Crítica | Possessão: O Último Estágio

Possessão: O Último Estágio
(The Assent)
Data de Lançamento: 10/01/2020 (EUA)
Direção: Pearry Reginald Teo
Distribuição: PlayArte Pictures

Convenhamos que é no mínimo triste e revoltante o caminho que as produções de terror sobre exorcismo e possessão demoníaca vêm tomando desde os últimos 10 anos. Não é difícil perceber que, com exceção de “O Último Exorcismo” (2010), “Invocação do Mal” (2013), entre outras poucas obras memoráveis, a criatividade de roteiristas e diretores (principalmente norte-americanos), vem se tornando escassa. A razão já sabemos: a obsessão apenas pelo sucesso financeiro dessas obras afeta diretamente a capacidade de inovar. Ainda que com algumas boas ideias, o filme Possessão: O Último Estágio infelizmente não parece fugir dessa onda de incontáveis lançamentos constrangedores desta temática já tão obsoleta.

A narrativa nos situa diante do cético Joel (Robert Kazinsky), um pai viúvo que sofre de esquizofrenia e ainda faz o possível para garantir o melhor para seu filho Mason (Caden Dragomer). Ao mesmo tempo que visões perturbadoras atormentam Joel e o forçam a usar uma câmera para distinguir a realidade da fantasia, um padre chamado Lambert (Peter Jason) é solto da prisão após cumprir uma pena de 8 anos por ter tirado a vida de uma criança durante um exorcismo. Porém o padre ainda parece determinado a salvar pessoas possuídas pelo temível demônio Abaddon.

Durante um primeiro ato interessante e sugestivo, compramos os objetivos do protagonista e somos cativados pelas situações de suspense e terror que o roteiro nos oferece. Muito disso se deve aos eficientes aspectos técnicos da obra, que vão da fotografia à edição. Porém, tão rápido quanto constrói, o enredo consegue desperdiçar todo o potencial de sua história e de personagens até então estimulantes. O diretor e roteirista Pearry Reginald Teo aos poucos permite que seus exageros e a falta de ritmo da obra impactem negativamente na atmosfera de mistério e nas possíveis dúvidas do espectador a respeito da índole dos personagens.

Ainda é possível sentir medo e tensão em algumas cenas, mas a direção não sustenta esses sentimentos. Da metade para o final, já nos vemos extremamente menos interessados pelo desenrolar da trama do que estávamos nos primeiros 30 minutos. Nas tentativas de trabalhar o drama psicológico e correlacioná-lo à possessão demoníaca, o filme falha em agarrar nossa atenção e passa a nos cansar e confundir (de forma preguiçosa) gradativamente. Além disso, o roteiro não demora para tomar caminhos improváveis, sem verossimilhança e o pior de tudo: previsíveis.

Dentro de bagunçadas intenções e resultados lamentáveis, Possessão: O Último Estágio nos mostra mais uma vez o quão raro são obras de horror que acertam ao trazer o exorcismo frente a um roteiro criativo, que valorizando de fato as dúvidas do espectador, nos deixe nas pontas de nossas cadeiras.