Crítica | Yellowjackets (2ª Temporada)

Yellowjackets

Criação: Ashley Lyle e Bart Nickerson

Ano: 2023

País: EUA

Distribuição: Paramount+

Nota do crítico:

“It’s not evil. Just Hungry. Like us.”

Apita o árbitro, fim de jogo. Nosso time de futebol feminino favorito está de volta em sua segunda temporada com ainda mais mistérios, mais loucuras e mais fome (de vencer). 

Confira a crítica da primeira temporada e também o episódio sobre o primeiro ano da série

A menos que você estivesse numa floresta remota no meio do Canadá durante o último ano, provavelmente conhece Yellowjackets, uma das maiores sensações do ano passado. A segunda temporada terminou na última sexta-feira (26/05) e trouxe algumas respostas, além de várias outras perguntas.

Continuamos acompanhando os desdobramentos dos dois blocos temporais: o primeiro em 1996, onde o grupo de jovens está isolado num inverno implacável; e as sobreviventes do acidente, 25 anos depois, lidando com os desdobramentos de seus traumas, além de novos problemas para a conta. 

Em minha opinião, apesar de continuar com uma narrativa ótima e intrigante, a segunda temporada falhou um pouco em como levar a história do presente em frente. Os flashbacks nunca foram problema para a série, já que sempre foram de longe a parte mais interessante da trama. 

Porém, enquanto na primeira temporada o clima de mistério era mais intenso e as protagonistas adultas estavam na maior parte do tempo mais próximas, a nova temporada espalhou ainda mais as sobreviventes para aumentar ainda mais a trama, dando uma sensação de “conveniência” muito grande. 

Óbvio que é ótimo acompanhar as atrizes maravilhosas contando essa história, mas a adição das versões adultas de Van (Lauren Ambrose) e Lottie (Simone Kessell) andou em círculos para uma conclusão catártica que não parece fluir tão bem analisando os nove episódios. 

Na verdade, a parte do culto de Lottie me distraiu muito. Não acrescentou em muita coisa – apesar de fazer total sentido com a personagem – além do único propósito de unir as personagens em um local. Acho que o culto tinha um potencial de ser abordado de uma maneira mais interessante – e menos maçante. 

Além disso, a investigação sobre o assassinato de Adam (Peter Gadiot) foi outro grande motivador da série e rendeu momentos gigantes da família mais unida e ouriçada da cidade. Shawna (Melanie Lynskey), Jeff (Warren Kole) e Callie (Sarah Desjardins) tiveram momentos maravilhosos na trama enquanto tentavam se proteger da cadeia. 

Ainda envolvidos no plot do assassinato, Misty (Christina Ricci) acaba se envolvendo o excentrico “detetive-cidadão” Walter (Elijah Wood) que, com o tempo, passa a ganhar cada vez mais espaço na história.

Apesar de momentos ótimos – como as alucinações da Lottie, por exemplo –, o “presente” em Yellowjackets pareceu andar muito pouco, principalmente quando comparamos com a eletrizante história que é contada nos flashbacks. Toda a trama de Taissa que é interessante a princípio, vai sendo deixada de lado para dar espaço para onde a trama precisa ir, assim como sua relação com a Van.

Mas, quando vamos para 1996, as coisas se tornam cada vez melhores. Ou piores… depende do ponto de vista.

Terminamos a primeira temporada com a morte de Jackie (Ella Purnell), que leva as jovens não apenas à perda da liderança explícita que a jovem exercia, como também às “primeiras vezes” delas. 

Não foi A PRIMEIRA MORTE que eles experienciaram. Houveram as perdas da queda do avião, a Laura Lee (Jane Widdop) ter morrido no monomotor e Ravi (Luciano Leroux) ter desaparecido, porém, a morte de Jackie impacta por ser a mais brutal, causada por decisão do grupo e em um momento em que as coisas pareciam estar entrando numa “normalidade” dentro daquelas circunstâncias.

E, óbvio, essa é a introdução delas a uma nova dieta. Coisa que todos esperamos saber como ia acontecer desde os primeiros minutos do piloto. A cena, que é preparada de uma forma até engraçada de tão absurda, finaliza de forma animal e indigesta. 

Como o ser humano é um ser que se adapta rapidamente em momentos extremos, não demora muito para que as jovens entendam que essa, talvez, seja a única forma de sobreviver durante a rigidez do inverno inóspito de onde estão. 

A forma que as coisas se desenrolam a partir daí é de uma gradativa degeneração do que são as normas sociais. Elas, de fato, vivem sobre um conjunto de regras que permite a ordem alí, mas não são mais as ordens que as regiam antes. Elas agora estão criando uma nova forma de agir mediante as circunstâncias. 

Engraçado que, apesar disso, elas ainda são jovens e mostram muitos momentos em que se contradizem. Na hora em que um personagem está prestes a tirar a própria vida, é convencido ao contrário – mesmo que isso implicasse em comida para o grupo; recriminam a atitude de terceiros enquanto cometem as mesmas atrocidades.

Além da óbvia luta contra a fome e contra a natureza, elas ainda são expostas a outro grande trauma: a gravidez de Shawna. 

Muitas teorias foram formadas sobre isso. Elas iriam comer a criança? A criança sobreviveria e a Shawna mandaria para a adoção? O Adam era, na verdade, o filho de Shawna (juro por Deus…); a Antler Queen seria a responsável por criar o bebê?

No final das contas, o mais realista e cruel dos cenários foi o que de fato aconteceu, num momento de atuação excepcional da jovem Shawna (Sophie Nélisse) que destruiu os corações de todos os que assistiram as cenas. 

Aliás, pessoalmente, essa temporada foi totalmente delas: jovem Shawna (Sophie Nélisse), Shawna adulta, jovem Lottie (Courtney Eaton), jovem Misty (Samantha Hanratty) e Misty adulta. Elas, para mim, são figuras maternas. 

No final de tudo, tivemos uma possível descoberta sobre a identidade da Antler Queen. É possível que não seja, de fato, essa pessoa. É possível que seja um título que mude de proprietária de acordo com as circunstâncias. Mas é provável que essa tenha sido a primeira pessoa a utilizar o título.

No meu resumo pessoal, a segunda temporada de Yellowjackets foi muito boa, mas ainda assim possui alguns problemas estruturais no presente que fazem com que a primeira temporada tenha uma hierarquia maior no meu coração. Ainda assim, é uma série que sem sombra de dúvidas merece ser assistida e que merece ser celebrada. Agora nos resta esperar a terceira temporada.