada e apostas altas num teor mais violento, primeiro o filme se apresenta para depois incomodar e chocar. Até mesmo os mais acostumados com terror sofrem aqui com a possibilidade de uns arrepios na espinha e umas olhadas atentas em seus quartos à noite. Nunca se sabe o que pode estar escondido na brecha entre o armário e a porta.