Graphic Novel – 11 Dias
Editora: Skript
Roteiro: Sage
Arte: Aleta Vidal
Tradução: Aline(Ly) Cardoso
Ano: 2021
“11 Dias” é uma Graphic Novel argentina produzida pela dupla Sage e Aleta Vidal, trazida ao Brasil pela Skript Editora com tradução de Aline (Ly) Cardoso. A HQ, no formato de álbum europeu, consegue trazer o leitor para dentro da história e o clima de urgência na narrativa dos quadrinhos funciona muito bem.
Um quadrinho que nos remete à nossa atual realidade: uma grande epidemia. A doença descrita no roteiro, a SIP (Síndrome da Insônia Permanente) é bem similar à insônia familiar fatal, também conhecida pela sigla IFF, uma doença hereditária extremamente rara que afeta o tálamo, principal responsável por controlar o ciclo de sono e vigília do organismo.
No roteiro, a contaminação se inicia e sua origem é desconhecida, ainda não há vacinas e muito menos cura para os infectados. O diferencial é que a SIP afeta apenas os jovens que um dia deixam de dormir e, durante os 11 dias seguintes, vão perdendo a lucidez aos poucos, até que a sanidade desaparece por completo pela falta de sono e pelo estado de permanente alerta. Os jovens entram em colapso e morrem.
O número exponencial de infecções coloca os jovens em uma sensação de ansiedade e apreensão. Mesmo os que não apresentam ou desenvolvem qualquer sintoma acabam presos nessa espiral de incerteza. E é este o horror que permeia a história, o medo de uma ameaça que está sempre presente, mas que demora a se mostrar. Isso reforça a perspectiva de uma tensão gradativa e crescente de que algo de muito ruim está para acontecer. É uma das sensações mais terríveis e incômodas da psique humana, já que possuímos um cérebro que precisa sempre se antecipar aos fatos.
Nesse ambiente apocalíptico, acompanhamos os personagens Gabo, Lucas, Genshi e Maia. Integrantes de uma banda de rock, eles são a exata representação do grupo de risco da epidemia que se espalha cada vez mais rápido.
Além dos problemas do agente biológico, o governo passa a emitir um protocolo de confinamento de jovens infectados que esconde algo maior por trás. Muitos jovens desaparecem em meio ao caos sanitário e a mídia e o governo escondem tais fatos da população. Os boatos se tornam realidade quando um dos membros da banda é infectado e acaba sendo levado para cumprir o dito protocolo.
A narrativa gráfica da HQ é bem convencional, quadros grandes fornecem espaço suficiente para a quantidade de texto necessária ao roteiro de Sage. A arte de Aleta Vidal mostra uma excelente coesão com a trama e possui traços que retratam o horror e a sanidade perdida em alguns momentos.
A edição tem um acabamento muito bem feito apesar da arte de capa simples, que acaba não expressando a real sensação de ansiedade e urgência da trama. Outro ponto negativo é o final, acelerado demais para a resolução dos sub-plots construídos pelo roteiro, algo que podemos relevar por conta do número reduzido de páginas da edição. Algumas páginas a mais explicariam melhor certas motivações e atitudes de personagens secundários, amarrando assim o roteiro de forma mais satisfatória.
Ainda assim, a experiência é válida. A parceria entre os artistas argentinos Sage e Aleta Vidal consegue nos prender no tema, nos fazer querer entender o que realmente está acontecendo e ainda acompanhar uma bela história de amor.