Dominação

Dominação
(Incarnate)
Direção: Brad Peyton
Data de Estreia no Brasil: 05/01/2017
Distribuição: Playarte Pictures

Há histórias simples que merecem uma abordagem simplificada, mas há também histórias de potencial dramático e temático que quando relegadas a uma representação simplista, acabam por soar não só medíocres, mas também frustrantes. “Dominação” tem em sua premissa uma mistura clara de “O Exorcista” e “A Origem”, mas ancorada em uma estrutura de roteiro e linguagem visual concebidos com uma enorme preguiça e superficialidade, tornando-se assim uma experiência vazia e completamente previsível, que embora não aborreça o espectador, sempre soa uma produção burocrática e esquecível.

Sei que certamente a combinação entre os dois filmes citados acima soou interessante ao leitor, já que se tratando de perspectivas completamente diferentes ambos os longas possuem uma legião de fãs. Eu mesmo nos primeiros minutos de filme me vi ao menos engajado com a narrativa ao ser apresentado ao Dr. Ember (Aaron Eckhart), um cientistas com a habilidade de adentrar no subconsciente de pessoas que se encontram possuídas por entidades parasitas, realizando um expurgo de tal ser (o personagem tende a não aceitar a palavra “exorcismo” para suas práticas). Paraplégico, deprimido e alcoólatra, Ember se encontra frente ao caso de possessão do garotinho Cameron (David Mazouz), tornando a sua luta contra o mal uma jornada de auto-sacrifício relevante a acontecimentos do seu passado.

É justamente ao apresentar um personagem tão mal-humorado e competente que o filme acaba por nos envolver em sua história, já que o Dr. Ember é uma criatura multifacetada em sua caracterização… Mas nunca passa disso, já que a direção de atores preguiçosa de Brad Payton acaba por perder uma gama de possibilidades de ampliar a complexidade dos personagens. Assim, os atos muitas vezes frios do protagonista frente a mãe do garoto (interpretada de forma apática Carice Van Houten) acabam soando um mero desperdício do paralelo óbvio que poderia ser traçado entre a situação da mulher e o passado trágico de Ember – algo que realçaria ainda mais um arco dramático do personagem, ou uma complexidade frente a forma com que o próprio já enfrentou tragédias em sua vida. Ainda que Eckhart se esforce bastante em sua composição, Payton perde oportunidade de tornar Ember e um humano atormentado pela dor, construindo somente um ser que esboça seus sentimentos apenas com as palavras impressas no roteiro.

Mas a mediocridade de Payton não para por aí, já que o realizador parece não ter a menor idéia de como criar um suspense de forma crescente em sequencias que facilmente poderiam render momentos de tensão. Payton acaba criando quadros óbvios que antecipam de onde vem o susto (sempre jogados na tela com acordes altos de piano ou após uma música ensurdecedora se calar), atirando enquadramentos aleatórios que tornam a experiência completamente enfadonha por não aparentar qualquer lógica visual que minimamente nos faça sentir qualquer receio quanto aos acontecimentos que se estendem ao longo do filme – algo ainda mais gritante quando percebemos que não ligamos a mínima para qualquer personagem presente em cena, já que o diretor nunca da um tratamento que revele qualquer possibilidade de empatia por parte do espectador, mesmo que o filme apresente diversos acontecimentos de potencial dramático.

Contudo, não se pode jogar tudo nas costas de Payton, já que o roteiro funciona apenas de maneira correta e completamente previsível, desde o destino de cada um dos personagens, até mesmo objetos que nos são apresentados de forma escancarada ainda que de relance (paradoxal, eu sei), como uma determinada substância ou um vidro “inquebrável”, já que a montagem e a mixagem de som (que interrompe a trilha sonora em momentos “chave”) fazem questão de chamar sua atenção, escancarando como o suspense é criado de maneira amadora ao praticamente gritar “Olha, gente, aqui vai um susto!”. Ainda, o script aposta em mostrar uma revelação “importante” sobre o passado do personagem não só em formas de flashbacks, como ainda presos em diálogos expositivos pouco antes de seu ato final. E se tal técnica de roteiro não é uma das formas mais burocráticas e pouco imaginativas de se apresentar informações relevantes, eu não sei o que é.

Contado de forma desleixada, “Dominação” distribui conceitos e elementos que julga ser importante para a narrativa poucos instantes antes de eles serem utilizados , o que revela ainda mais sobre a negligência com a qual o projeto foi tratado. De uma forma geral, as atuações são corretas, o roteiro é preguiçoso, mas ainda assim coerente, a montagem é formulaica e a direção é um trabalho cheio de insegurança, o que torna este filme de “terror” uma abordagem completamente sem graça de uma premissa absurda, mas que poderia ser ao menos divertida. Qualquer outro filme te fará esquecer em segundos da existência deste, ainda mais quando pensar que em 2016 tivemos bons momentos como a ambientação de “A Bruxa”, a direção energética de Wan em “Invocação do Mal 2”, ou mesmo a empatia nostálgica de “Ouija: Origem do mal”, que foram grandes expoentes do que o terror é capaz de fazer, algo que cria uma um sentimento de esperança pra um futuro promissor no gênero… Ai ai … Do que eu tava falando mesmo?