Drácula (1ª temporada)

Drácula
(Dracula)
Distribuição: Netflix/BBC
Criadores: Mark Gatiss e Steven Moffat

Drácula é, sem dúvidas, um assunto delicado para mim. Por já ter trabalhado com o romance, costumo ser mais chato do que o normal com as produções inspiradas na criação do irlandês Bram Stoker. Desde que Nosferatu (1922) foi filmado, uma grande leva de filmes sobre vampiros surgiu. A criatura conquistou um lugar cativo na cultura pop.

A minissérie produzida pela BBC em parceria com a Netflix demonstra ter percepção da carga de responsabilidade que o nome Drácula traz a uma produção. A atuação de Claes Bang é quase impecável. Ao longo dos três episódios são feitas diversas referências aos dráculas de Bela Lugosi, Cristopher Lee e Gary Oldman – além de referenciar O Vampiro (1819) de John Polidori. Em vários momentos a série lembra uma produção da Hammer, famosa por suas muitas versões de Drácula.

Seguindo a mesma estrutura de Sherlock (2010-), a série se inicia em 1897 – data de lançamento do livro de Stoker. O primeiro episódio é o mais fiel à obra original, apesar de tomar diversas liberdades que podem incomodar fãs mais detalhistas. Com direito a frases clássicas do conde, esse primeiro terço de temporada se passa no tenebroso castelo, que nessa versão se torna um verdadeiro labirinto. O doutor Van Helsing se torna a irmã Agatha (Dolly Wells). Uma escolha bastante interessante e que tinha muito potencial. Infelizmente a série optou por outros caminhos.

O segundo episódio é muito sagaz em tratar da viagem de navio até a Inglaterra, uma passagem que não é abordada no livro. Stoker nos disponibilizou apenas a conclusão: o navio chegou ao seu destino sem passageiros. Apesar de alguns personagens interessantes – e outros mal explorados, como o dr. Sharma – o gancho para o terceiro episódio causa um grande estranhamento, pois nesse momento a série mostra no que se diferencia da história original.

O terceiro episódio mostra um Drácula já habituado ao mundo contemporâneo. O nobre vampiro até mesmo caça vítimas em aplicativos de paquera. Alguns personagens clássicos como Lucy, Renfield e Seward nos são apresentados. Dolly Wells volta para um segundo papel, o de dra. Helsing, parente da religiosa que confrontou o conde no século XIX. Este último episódio da temporada é, sem dúvidas, o mais fraco dos três e apresenta uma conclusão de gosto bastante duvidoso.

Por fim, a produção BBC/Netflix foi exímia em despertar dois sentimentos: contentamento e estranhamento. Parece que a cada instante que estamos gostando da história e nos envolvendo com os personagens, ela nos apresenta um elemento estranho que nos descola da experiência. Moral da história: se você for um morto-vivo, tenha sempre um advogado por perto.