Maria e João: O Conto das Bruxas
(Gretel & Hansel)
Data de Estreia no Brasil: 20/02/2020
Direção: Oz Perkins
Distribuição: Imagem Filmes
Oz Perkins é, desde já, um dos grandes nomes do “elevated horror” (antes chamado de pós-horror) atual. Juntamente com diretores como Ari Aster, Robert Eggers, Jennifer Kent, Jordan Peele e até Mike Flanagan, o homem sabe definitivamente utilizar o poder da sugestão e da sutileza para criar cenas extremamente sufocantes e medonhas. Como já havia feito em suas obras anteriores, “A Enviada do Mal” (2015) e “O Último Capítulo” 2016), o cineasta encontra facilidade em nos manter presos em uma história fascinante com personagens cativantes. No caso da história de João e Maria, que embora conheçamos muito bem, somos frequentemente surpreendidos por uma nova abordagem de terror mais do que convincente.
Baseado na história dos Irmãos Grimm, durante a idade média em um período conhecido como “A Grande Fome”, acompanhamos os irmãos Maria (Sophia Lillis, de IT, novamente impressionando) e João (Samuel Leakey), que após serem expulsos de casa por sua mãe, recém-viúva, vagam pela floresta em busca de abrigo e comida. Após encontrarem uma casa afastada, se deparam com a dona, de nome Holda (Alice Krige), uma mulher misteriosamente assustadora que lhes oferece fartura e trabalho, mas que evidentemente possui objetivos mais sombrios.
Como a própria inversão dos nomes no título do filme sugere, há aqui um cuidado e uma intenção (muito bem executada, por sinal) de trazer junto com o terror e a condução de uma história de amadurecimento, um sutil empoderamento feminino (visto que a própria protagonista é Maria). Desde uma simples jovem que tenta cuidar de seu irmão mais novo, até uma bruxa independente capaz de realizar quase todas suas vontades, nos deparamos com diálogos interessantes que expõem o quão primitiva era a visão dos homens sobre as mulheres na época. Sobram também, questionamentos sobre liberdade x segurança, além de como o poder é algo que desejamos cada vez mais, conforme provamos e experimentamos.
Com elementos bizarros que valorizam o horror físico e nossa curiosidade sobre os estranhos costumes de uma bruxa, Maria e João – O Conto das Bruxas traz o gótico e o fantasioso em sua melhor forma. Na obra, todos os aspectos, técnicos e temáticos, parecem caminhar de mãos dadas, resultando em uma harmonia que agrada e nos gera angústia ao mesmo tempo. Desde o uso de sintetizadores e acordes dissonantes da memorável trilha musical de Robin Coudert, até as lentes de perspectiva aumentada e distorcida, em movimentos lentos, da cinematografia de Galo Olivares, que dão o tom perfeito à fábula e ao conto de fadas aterrorizante que presenciamos, enquanto o design de produção nos ambienta gradativamente ao período da idade média, ao passo que nos gera calafrios diante de cômodos escuros, pouco iluminados por luzes baixas. Sem falar da montagem colaborativa entre dois profissionais, que parece ter o domínio exato do momento do corte, sabendo enaltecer todas as qualidades de cada plano antes de intercalá-los, enriquecendo o poder da narrativa e dando o ritmo perfeito à história.
Com alguns (mínimos) jump scares muito bem inseridos, e sem apelar para o excesso de rostos desfigurados com a intenção de assustar e gerar medo, Oz Perkins se mostra seguro em uma direção mais que competente, que nos amedronta através de delicadezas visuais perturbadoras e uma ambientação valiosa. Apesar de um roteiro por hora expositivo e um final que deixa a desejar, Maria e João – O Conto das Bruxas nos prova que não é necessário reproduzir inúmeros clichês comerciais do gênero para agradar o público, e que é sim possível nos arrepiar com ideais originais, sem permitir que percamos a atenção sequer por um segundo, nos mantendo absolutamente entretidos e ansiosos pela resolução de uma história bem contada.