Jurassic World: Reino Ameaçado

Jurassic World: Reino Ameaçado
(Jurassic World: Fallen Kingdom)
Data de Estreia no Brasil: 14/06/2018
Direção: J.A. Bayona
Distribuição: Universal Pictures

Assim como aconteceu com os slashers no final dos anos 80, o paralelo entre a trama deste novo “Jurassic Park” e sua própria produção é hilário: assim como o famoso Parque dos Dinossauros, a franquia, iniciada há 25 anos atrás, simplesmente se recusa a morrer. Mesmo sabendo que não há absolutamente nada que se possa mostrar ao público atual que chegue sequer próximo ao deslumbramento causado em todos que assistiram, em 1993, seres extintos há milhões de anos atrás ganhando vida em tela, os produtores (e nisso está incluso o próprio Spielberg) de “Jurassic” simplesmente se recusam a desistir de tentar. Por quê? Basta olhar a bilheteria de “Jurassic World” (2015) para perceber: assim como aconteceu com cada reiteração do parque dentro do universo dos filmes, as pessoas simplesmente continuam aparecendo para se maravilhar com os dinossauros. No caso dos filmes em si, uma parte do público vai ao cinema para tentar resgatar aquele sentimento de admiração de outrora, agora envolto pelo véu engrandecedor da nostalgia; outros simplesmente porque… bem, é inegável que ver dinossauros recriados digitalmente perseguindo pessoas continua sendo enormemente divertido.

Esta nova iteração da franquia, que recebeu no Brasil o subtítulo de “Reino Ameaçado”, continua sua trama aparentemente alguns anos após “Jurassic World” (2015) . Portanto, a narrativa começa a se desenrolar quando – através de uma enorme quantidade de diálogo expositivo – aprendemos que a Ilha Nublar, onde os dinossauros viviam livremente desde o fim do novo parque, está ameaçada por um vulcão prestes a entrar em erupção. A metáfora de uma nova extinção dos dinossauros, que serve aqui para propelir a narrativa, só não é mais forçada do que absolutamente conveniente, marcando a primeira de inúmeras facilitações narrativas presentes ao longo de todo o roteiro de Colin Trevorrow e Derek Conolly. Os furos, forçadas reviravoltas de trama e arquétipos de personagens são tão óbvios que até alguém que nunca viu “Jurassic Park” na vida (se é que esta pessoa existe) seria capaz de adivinhar a estrutura geral de toda a trama após apenas alguns minutos. Assim, em um plot que recicla temáticas do segundo e do terceiro filmes da franquia, Claire (Bryce Dallas Howard) é convencida por Eli Mills (Rafe Spall), gestor da fortuna do conveniente parceiro milionário de John Hammond, Benjamin Lockwood (James Cromwell), a ir até a ilha auxiliar uma missão de resgate dos dinossauros. Obviamente ela é capaz de convencer Owen (Chris Pratt) a ir junto e tenho certeza que vocês podem presumir o que acontece a partir daí.

Em alguns breves momentos de “lucidez”, “Reino Ameaçado” consegue brincar com estes clichês e estrutura batida de roteiro que aplica, transformando em alívio cômico a obviedade do próximo passo a ser dado pela estória. Isso acontece, por exemplo, na cena em que Claire, após conversar com Owen em um bar e sair enfurecida avisando-o do local da partida, aguarda sua chegada junto ao avião prestes a decolar em direção à Nublar. Há neste ponto uma “brincadeira” do roteiro com nossas expectativas, que funciona como alívio cômico e torna o tom do filme mais leve antes da surpreendente tensão que se seguirá. No entanto, este “episódio” trata-se de uma mera exceção, pois no geral “Reino Ameaçado” apresenta praticamente nenhuma originalidade. A revoltante preguiça dos roteiristas é tamanha que eles não demonstram sequer a capacidade de copiar bons filmes e boas estruturas de roteiro e personagens. Pode-se argumentar, aliás, que “Jurassic World” em si já é praticamente uma cópia de “Jurassic Park” (1993). A principal diferença. porém, é que o filme de 2015 consegue ser uma boa experiência pois copia aquilo que havia funcionado. “Reino Caído”, no entanto, tem a capacidade de copiar as sequências de “Jurassic Park”, que já eram ruins apesar de sua “originalidade”.

De “Jurassic Park III” (2001), “Reino” suga diretamente a ideia de pessoas indo até a ilha sem a existência de um parque, bem como a subsequente luta pela sobrevivência que obviamente virá a seguir. De “O Mundo Perdido” (1997) os roteiristas puxam o roteiro desnecessariamente inchado, que se auto sabota ao abrir mão de uma narrativa compreensiva em troca de uma grande quantidade de personagens, que em sua maioria se provam ao final simplesmente dispensáveis. Potencializando a sensação que tenho com a própria franquia, que se recusa a morrer, “Reino Ameaçado” estica sua narrativa à uma duração inexplicável de 230 minutos, com uma estrutura bizarríssima de cinco atos que destrói o ritmo do filme e acaba por torná-lo simplesmente chato a partir de um ponto. Enquanto “Jurassic World” conseguiu, pelo menos na minha visão, manter o interesse em sua trama (por mais que possuísse alguns elementos ridículos), “Reino Ameaçado” tropeça nas próprias pernas e acaba virando uma experiência cansativa, bem a exemplo de “Mundo Perdido”.

E, apesar da minha enorme preguiça para com a franquia, não considero “Reino Ameaçado” em momento algum um filme ruim. Pelo contrário: uma condução segura da direção por parte de Bayona – acho a cena de abertura aqui inclusive muito melhor que a de “Jurassic Park” (1993) – um CGI incrível na reconstrução das criaturas e atuações carismáticas de Chris Pratt e Bryce Dallas Howard conseguem constituir uma experiência bastante satisfatória, principalmente ao longo de seu segundo ato, que contém até mesmo algumas cenas genuinamente tensas. Entretanto, a insistência em plots e personagens secundários desnecessários, como o alívio cômico irritante de Justice Smith como Franklin, a criança chata da vez (neta de Lockwood) e o caçador/vilão irritantemente previsível de Ted Levine (sem contar o outro vilão extremamente óbvio que só não mencionarei porque sei que há ainda alguns puristas de spoilers), tornam a ação do terceiro ato simplesmente desinteressante. Mais do que um “bonitinho, mas ordinário”, “Jurassic World: Reino Ameaçado” é uma amálgama de todos os elementos batidos e rasos da franquia Jurassic Park. Por conta desta natureza completamente derivada e preguiçosa, o filme leva a nota mais mediana possível, em uma tentativa minha de descrevê-lo em toda sua mediocridade: “meeeeeeeh”