Ouija: Origem do Mal

Ouija: Origem do Mal

(Ouija: Origin of Evil)

Direção: Mike Flanagan

Data de Estreia no Brasil: 20/10/2016

Distribuição: Universal Pictures

“Ouija: O Jogo dos Espíritos” (2014) é uma atrocidade de filme, sendo facilmente uma das piores produções cinematográficas do gênero de terror na década. Portanto, quando fiquei sabendo da existência deste prelúdio minha reação natural foi esperar algo ainda pior: sequências de terror já costumam ser ruins, mas prelúdios conseguem ser ainda piores. Porém, para minha grande surpresa, “Ouija: Origem do Mal” é infinitamente superior se comparado ao seu antecessor (o que não é nada difícil, mas enfim), chegando inclusive a ser um bom filme. A única forma que consigo encontrar para explicar isso é dizendo que 2016 está sendo um ano absurdamente atípico, com grandes fracassos por parte de filmes ansiosamente aguardados pelo público e filmes bem-sucedidos que ninguém dava a mínima antes da estreia. “Ouija” é um destes.

A  primeira cena do filme é mais do que suficiente para estabelecer um abismo de diferença entre este filme e o de 2014. Enquanto aquele era uma amálgama mal feita de todos os clichês possíveis do gênero do terror, apostando exclusivamente no nome famoso do jogo para atrair um público desavisado, o prelúdio de “Ouija” é de fato um filme. Os minutos iniciais da trama, que se passa em 1967, exibem logo de cara um bom design de produção em sua recriação de época e um estilo visual interessante. Somos apresentados a viúva Alice Zander e suas duas filhas, Lina e Doris, todas participantes nas sessões de vidência da mãe, que procura “dar um conforto” àqueles que perderam seus entes queridos e, claro, pagar as contas.

É notável que há um cuidado em “Ouija” para realmente criar uma história que envolva a utilização do tabuleiro, não somente uma desculpa para mostrá-lo em funcionamento. Na realidade, este elemento está presente no filme somente por ser parte indispensável da franquia e porque seu nome é facilmente reconhecível pelo público. Porém, não é em torno do tabuleiro de Ouija que a trama do filme gira, uma vez que ele só cataliza acontecimentos que poderiam facilmente ter desenvolvido-se de outras formas. Não vejo isso de forma alguma como um defeito do filme, mas algumas pessoas podem se sentir um pouco “enganadas” pelo pouco destaque dado ao elemento. No entanto, acredito que mais pessoas ainda provavelmente se sentirão incomodadas com “Ouija” por conta de seu ritmo lento e do quanto o terror demora para se fazer completamente presente. Não se engane, “Ouija” é um filme de com alguns excelentes momentos de suspense, mas não aposta em jump scares constantes e cenas gráficas a todo o momento. Se este é o filme que você procura, não lhe recomendo gastar o dinheiro de seu ingresso com “Ouija: Origem do Mal”.

Por outro lado, se você procura um filme de terror que transcenda o básico, criando situações e personagens de fato críveis e relacionáveis, “Ouija” é uma ótima opção. O roteiro do filme aposta muito em um bom desenvolvimento de seus personagens, fazendo com que o público se envolva na história e sinta seus medos e desesperanças. Há um trabalho muito cuidadoso e competente por parte do diretor Mike Flanagan, que se preocupa em fazer mais que o “feijão com arroz”, criando composições visuais muito interessantes e sabendo a todo momento como posicionar e movimentar sua câmera para elevar a tensão. Há também um esforço por parte das atrizes envolvidas para compor personagens interessantes e que apresentam conflitos palpáveis e complexos, principalmente no que diz respeito aos espíritos que assombram a família (isso não é spoiler, quase todo filme de terror tem espíritos atormentando uma família).

O problema de “Ouija: Origem do Mal” é que em seu terceiro ato ele se rende à tentação de ser apenas mais um filme genérico sobre possessão demoníaca, utilizando quase todos os clichês e convenções do gênero que havia conseguido evitar anteriormente. Não que o desfecho chegue a realmente estragar tudo o que vinha sendo desenvolvido, mas o filme perde completamente seu brilho e originalidade. O diretor parece ter ficado com preguiça de realizar o terceiro ato do projeto, ou simples má-vontade por esta parte lhe ter sido imposta como exigência do estúdio. Qualquer seja o motivo, o clímax simplesmente não empolga, com uma série de elementos desnecessários e desinteressantes, parecendo pertencer a outro filme. O estrago causado, entretanto, não chega a ser desastroso o suficiente para tirar os méritos anteriores de “Ouija: Origem do Mal”, que torna-se a mais nova surpresa de 2016, entrando para a galeria de bons filmes de terror do ano.

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