Hush

Hush – A Morte Ouve
(Hush)
Data de Estréia no Brasil: 08/04/2016
Direção: Mike Flanagan
Distribuição: Netflix

Em todos os sentidos “Hush” é um filme extremamente contido. Filmado em apenas 18 dias, a película conta com apenas 15 minutos de diálogo ao longo de seus 80 e poucos minutos de duração total. O motivo dessa ausência de falas se deve ao reduzido número de personagens (apenas 6 aparecem durante todo o filme, e um deles é um gato) e principalmente ao foco do filme: o suspense. Há na premissa de “Hush” um elemento extremamente simples, mas que tem a capacidade de influenciar tudo o que vem a seguir: a personagem principal, Maddie, é surda. Essa pequena mudança de premissa leva a uma enorme mudança no roteiro e na realização do filme, visto que o gênero de horror tradicionalmente se apóia muito nos efeitos sonoros para a criação de suspense, como por exemplo os passos de alguém se aproximando. Podendo confiar apenas em sua visão, Maddie eleva ao máximo aquela estrutura irônica em que o público percebe muito mais o que está acontecendo com a personagem principal do que ela própria.

Com sua duração bastante reduzida, “Hush” tem um primeiro ato extremamente compacto e pragmático, apresentando de maneira rápida e eficiente sua protagonista, explorando de maneira sutil e inteligente o elemento de sua surdez e o cenário em que se encontra, e partindo subitamente para o segundo ato, um thriller na mais clara concepção da palavra. Todos os elementos apresentados em sucessão nos primeiros minutos de filme são muito bem utilizados quando um psicopata chega até a casa de Maddie. A partir deste ponto “Hush” desenvolve muito bem uma dinâmica de gato e rato, com Maddie presa dentro de sua casa e o assassino observando cada um de seus passos do lado de fora.

Apesar de um aparente baixo orçamento, nada em “Hush” soa amador ou mal feito. Tudo no filme apresenta ao público um aspecto de ter sido muito bem planejado e executado. A direção do experiente Mike Flanagan é muito competente ao explorar a principal característica da protagonista, escolhendo muito bem o que mostrar ao público e quando o fazer. Os aspectos mais técnicos do filme, como por exemplo a mixagem e edição de som, são todos muito bem feitos, com um grande destaque à iluminação e design de produção. O primeiro porque consegue encontrar um equilíbrio ótimo entre um ambiente escuro que contribua na construção da atmosfera de suspense mas permita ao público enxergar a ação dos personagens. Já o segundo é crucial para o desenvolvimento da narrativa, visto que quase toda ela se desenvolve dentro da casa da protagonista.

A atuação de Kate Siegel (Maddie) é muito boa, e a atriz inclusive divide os créditos do roteiro com Flanagan. Os outros dois atores, Michael Trucco (John) e Samantha Sloyan (Sarah) cumprem bem o papel que o roteiro lhes designa. Minha maior crítica em relação ao filme se concentra no assassino, que não possui sequer um nome, e muito menos algum desenvolvimento, sendo utilizado apenas para atormentar a personagem principal. Essa falta de desenvolvimento é um desperdiço do ator John Gallagher Jr., que demonstrou talento em “Rua Cloverfield, 10”. Um psicopata melhor construído, ou pelo menos minimamente pensado, teria certamente contribuído muito para resultado final do filme.

De maneira geral, “Hush” tem muito a acrescentar ao gênero de horror no momento. Lançado diretamente em uma plataforma de streaming, com um baixo orçamento e uma premissa simples, mas criativa, o filme tem muito a ensinar aos enormes clichês do gênero que são produzidos em massa atualmente, buscando somente o lucro fácil. “Hush” é a prova de que não precisa muito para fazer um bom filme de horror, mas pelo menos um pingo de originalidade é absolutamente indispensável.