(The Hole In The Ground)
Data de Lançamento: 01/03/2019 (UK)
Direção: Lee Cronin
Distribuição: A24 e Vertigo Films
Fica cada vez mais fácil nos convencermos de que é possível desenvolver obras artísticas (da música à sétima arte) muito boas sem necessariamente inovar ou ser original em sua temática. No caso dos nossos amados filmes de horror, é através de simples trailers e sinopses que nos deparamos todos os anos com uma quantia imensa de cenas repetitivas e premissas sem criatividade, e na maioria das vezes esses filmes acabam sendo de fato ruins ou medianos. Entretanto, existe sim produções (predominantemente independentes) que conseguem traçar um caminho muito semelhante com o que já vimos em outras obras, mas com uma abordagem de direção diferenciada que valoriza possibilidades pouco exploradas dentro de roteiros tão comuns. Felizmente, é o caso do surpreendente e apavorante irlandês The Hole In The Ground.
Aqui acompanhamos Sarah (Seana Kerslake), uma jovem mãe solteira que, fugindo de um possível passado agitado, tenta reconstruir sua vida com seu filho Chris (James Quinn Markey) em uma casa alugada no interior da Irlanda, próxima à uma extensa floresta com um misterioso e gigantesco buraco no centro dela. Logo após perder e rapidamente reencontrar seu filho na floresta, Sarah se depara com sua estranha vizinha no meio da estrada, que lhe diz que aquele não é o seu filho. Isso é o suficiente para plantar uma dúvida cruel em sua cabeça e fazer com que observe atentamente cada passo de seu filho, e aos poucos, junto com o espectador, passe a questionar o que é real e o que não é.
Entre sombras de incertezas, mistério, e cenas cada vez mais sinistras, o estreante diretor Lee Cronin planta diversas possibilidades em nossas mente enquanto conduz um enredo com muita tensão e suspense. A narrativa não se apressa em entregar respostas ao público, nos forçando a mastigar e digerir cada cena regida em um ritmo lento que nos sufoca e ao mesmo tempo aguça nossa curiosidade. Os atores por sua vez, se mostram especialistas em transmitir suas emoções e desconfianças através de olhares penetrantes e ambíguos. Neste meio, os ambientes escuros e as músicas torturantes são apenas a cereja do bolo de um horror muito bem desenvolvido durante três atos que funcionam muito bem juntos.
Diante de confrontos internos e externos, o filme também reserva uma fresta para pequenas discussões mais profundas como a depressão pós trauma, as complicações de se criar um filho sozinho e as possíveis consequências emocionais disso. Dentro de um misto de drama familiar e suspense psicológico, o horror transborda diante do desconhecido, daquilo que não conhecemos e provavelmente nem sabemos ao certo se existe.
Neste filme, não se deve esperar um prato cheio dos melhores ingredientes do gênero, até porque devido à temática nada excepcional é possível prever muitos dos acontecimentos e elementos de roteiro. Porém, The Hole In The Ground entrega o que promete e satisfaz seu público sem tentar abocanhar um pedaço maior do que cabe em sua proposta. Com uma direção segura, a obra se configura como uma grata surpresa aos fãs de uma história com ótimos momentos de tensão, medo e até bons sustos.