Crítica | Sem Conexão

Sem Conexão
(W lesie dzis nie zasnie nikt)
Data de Estreia: 28/10/2020
Direção: Bartosz M. Kowalski
Distribuição: Netflix

Adolescentes viciados em tecnologia, internet e redes sociais são enviados para um acampamento com o objetivo de livrá-los do problema. As coisas começam a mudar quando um dos jovens do grupo desaparece. A busca por paz e tranquilidade é interrompida por mortes violentas e fugas desesperadas. É o segundo longa do diretor Bartosz M. Kowalski, que também assina o roteiro.

Sem Conexão segue uma estrutura clássica dos filmes slasher: na cena inicial temos uma morte que já nos apresenta a ameaça, nesse caso, um carteiro morre. O roteiro dá um salto temporal de 30 anos e conhecemos os jovens que acompanharemos durante o longa. A parte da interação entre eles é reduzida em termos de duração, deixando mais tempo de tela para a ação. Há somente uma cena em que o assassino observa, mas ela segue o clichê clássico de que apenas uma jovem consegue vê-lo, tal como Laurie Strode em Halloween (1978).

Os personagens são bastante caricatos, o que reduz a necessidade de grandes introduções. O roteiro joga mesmo com os estereótipos, embora tente mostrar que nem sempre tudo é o que parece. Isso não é demérito nenhum, os clichês utilizados nos levam a uma zona de conforto, transformando o filme em uma experiência leve e despretensiosa.

Em algumas das cenas de morte a câmera desvia o foco da ação. Um recurso para lidar com o baixo orçamento, mas que acaba compensando, pois as mortes em cena se utilizam de efeitos práticos, o que deixa tudo mais real e macabro. Embora, pelo estilo do filme, fosse melhor mostrar mais as mortes, isso não é exatamente um obstáculo ao entretenimento.

Os seus 100 minutos de duração parecem 70, tal é o dinamismo do roteiro. Os acontecimentos vão se desenrolando em um ritmo rápido. Embora nada seja muito surpreendente ou inovador, o roteiro não chega a causar tédio. Que fique claro esse ponto: Sem Conexão (2020) não traz absolutamente nada de novo, ele é uma repetição bem feita de clichês. Inclusive o plot twist é praticamente igual ao de Pouco Antes do Amanhecer (1981). O único elemento diferente é a explicação para o gatilho, ou melhor dizendo, para a origem do mal.

Talvez o maior defeito seja revelar muito rapidamente a aparência do assassino, que conta com um bom trabalho de maquiagem. Filmes como Chamas da Morte (1981) conseguem criar uma tensão em cima da aparência do assassino, como Sem Conexão (2020) a revela muito rápido, a trama perde um potencial elemento de suspense.

Como não poderia deixar de ser, há uma final girl. Ela é a única personagem sobre a qual temos alguma informação sobre o passado – um trauma, é claro. Ela também está dentro das regras estabelecidas do subgênero. Falando em regras, há um personagem que comenta sobre como sobreviver em filmes de horror, não na mesma pegada satírica de Pânico (1996), mas ainda assim, é um alívio cômico interessante.

Por fim, só resta dizer que Sem Conexão (2020) proporciona uma experiência tranquila, sem novidades, com um roteiro simples e direto que não exige nada do espectador. É um daqueles filmes de fim de noite, cujo único objetivo é entreter. Vá sem expectativas e divirta-se!

 

ATENÇÃO! A partir desse ponto existem spoilers!!!

A grande revelação, que no filme fica parecendo algo banal, é que não há um, mas dois assassinos. Algo que, para quem já assistiu Pouco Antes do Amanhecer (1981) era completamente esperado. Os assassinos possuem uma aparência muito parecida, o diretor só retirou a temática do incesto e acrescentou um misterioso meteoro que deu início à transformação física dos gêmeos.

O roteiro segue à risca os elementos clássicos do cinema slasher. O confronto é interessante e acaba com a final girl presa no porão dos assassinos, mas ela consegue se soltar e dá início à neutralização da ameaça. Nesse momento que o filme erra em alongar a sua duração. Ele poderia terminar de forma mais rápida, mas ainda consegue colocar uma morte acidental de um personagem que já deveria estar morto. Realmente não faz sentido nenhum.

A morte do segundo irmão assassino já é um pouco melhor construída. Depois disso ainda há espaço para dois neonazistas que andam pela floresta e felizmente são mortos por outro clichê do slasher: o assassino que não morre. Apesar de desnecessária, por conta da duração do filme, é uma boa cena.