A Mata Negra
Data de Lançamento: 06/12/2018
Direção: Rodrigo Aragão
Distribuição: Moro Filmes
O livro perdido de Cipriano chega às mãos de uma jovem. A obra contém poderes malignos que podem acabar com a humanidade. Essa premissa conecta A Mata Negra, a pelo menos dois outros filmes de Aragão, em que o livro maldito também aparece, Mar Negro (2013) e sua produção mais recente O Cemitério das Almas Perdidas (2020). A protagonista Clara vive com pai Pedro, um homem que faz remédios com o que a natureza dá. Novamente temos como cenário uma pequena comunidade interiorana.
Durante a feira, uma mulher aparece anunciando que Francisco das Graças (o veterano Jackson Antunes), um ungido que traz uma palavra de luz, estava recolhendo doações. No caminho para casa, Clara encontra um homem moribundo que lhe entrega o misterioso livro e pede para que leia uma missa, para salvar sua alma. A leitura acaba liberando forças demoníacas, que atraem a jovem.
A religiosidade popular e o fanatismo entram em cena novamente. Clara é acusada de ser uma bruxa por Francisco das Graças. A população ameaça um linchamento. A jovem se vê obrigada a fugir para o meio da mata para sobreviver. Sua jornada é repleta de desventuras. No lugar do banho de sangue extravagante de seus filmes anteriores, aqui temos um foco no sofrimento. O que não significa que não tenhamos cenas sangrentas.
Se em Mar Negro (2013) o livro esteve em segundo plano, em A Mata Negra (2018) ele é praticamente um personagem. A partir dele a narrativa vai para a frente. O livro faz a história acontecer e transforma (ou revela) os personagens. A passagem por uma tormenta sempre esteve presente nas narrativas do diretor, porém, aqui ela adquire uma nova profundidade, o que deixa a protagonista ainda mais interessante, mesmo que seja um pouco difícil entender algumas de suas escolhas.
A sobriedade só é cortada mais para o final, quando há uma bela cena em uma fazenda com uma criatura que saiu do galinheiro. É uma sequência incrível, com ótimos planos e uma trilha sonora que complementa a tensão. A ação ocorre como já é usual em trabalhos do diretor, um “horror sem fim” que surpreende o espectador diversas vezes. Quando achamos que teremos um final feliz, o roteiro nos dá um tapa na cara. Não há finais felizes por aqui.
O trabalho de maquiagem e os efeitos práticos, novamente, são um grande destaque. O roteiro parece mais refinado, a narrativa é mais direta, sem nenhum rodeio. Isso permitiu a Aragão trabalhar melhor com sua própria mitologia. O visual dos monstros de seus filmes sempre nos surpreendem, mas neste há um demônio realmente icônico que, apesar de aparecer muito pouco, é responsável por uma morte bastante peculiar. A Mata Negra (2018) é mais um ótimo filme do diretor.