The Rental
Data de Estreia nos EUA: 24/07/2020
Direção: Dave Franco
Distribuição: IFC Films
Charlie (Dan Stevens) e Mina Mohamadi (Sheila Vand) são parceiros em uma recém-criada empresa que está prestes a fechar um importante contrato. Antecipando a quantidade de trabalho e responsabilidade que terão a frente, os dois decidem alugar uma bela casa isolada, de frente para o oceano, para passar um relaxante final de semana. Esta é a cena inicial do filme, e ela contém ainda um pequeno twist que rapidamente constrói e expõe a tensão existente entre o grupo de protagonistas: descobrimos que na verdade Mina tem um relacionamento com Josh (Jeremy Allen White), irmão mais novo de Charlie. Então Charlie, sua esposa Michelle (Alison Brie), Josh e Mina partem no mesmo carro para um final de semana na tal casa alugada.
Logo de início é possível perceber que o roteiro de The Rental é bastante bem trabalhado no quesito construção de personagens, criando um background e um cenário onde seus desejos e necessidades podem naturalmente entrar em conflito, gerando inevitável tensão. Este fator é potencializado pela entrada de Taylor (Toby Huss) na trama, o responsável por alugar a casa e mostrá-la ao grupo. De forma sutil e inteligente, pequenos detalhes são adicionados para criar um possível conflito entre locador e locatários, como a presença do cachorro de Josh, Reggie, quando o anúncio da casa proibia a presença de pets. Contudo, o principal conflito se dá pela forma desavergonhadamente racista a qual Taylor trata Mina, tendo recusado sua proposta de aluguel uma hora antes de aceitar a de Charlie, um homem branco.
Levando-se em conta que The Rental trata-se da estreia de Dave Franco na direção, a trama é muito bem conduzida, com um ritmo fluido e uma montagem que sabe o momento de encurtar certas cenas e alongar outras, fortalecendo os momentos de palpável tensão. A direção de Franco é também eficiente em nos mostrar o evidente desconforto dos personagens, ao mesmo tempo tomando o cuidado de não deixar suas intenções óbvias e explícitas demais, até o momento exato em que estão prestes a se concretizar. Isto é importante pois permite que o elenco, certamente o ponto mais forte do filme, explore a fundo os conflitos entre seus personagens. Os quatro protagonistas estão excelentes e em sintonia, mas o destaque é a atuação de Toby Huss (muito bem como o genro de Lauri no “Halloween” de 2018) como Taylor. Nos breves momentos em que está em cena, ele constrói um personagem obviamente detestável e que nos gera enorme antipatia, ao mesmo tempo nos mantendo em constante dúvida quanto ao real nível de ameaça que representa.
Se o elenco e a direção mantém-se em sintonia e em alto nível até o fim, o roteiro escrito por Dave Franco e Joe Swanberg é o grande calcanhar de Aquiles de The Rental. Se por um lado a competente construção de personagens faz com que o filme funcione num nível dramático antes dos momentos mais explicitamente tensos, estes deixam muito a desejar. O segundo ato do filme é um deserto de acontecimentos envolventes ou significativos, criando um ponto de virada que nunca chega a nos convencer por completo. Conforme acompanhamos a situação evoluir de mal a pior a partir deste ponto, visualizamos a tensão e medo crescentes nos personagens, mas sem nunca de fato nos envolvermos em um nível emocional. E, para um filme que se propõe a gerar medo e tensão, isto é um grande problema.
Consequentemente, apesar de ser bastante efetivo de um ponto de vista estético e narrativo, o terceiro ato evoca uma reação geral muito “fria”, nunca conseguindo envolver e prender completamente nossa atenção. Sem entrar em território de spoilers, basta dizer que The Rental nunca desenvolve plenamente o potencial de sua história. Ironicamente, as sequências mais interessantes de todo o filme se dão justamente quando a trama principal se encerra e o filme entra em uma espécie de aftermath. Por um lado é uma pena, pois confirma que havia muito mais potencial na premissa do que sua execução conseguiu entregar. Por outro, as cenas finais nos deixam com a convicção de que o filme teve suas ideias e momentos inspirados, mesmo que o todo deixe um pouco a desejar.