Crítica | Você Deveria Ter Partido

Você Deveria Ter Partido
(You Should Have Left)
Data de Estreia: 18/06/2020
Direção: David Koepp
Distribuição: Blumhouse Productions

Todos sabem que estamos vivendo em um ano de pandemia onde o recomendado é que fiquemos em casa o máximo possível, então, Você Deveria Ter Partido foi de certa forma muito inteligente em ter sido liberado para streaming e home vídeo em 2020, mesmo que gravado desde 2018. Porém, também podemos imaginar que esse projeto não fosse o mais popular e mais importante na linha de produção da Blumhouse, distribuidora conhecida por seus ótimos filmes de terror.

No filme acompanhamos Kevin Bacon (Footloose, The Following) como Theo, introduzido como um homem que possui um grande trauma devido a um passado misterioso, que viaja com sua esposa Susanna (Amanda Seyfried) e a pequena filha Ella (Avery Tiiu Essex) para uma temporada em uma longínqua casa no País de Gales devido ao novo trabalho da esposa, que é atriz. Porém, a casa que aparenta ser maravilhosa, a princípio, esconde algo a mais.

Theo é um homem perturbado e ao começo de suas, até então, “alucinações”, o roteiro do alemão Daniel Kehlmann e do americano David Koepp (também diretor e co-roteirista de obras como Jurassic Park e Homem Aranha) nos deixa na dúvida se o marido está fadado a enlouquecer tal qual um Jack Torrance, de O Iluminado, ou se existe alguma influência sobrenatural naquele local. Uma dúvida que a princípio parece pertinente mas que evolui para uma repetição de cenas incessantes e uma reviravolta que apesar de interessante, não empolga.

Kevin Bacon exagera nas caras e bocas, são poucos os momentos que ele aparenta estar assustado quando ele tenta parecer assustado ou que convença com suas dúvidas. No entanto, como um homem a beira da loucura, ele convence bastante. Amanda Seyfried está lá. E não há muito a falar sobre ela. Sua personagem serve apenas como um apoio para os acontecimentos do Theo, ela é apenas uma catapulta que serve para levar o protagonista aos locais necessários criados pelo roteiro. Talvez a maior atuação venha da pequena Avery, que em seu primeiro papel de destaque convence muito bem como a primeira “vítima” de fato da casa. A garota é necessária para desencadear os melhores momentos de Bacon.

O roteiro, entretanto, não consegue prender muito as atenções durante os curtos 93 minutos de duração do filme. Mesmo tendo um começo intrigante e uma resolução convincente, e de certa forma bem original, o meio é seu maior problema. Investindo em ambientes sujos, labirínticos e aparições, o roteiro usa as mesmas cenas clichês por pelo menos três vezes cada, nos cansando e perdendo nossa atenção.

You Should Have Left tem, entretanto, um ótimo contexto psicológico. A abordagem do “demônio interior”, da culpa, dos traumas e aceitação de cada uma das condições citadas. Podemos interpretar a casa como um desdobramento do psicológico fragmentado e complexo daquele homem que usa a negação como a maior de suas armas, mesmo que, ironicamente, utilize de auto ajuda durante praticamente todo o filme. A saída da casa e retorno novamente a ela, mesmo andando por quase que uma noite toda, remete ao retorno a maus hábitos e o medo da repetição de erros, além de o quão preso ele está em sua zona de conforto/zona fantasma. O “demônio” sendo retratado pelo próprio Bacon remete ao medo que o protagonista tem da própria imagem, além da visão que ele tem de si.

É possível que surjam comparações com Hereditário (2018) ou com O Babadook (2014) e talvez o filme utilize sim elementos de ambos os filmes,embora não possua a mesma capacidade de nos invadir a cabeça por alguns dias, sendo um filme de terror psicológico completamente esquecível. A história é bem contida, com um elenco pequeno e praticamente se transcorre toda dentro de uma casa que consegue ser intrigante, pelo menos a princípio, e acaba falando diretamente com o momento de isolamento que estamos, mas nem isso ajuda de fato na imersão. Você Deveria Ter Partido possui camadas, ou pelo menos tenta, mas  não nos engaja e quando termina está fadado a ser um filme que não indicaremos a muitas pessoas.