Mal Nosso

Mal Nosso
(Our Evil)
Data de Estreia no Brasil: 14/03/2019
Direção: Samuel Galli
Distribuição: O2 Play

Lançado comercialmente nas salas de cinema durante a primeira metade de 2019, o filme Mal Nosso, de Samuel Galli, chega finalmente à Netflix buscando um público específico, consumidor do nosso escasso terror brasileiro. Gerando altas expectativas nos amantes de terror desde sua boa recepção em festivais internacionais, o filme tenta criar uma relação entre forças malignas sobrenaturais e a falta de escrúpulos de assassinos e pessoas mal intencionadas, enquanto estipula reflexões sobre a esperança que possuímos frente a situações difíceis, e sobre o destino que nos cerca.

A trama nos apresenta logo de cara Arthur (Ademir Esteves), um homem dedicado que se mostra apreensivo em relação à sua filha Michele (Luara Pepita), que está prestes a entrar na faculdade. Arthur mantém oculto um segredo desde sua adolescência sobre algo que pode colocar a vida de sua filha em risco, e então decide acessar a Dark Web e contratar os serviços de um assassino profissional chamado Charles (Ricardo Casella). Aos poucos, conforme as intenções de Arthur se revelam, a história dá início à uma narrativa aterrorizante.
Desde o início notamos que o enredo aposta em não nos revelar com rapidez os propósitos do protagonista, e também percebemos que não estamos diante de uma trama objetiva que busca causar uma imediata reação de medo ou tensão no espectador. Em Mal Nosso, é necessário se doar ao ritmo lento de desenvolvimento da história e acompanhar suas camadas para que possamos sentir medo. Infelizmente, é exatamente esse ritmo um dos maiores responsáveis pelos problemas do longa. Nos sentimos na maior parte do tempo cansados, e não nos vemos presos diante da narrativa devido ao extremo cuidado que o roteiro busca elaborar seus personagens, e acabamos apenas ansiando por sustos baratos e efeitos práticos assustadores que compensem o tempo investido. Ao menos, através da maquiagem (realizada pelo mestre Rodrigo Aragão), de fato o filme nos impressiona com suas aparências grotescas.
Os enquadramentos propostos por Galli, juntamente a direção de arte e a fotografia, funcionam para criar um clima misterioso e transmitir um certo pessimismo que se constrói gradativamente, algo que de relaciona com a própria natureza maligna tanto do sobrenatural presente na obra, quanto das próprias intenções de Charles, o assassino. Ainda assim, o filme perde tempo demais em cenas pouco necessárias e deixa buracos vazios que poderiam muito bem ser preenchidos por sequências interessantes de tensão, ou que simplesmente acrescentassem mais e instigassem nossa compreensão da história.
Com uma trilha musical bem trabalhada, mas com atuações abaixo da média e uma história que beira o cansativo e o mal amarrado, Mal Nosso acaba se tornando mais um filme de terror nacional que tenta decolar em um cenário já pouco valorizado, mas que infelizmente acaba no mesmo poço de problemas que tantas outras obras medianas se encontram.