Green Room

Sala Verde

(Green Room)

Data de Estreia no Brasil: sem previsão

Direção: Jeremy Saulnier

Distribuição: A24

A principal arte feita para a divulgação de “Green Room” é simplesmente brilhante. O poster emula a famosa pose de Syd Barret na capa do aclamado “London Calling” do The Clash, inserindo a figura do protagonista Pat (Anton Yelchin) em um pano de fundo desagradável e hostil. Além de seu imenso valor artístico e capacidade de intrigar quem olha, o poster também delimita perfeitamente a principal temática do filme: uma situação desagradável que repentinamente se torna absolutamente hostil aos envolvidos. Não pretendo entregar muito da sinopse, pois a experiência de “Green Room” é melhor construída de maneira gradual ao assistir o filme. O que posso adiantar é que Pat, Reece, Sam e Tiger são integrantes de uma banda punk e estão na estrada fazendo uma tour. Precisando de dinheiro e sem perspectivas concretas de obtê-lo eles acabam por aceitar tocar em um bar neo-nazista. A partir daí desenrola-se um trhiller com elementos de horror, ação e violência. Muita violência.

Assim como o recente “O Homem nas Trevas”, “Green Room” tem um calmo início que é muito eficiente em estabelecer as personalidades e dinâmicas presentes no grupo de protagonistas. Tal desenvolvimento do primeiro ato é essencial para o restante do filme, pois, volto a insistir, o terror eficiente é aquele que consegue fazer com que o publico realmente se importe com as vidas que estão sendo ameaçadas. Essenciais para que o thriller não soe artificial são também as boas performances de todo o elenco (principalmente o infelizmente falecido Anton Yelchin) e a forte violência gráfica presente no filme, muito bem utilizada por Jeremy Saulnier, não só para chocar mas também criar no público um forte sentimento de realismo e consequência. Rapidamente percebemos  que o terror daqueles personagens é mais do que real, é palpável.

Falando no diretor, “Green Room” é conduzido de forma muito competente por Saulnier. O cineasta utiliza muito bem a câmera lenta e uma paleta de cores vibrante para criar um enorme contraste entre o primeiro ato do filme e o restante de seu desenvolvimento. Há uma clara mudança de atmosfera quando os personagens adentram o bar neo-nazista onde boa parte do restante do filme se passará, transmitindo uma ideia pungente de claustrofobia e inevitabilidade que acompanha o filme até seu término. Grande mérito deve ser dado também à edição, que se utiliza de competentes transições rápidas para dar uma sensação de movimento fluido ao filme, tendo também a seu favor uma curta duração (um pouco menos de 90 minutos) para conseguir um ritmo envolvente e vibrante.

Um elemento muito bem explorado pelo filme é o neonazismo como principal característica de seus antagonistas. A distorcida ideologia de superioridade racial é o que move todas as peças da trama e é a responsável direta pelos principais acontecimentos. Um mérito do filme, no entanto, é não explorar isto de maneira muito frontal e exposicional, mas de uma maneira tangencial, fazendo com que sua presença opressora se manifeste ao longo de todo o filme como algo onipresente, ainda que parcialmente oculto. Interpretando o líder do grupo e dono do bar Darcy, Patrick Stewart é perfeito ao incorporar em sua figura calma e implacável todos os elementos de ódio e sociopatia de tal grupo. Stewart é perfeito porque em nenhum momento se esforça demais para marcar sua presença em tela, deixando que seu personagem converta-se em um símbolo, uma mera representação daquele que é o verdadeiro vilão deste filme.

Apesar de muito competente, “Green Room” tem alguns problemas que não lhe permitem ganhar um “score” perfeito de cinco estrelas. O roteiro opta por explorar não só seus personagens principais, mas também o grupo de antagonistas. Isso por si só é uma decisão muito acertada. O problema é a maneira um tanto atropelada e desinteressante com que isto é feito: os diálogos entre os membros do grupo são simplesmente incompreensíveis. Entendo a intenção de criar um estranhamento entre o público e o que aqueles homens que partilham sentimentos muito específicos estão dizendo, porém isso acaba por se tornar desestimulante. Suas pretensões e ações são confusas e muitas coisas simplesmente ocorrem no filme sem parecer haver muito propósito. Algumas subtramas poderiam ter sido removidas do filme sem muito prejuízo e resultado em um suspense ainda mais competente em sua objetividade. Como está, “Green Room” é um filme incrivelmente bem pensado e executado, um trhiller extremamente competente que conta com um forte subtexto e tem algo interessante a dizer. Em resumo: mais um ótimo filme de horror de 2016.

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