Crítica | Um Lugar Silencioso – Parte II

Um Lugar Silencioso – Parte II
(A Quiet Place Part II)
Data de Lançamento: 10/06/2021 (EUA)
Diretor: John Krasinski
Distribuição: Paramount Pictures

Se há algo que Um Lugar Silencioso (2018) não fez, foi silêncio. A estreia do ator John Krasinski na direção de um longa fez foi muito barulho nas salas de cinema ao redor do mundo em 2018, fazendo do filme um dos sucessos de bilheteria e crítica mais representativos do gênero de horror até então. O final em aberto do primeiro longa foi o suficiente para deixar o público ansioso por mais cenas aflitivas envolvendo uma família tão envolvente. Pouco mais de 3 anos após o lançamento do filme, a tão aguardada sequência se apresenta e, se agrada por não abdicar dos elementos narrativos e técnicos que nos conquistaram desde os primeiros minutos de tela, também nos deixa com a impressão de que poderia e deveria ter ousado mais.

Se passando logo após os acontecimentos do primeiro filme, a narrativa, que se inicia com um curto flashback para contextualizar o surgimento das criaturas na Terra, acompanha a família Abbott (Emily Blunt, Millicent Simmonds e Noah Jupe) em sua constante busca por sobrevivência, em meio a monstros assustadores e com audição apurada. Obrigados a deixarem seu lar e buscar um novo abrigo, eles não somente irão perceber que as criaturas não são as únicas ameaças, como também que precisam buscar respostas e uma possível solução para a situação inexplicável e traumatizante que vivenciam há tempos.

A sequência felizmente mantém o ritmo frenético, as boas e irresistíveis cenas de tensão, a importância da união familiar e até o interessantíssimo e exímio uso do design de som como efeito prático. Continuamos a nos identificar com o lado humano dos personagens, a quem já possuíamos afeto, e que aqui continuam a ser bem explorados, ainda que menos do que no filme anterior. Mesmo com a valiosa descoberta de Regan (Millicent Simmonds) com seu aparelho auditivo ao final do primeiro filme, a família Abbot continua tendo que ter toda a cautela do mundo para evitar barulhos. John Krasinski ainda tenta pincelar uma profundidade dramática em alguns momentos, mas é evidente que, dessa vez mais do que nunca, o diretor aposta com todas as forças naquilo que mais conquistou seu público: a inquietação desenfreada dos eventos e a frequente insegurança vivenciada pelos personagens. E é exatamente aí que o roteiro encontra sua afiada faca de dois gumes.

Mesmo sustentando um ótimo nível de tensão em suas cenas – talvez em alguns momentos até maior que o que foi apresentado no primeiro filme – Um Lugar Silencioso – Parte II acaba por entregar simplesmente mais do mesmo, e engana-se o espectador que acredita que isso é o suficiente, pois, no fundo, todos queremos respostas ou ao menos algo realmente novo para nos surpreender. Além de não expandir minimamente o universo idealizado em seu filme antecessor, a sequência desperdiça a oportunidade de realmente nos emocionar com seus personagens. Um exemplo é o personagem de Cillian Murphy, que parece, na maior parte do tempo, deslocado da trama, longe de cumprir com a expectativa gerada no público desde a divulgação dos trailers e outros materiais promocionais. E, enquanto Emily Blunt continua se superando com o drama vivenciado por sua personagem, os jovens atores Noah Jupe e Millicent Simmonds ainda encontram certas dificuldades em transparecer suas expressões faciais com naturalidade.

Krasinski, que dessa vez assina sozinho o roteiro do filme, busca trazer a união familiar em seus diversos âmbitos, onde mesmo distantes seus membros são capazes de proteger uns aos outros. A mensagem de que é preciso acreditar na possibilidade de tornar o mundo melhor, ou ao menos mais fácil, rende ótimas cenas, que só não se fazem inspiradoras de fato por conta da necessidade da trama de cortá-las cedo demais, na intenção de manter o frenesi do mundo pós-apocalíptico. Mas deve-se exaltar o trabalho do compositor Marco Beltrami, que com suas músicas nos mantém aflitos e em alerta na maior parte do tempo, sem deixar de nos emocionar nas cenas mais comoventes. O editor Michael P. Shawver também merece seu mérito, por criar uma identidade própria para a montagem, traduzindo de maneira criativa e com cortes certeiros as semelhanças visuais e sonoras entre cenas que ocorrem num mesmo momento, mas em locais diferentes.

De forma segura e eficiente, mas pouco audaciosa, a trama de Um Lugar Silencioso – Parte II joga suas fichas na fórmula que tão bem lhe serviu 3 anos atrás. Mesmo sem descartar uma continuação, e podendo frustrar alguns espectadores que esperam por alguma inovação, o filme promete boas emoções, sustos e muito nervosismo para os fãs de um suspense convincente.