Crítica | Yellowjackets (1ª Temporada)

Yellowjackets (1ª Temporada)
Data de Lançamento: 14/11/2021
Criação: Ashley Lyle e Bart Nickerson
Distribuição: Paramount+

Apesar do elenco de peso, Yellowjackets, série do canal Showtime, chegou sem alarde e foi ganhando no boca-a-boca o título de uma das melhores séries do ano. O seriado que mistura drama de sobrevivência e terror psicológico finalizou sua primeira temporada domingo (16), apresentando uma trama complexa e envolvente até seu último minuto. 

Em Yellowjackets acompanhamos duas linhas do tempo: em 1996, um time adolescente de futebol feminino sofre um acidente de avião e as atletas acabam presas na selva, precisando lutar para sobreviver enquanto esperam o resgate. Já no ano de 2021 acompanhamos quatro dessas garotas, agora adultas, lidando com os traumas remanescentes do acidente e com os acontecimentos sombrios que começam a se desenrolar. 

Shawna (Melanie Lynskey) precisa lidar com um casamento fracassado e uma filha pela qual ela não sente afeto, Taissa (Tawny Cypress) tenta esconder seus traumas de sua família enquanto luta para vencer uma eleição, Natalie (Juliette Lewis) parte numa investigação para saber o que aconteceu de verdade com alguém que estava com elas no acidente e Misty (Christina Ricci)… Misty é um caso à parte.

Tanto o elenco jovem quanto o adulto estão super afiados e não deixam a série perder intensidade em momento algum, no entanto, é essencial reconhecer que tanto Ricci – que estava grávida durante as gravações da temporada! – quanto Samantha Hanratty (intérpretes de Misty adulta e adolescente, respectivamente) roubam a cena sempre que presentes. 

Yellowjackets tem seu horror conectado ao amadurecimento feminino – como em Carrie – A Estranha, por exemplo –, e explora personagens fortes e marcadas por um passado sombrio, brincando com as expectativas e possibilidades com uma maestria admirável. A forma com que somos apresentados às personagens não nos faz tratá-las como vítimas ou frágeis. Elas estão em desvantagem contra a natureza, mas farão o necessário para se manter vivas.

A transformação das adolescentes durante o tempo que passam expostas à selva enquanto recorrem a medidas extremas é, a princípio, bem mais atrativa do que os acontecimentos do presente. Porém, com o desenvolvimento das tramas, 2021 ganha uma importância igual a de 25 anos atrás – ou até mais.

Grande parte das obras que mesclam passado e presente acabam perdendo um pouco o senso de urgência – tendo em vista que, aqui, conhecemos pelo menos quatro sobreviventes – mas já no piloto de Yellowjackets, dirigido por Karyn Kusama (Garota Infernal, 2009), o grotesco acaba atiçando a curiosidade para saber o que de fato aconteceu com as garotas. E outra reviravolta interessante do desenvolvimento da série é que, apesar de o que é mostrado no piloto ser algo que chama a atenção, o “como chegamos até esse ponto” se torna tão importante quanto o “acontecimento” em si.

Como já citado, a série é, em sua maior parte, uma trama de situação limite com um terror psicológico instaurado, porém, a todo momento existe uma aura de ameaça sobrenatural que deixa a condução da história confusa (num bom sentido) e ainda mais instigante. A cada acontecimento crescente da série essa sensação de “algo maior” fica cada vez mais palpável e deixa a mitologia cada vez mais rica.

A série partilha similaridades ao livro O Senhor das Moscas (1954), ao caso real do time de rugby do Uruguai que ficou preso nos Andes – retratados no livro Alive: The Story of the Andes Survivors (1974) e o filme Vivos (1993) –, a série do Prime Video, The Wilds: Vidas Selvagens (2020-) e, obviamente, Lost (2004-2010). Mas ainda assim é possível ver que Yellowjackets possui uma identidade própria que a eleva a uma obra independente de qualquer resquícios de outras produções similares. 

Sem dúvidas a primeira temporada de Yellowjackets foi um presente aos fãs de horror. Com personagens humanos, falhos e multidimensionais você pode até não concordar com o que elas fazem, mas provavelmente vai conseguir entender suas motivações. O melhor de tudo? A segunda temporada já foi confirmada e tem previsão de lançamento ainda esse ano.