Crítica | Those Who Walk Away

Those Who Walk Away
Data de Lançamento: 11/02/2022 (EUA)
Direção: Robert Rippberger
Distribuição: VMI Releasing

Com um currículo que conta com a direção de documentários e videoclipes, Robert Rippberger chega com um projeto audacioso para o seu segundo longa-metragem. Those Who Walk Away é um filme de 94 minutos filmado completamente em planos longos. Apesar de possuir alguns cortes, a maior parte das sequências são filmadas de maneira contínua e quase que em tempo real. 

Após se conhecerem em um aplicativo de relacionamento, Max (Booboo Stewart) e Avery (Scarlett Sperduto) marcam seu primeiro encontro. O que parecia ser um encontro casual se transforma em algo aterrorizante quando traumas antigos voltam para assombrá-los. 

É preciso dizer, a princípio, que toda a produção do filme foi realizada durante momentos críticos da pandemia. Logo, todos os ensaios foram realizados virtualmente, assim como a maior parte da passagem de texto entre os atores. As gravações foram realizadas em mais ou menos oito dias, segundo o diretor, e precisavam ser muito precisas pois, por trabalharem durante o fim de tarde/início da noite, qualquer erro podia ser sinônimo de perder um dia inteiro de gravação em prol da continuidade. 

Todo esse cuidado técnico fica explícito durante Those Who Walk Away. Desde a sua sequência inicial, onde acompanhamos uma conversa no telefone, ele já mostra uma teatralidade que vai ser a base para todo o filme, que realmente aparenta ser uma peça de teatro durante todo o tempo. 

É mencionado durante o filme o conto “Os Que Se Afastam de Omelas”, da escritora Ursula K. Le Guin, e é basicamente nessa obra que o filme se baseia – até mesmo em seu título – ao contar uma história que usa um subtexto de abuso sexual para deixar a situação ainda mais aterrorizante e pesada. 

Mas apesar do reconhecimento técnico, a forma com que as situações se desenrolam deixam um pouco a desejar. Se observarmos o filme de uma maneira mais subjetiva, considerando que os acontecimentos seriam todos psicológicos, talvez ele se segurasse melhor. Mas como o filme parte para acontecimentos mais “reais”, acaba trazendo algumas inconsistências em seu decorrer.

Max começa o filme com alucinações que representam seus traumas, mas que não influenciam em mais nada na história e se tornam redundantes quando praticamente todo o diálogo até então já explicava isso. O fato de Rotcreep (Nils Allen Stewart) – o vilão da trama – atacar apenas quando lhe é conveniente também incomoda. Existe a tentativa de explicar isso quando dizem que ele está “brincando com a comida”, mas, ainda assim, a expectativa pelo ataque dá lugar ao cansaço quando o antagonista aparenta ser mais observador da história do que nós.

Outra coisa que está alí mais para ressonar com o conto de Úrsula do que propriamente para a história do filme é o Rudy (Bryson JonSteele), que aparenta mais ser um adorno para comoção do que algo que condiz com o que foi estabelecido na história – mas aí entraríamos novamente em uma função mais ativa para Rotcreep do que a que nos é apresentada. 

Voltando para os aspectos técnicos, o visual do Rotcreep é, particularmente, muito bom e marcante. O personagem, que é interpretado pelo pai do protagonista, apesar de aparecer em medidas homeopáticas, sempre se mostra de maneira imponente e ameaçadora. O seu visual é completamente inspirado em monstros do imaginário infantil e, por incrível que possa parecer, faz com que ele seja muito mais verdadeiro dentro daquela história. 

Those Who Walk Away cria uma narrativa que se sai melhor como metáfora do que como algo mais literal, mas ainda assim apresenta ótimos momentos acompanhados por uma construção de tensão que vai de “oito a oitenta” muito rápido e, ainda por cima, vale prestar bastante atenção no filme para tentar descobrir onde estão os cortes.