Crítica | VFW

VFW
Data de Lançamento: 27/02/2020
Direção: Joe Begos
Distribuição: Fangoria

 VFW é uma sigla ambígua, pode ser interpretada como Veterans Of a Foreing Wars, algo como veteranos de uma guerra estrangeira, mas é comumente utilizada nos Estados Unidos em tom depreciativo como Veterans Forgotten by Washington (veteranos esquecidos por Washington). É a partir desse jogo de palavras que o novo filme do diretor Joe Begos (Bliss, 2019), trabalha para falar sobre o envelhecimento dos heróis e conflito de gerações, tudo isso banhado a muito neon, brutalidade e sangue. Acreditem, o filme entrega o que promete.

Produzido sob a égide da produtora Fangoria, o filme VFW (EUA, 2019), traz tudo aquilo que você espera de algo produzido pelo legendário selo, que há mais de 40 anos é referência quando o assunto é horror, gore, violência e, ah, mais gore.

Isso pode ser um fator positivo ou negativo, dependendo do aspecto cinematográfico que o expectador procura. VFW é pura anarquia grotesca e violenta, onde não faltam corpos mutilados e cabeças explodidas. Pense neste filme como uma daquelas sessões da meia-noite proibida para menores, que seus pais nunca quiseram que você assistisse, mas que quando saía em VHS, você alugava e dava um jeito de assistir sem eles por perto.

A premissa do filme é interessante, Fred (o ótimo Stephen Lang, de Avatar e O Homem nas Trevas), é o líder de um grupo de militares veteranos (que conta com atores de renome como William Sadler e Fred Williamson), que se veem frente a frente com uma horda de “zumbis” que estão sob o efeito de uma nova droga chamada “Hype”. Os personagens linha-dura, bem ao estilo de filmes de ação dos anos 80, já sobreviveram ao Vietnã, Coréia e Afeganistão, e agora eles precisam encontrar um meio de sair de um bar decadente de Los Angeles, em meio à uma verdadeira guerra que está prestes a sair do controle.

Esta é a primeira vez que Joe Begos trabalha com um roteiro que não seja dele, mas não há nada que fuja do que estamos acostumados a ver no cinema do diretor. VFW é um festival de cabeças explodindo, membros decepados e outras mortes bastante elaboradas. Os viciados/zumbis chamados de “Hypeheads” que adentram o bar são massacrados como em um abatedouro (ou coisa pior), e tudo é feito com o que há de melhor em efeitos-visuais práticos, bem ao estilo do cinema do mestre John Carpenter nos anos 80.

Há quem não goste, mas este tipo de efeito provoca reações divertidas, os cadáveres prostéticos explodem como balões de carne quando lançados, dentre outras cenas igualmente impactantes. VFW transforma a barbárie em um divertido passatempo. Se o que você quer é sangue e gore, então prepare-se para um verdadeiro deleite.

O filme usa e abusa do subgênero exploitation e tem diálogos repletos de “sutilezas” entre os velhos companheiros, principalmente quando o roteiro aborda o fato deles não se identificarem com o mundo atual.

O elenco é uma experiência à parte, com ótimas atuações de William Sadler (Difícil de Matar, Duro de Matar 2) que faz às vezes do alívio cômico na trama, Martin Kove (o instrutor Krees da franquia Karatê Kid e da série Cobra Kai) que é pura força-bruta, Fred Williamson praticamente repetindo seu personagem de Um Drink no Inferno, como o hábil matador que viu sua diversão interrompida, pela chegada dos viciados/zumbis do filme.

Joe Begos mantém a pressão aplicada durante toda a narrativa, você pode sentir o ambiente sujo do bar onde a ação se desenrola, o que garante pontos para o ótimo design de produção. O filme é feito com cuidado aos detalhes, trazendo uma real sensação de cena urbana, luzes de neon com nomes de cervejas e as lâmpadas de diversas cores dão clima ao filme, enquanto a ação se desenrola sob um espectro avermelhado que culmina num excelente trabalho de fotografia. Tudo isso com um orçamento limitado.

VFW pode ser resumido como uma espécie de cruzamento infernal entre Os Mercenários (2010) e Um Drink no Inferno (1996). Aquele tipo de filme em que qualquer coisa pode ser usada como arma (desde mastros de bandeira até tacos de bilhar), para estraçalhar corpos sem remorso. Ainda que para alguns seja algo vil, repugnante e até inumano, para os fãs de um belo exemplar do gênero Grindhouse, é um divertido passeio. O filme não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming.