Crítica | The Stand

The Stand
Data de Lançamento: 16/12/2020
Criadores: Josh Boone, Benjamin Cavell
Distribuição: CBS / Starzplay

Baseado no livro Dança da Morte, do mestre do horror Stephen KingThe Stand é a segunda versão televisa da história sobre a pandemia que acabou com o mundo. A primeira foi lançada em 1994, com direção de Mick Garris. Já comentamos sobre essa primeira versão – e também sobre o livro – em um artigo publicado aqui no site. Por isso, nessa crítica, o foco será mais nessa nova adaptação.

De princípio já podemos destacar um problema que estava – e ainda está, infelizmente – fora do controle da produção: o mundo se deparou com uma pandemia real pouco tempo após concluídas as filmagens. Isso impediu com que o roteiro absorvesse algumas questões que seriam muito importantes de estarem em tela. Questões essas que, surpreendentemente, aparecem mais na versão de 1994, como por exemplo nos militares negacionistas que afirmam não existir uma pandemia.

Dessa forma, os episódios que exploram o mundo no momento da super gripe acabam sendo ingênuos, pois o público já passou por uma situação real muito parecida. O mundo sob pandemia imaginado por Boone e Cavell é um tanto menos caótico do que o mundo real, apesar de, é claro, as consequências finais serem mais devastadores.

Esse fato é o que causa grande incômodo nos dois primeiros episódios, que são fracos, é difícil usar outra palavra. De início, temi que a construção não-linear da narrativa, da forma como estava sendo feita, atrapalhasse o desenvolvimento dos personagens. Infelizmente o temor se confirmou em alguns casos. O livro de King, e a série de 1994, possuem uma narrativa linear focada na dinâmica causa-consequência. A produção mais recente tentou manter a mesma dinâmica, porem trazendo outra forma de narrativa, o que pode deixar alguns acontecimentos bem confusos.

Harold, por exemplo, é um personagem que fica sem “fundo” por um bom tempo. Sendo um dos antagonistas, teria sido bom se fossemos apresentados a mais elementos de sua história. Aliás, isso é algo constante e sintomático da escolha dos criadores. Boone e Cavell optaram por não dar muita atenção no mundo pré-pandemia e já nos confrontar com um cenário pós-apocalíptico. Ressalto, novamente, que isso prejudicou o desenvolvimento dos personagens.

Apesar dos primeiros dois episódios fracos, a série encontrou o seu tom na terceira semana. O foco dado a Nick é muito importante, sua cena com o homem escuro é forte. A “origem” de Nick no livro é um pouco diferente. O foco de King fora em sua inocência, em sua grande bondade. Na série ele aparece menos idealizado. Ele ainda ajuda o agressor, é verdade, mas o roteiro nos entregou um personagem mais complexo.

O personagem de Larry também ganhou novos contornos, sobretudo com a inclusão da personagem Rita, ausente na versão anterior. Nadine é bem apresentada, com direito a uma cena de horror sobrenatural no flashback de sua infância. Apesar dos defeitos já mencionados, o personagem de Harold se torna melhor que o da versão anterior.

Alguns defeitos que podemos destacar que nos incomodam são, por exemplo, o fato de as pessoas falarem com Nick (um personagem surdo) de costas, não possibilitando sua leitura labial. Outro estranhamento dos fãs pode ser com o personagem de Ralph Brentner, que na nova versão tornou-se a descendente de indígenas Ray Brentner. A mudança de gênero não incomoda em momento algum, ela é muito bem-vinda. A crítica fica no fato de que a importância da personagem simplesmente desapareceu. Ray tem muito pouco tempo de tela e não faz parte nem mais da comissão diretiva.

Uma outra mudança deu-se no núcleo de Las Vegas. Tudo ficou mais caricato. Randall Flagg se tornou um verdadeiro showman. Porém, novamente, a série peca na construção da ameaça e se apoia no antagonismo Bem versus Mal. O maior sintoma dessa escolha é a subutilização do personagem do Homem da Lata de Lixo, interpretado por Ezra Miller. Sua importância na história se perde em meio a uma atuação completamente exagerada. O personagem só grita e geme, o que nos cansa rapidamente.

Até o sétimo episódio a série mantém um bom ritmo. A grande expectativa era realmente para os dois últimos, pois o próprio King havia adiantado que um final inédito havia sido escrito. Talvez tenhamos interpretado de maneira ingênua as palavras do grande escritor. O final original ainda está lá. O que há de novo é justamente um alongamento da história que, para falar de maneira sincera, não tinha necessidade de existir.

O roteiro suprimiu momentos antes do colapso da civilização, prejudicou o desenvolvimento de alguns personagens, acabou com o Homem da Lata de Lixo e nos privou da jornada de Tom e Stu para, no final, incluir um “e viveram felizes para sempre” na história de um dos casais. Não chega a ser uma conclusão ruim, mas visto o que foi sacrificado narrativamente, ficamos nos questionando sobre as escolhas de Boone e Cavell.

Para concluir, The Stand possui mais episódios bons do que ruins, mas ainda assim, fica abaixo da média. A produção sofreu com o advento de uma pandemia real e perdeu parte significativa da comunicação com a situação atual. Por fim, fica o elogio à excelente atriz Whoopi Goldberg, que dá um show no papel de Mãe Abigail.