Crítica | X: A Marca da Morte

X: A Marca da Morte
(X)
Data de Lançamento no Brasil: 11/08/2022
Direção: Ti West
Distribuição: PlayArte

Slashers já são praticamente um patrimônio cultural no cinema de horror. Passando por clássicos como Halloween (1978) e Sexta-Feira 13 (1980) até a onda de renovação nos anos 90 com Pânico (1996) e culminando com as novas produções do século XXI, o subgênero mostra todo a sua criatividade e poder de renovação ao longo das décadas. Não é de se estranhar que quando foi anunciado que o diretor Ti West dirigiria um distribuído pela queridinha A24 todas as atenções se centraram na produção, que finalmente chega aos cinemas brasileiros na próxima semana, no dia 11 de agosto.

Ti West já é um velho conhecido dos fãs de horror, tendo dirigido algumas ótimas produções como o excelente A Casa do Diabo (2009) e o segmento Second Honeymoon no found footage V/H/S (2012). Se o estadunidense já havia demonstrado todo seu potencial nos longas anteriores, com X: A Marca da Morte ele se consolida e ascende para um novo patamar dentro do gênero.

Ambientado em 1979 no estado do Texas, o filme acompanha um grupo de artistas que se reúne para gravar um filme pornográfico em uma propriedade rural pertencente a um casal idoso e pouco amigável, Pearl e Howard. Tudo corre relativamente bem com as filmagens de As Filhas do Fazendeiro até o cair da noite, quando pessoas começam a desaparecer e o elenco precisa lutar para sobreviver.

A premissa em si é bastante simples e não parece muito original, reunindo diversos elementos clássicos dos slashers: jovens em uma propriedade isolada com muito sexo, bebida, drogas ilícitas e um assassino à solta. Apesar de partir da obviedade, X consegue subverter muitos desses tropos narrativos, entregando um ótimo e divertido filme de horror.

Os acertos começam com a escolha do elenco, liderado por Mia Goth. A atriz vive tanto Maxine, uma jovem atriz pornô que luta pelo sucesso e reconhecimento, quanto a decrépita Pearl, uma ex-bailarina que lamenta sua idade e inveja a juventude alheia. Goth alterna muito bem entre as personagens e pavimenta com confiança seu caminho dentro do cinema de horror. Outros destaques vão para Jenna Ortega como a tímida Lorraine e Brittany Snow que vive a carismática Bobby-Lynne. Carisma, na verdade, é o que não falta para todo o elenco. É surpreendente como somos agraciados com personagens cativantes e interessantes, longe dos estereótipos já conhecidos dos slashers.

Talvez justamente na intenção de entregar personagens desenvolvidos e mergulhar o espectador na história é que o filme derrapa um pouco em seu ritmo, que às vezes pode ser considerado um pouco lento. Contudo, os diálogos inteligentes sobre sexo e indústria cinematográfica, assim como a bela fotografia e alguns momentos de tensão muito bem construídos, com certeza fazem valer o ritmo mais lento. A ação pode até demorar para acontecer, mas quando acontece não falha e o caminho até ela é bastante prazeroso.

Construindo uma boa ambientação, X com certeza vai agradar aos fãs de horror com suas homenagens a filmes como O Massacre da Serra Elétrica (1974) e Devorado Vivo (1976), ambos dirigidos pelo saudoso Tobe Hooper e roteirizados por Kim Henkel. O enredo também acena aos filmes exploitation dos anos 70 e à indústria pornográfica da época.

Se caísse nas mãos erradas, a história poderia ser mais um slasher conservador e puritano que demonstra os perigos do sexo e de uma vida considerada “alternativa”. Mas isso está longe de acontecer aqui. Na verdade, o longa consegue tecer algumas boas críticas a esse argumento tão recorrente em produções estadunidenses dos anos 80. O problema aqui não é o sexo, mas sim a repressão e uma sociedade moralista e intransigente.

Outro ponto bastante positivo é como o filme consegue equilibrar simultaneamente ótimos momentos de horror com reflexões pertinentes sobre envelhecimento, padrões de beleza e sexualidade. A dicotomia juventude/velhice, representada brilhantemente por Maxine e Pearl, é fantástica e ilustra perfeitamente tudo isso. O corpo envelhecido e a repulsa da sociedade perante ele rendem cenas que entregam muito bem um horror corporal com pitadas de carga dramática.

No geral, X é um filme que cumpre o que promete, demonstrando que merece toda a atenção recebida. É mais uma prova de que os slashers ainda têm muito o que oferecer ao cinema de horror e estão mais vivos do que nunca.