Mais novo filme do famoso (nem sempre no bom sentido) M. Night. Shyamalan, “A Visita” é o primeiro filme do diretor a entrar na moda dos filmes found footage, quando as câmeras que registram o filme são parte constituinte da trama. Os diretores que optam por este estilo tem duas enormes vantagens: a economia na produção do filme, pois fazer com que a filmagem pareça amadora é uma das principais características do gênero, e a criação de uma atmosfera de suspense que consegue nos colocar em contato mais íntimo com o medo sentido pelos personagens. “A Visita” teve um custo de produção de apenas 5 milhões de dólares, financiados pelo próprio diretor após seu enorme fracasso e decepção com “Antes da Terra” (2013), um filme claramente desprovido de qualquer tipo de assinatura artística. Voltando ao gênero que o consagrou com “O Sexto Sentido” (1999), Shyamalan conseguiu recuperar algo de seu prestígio tão danificado por uma sequência de filmes terríveis. Além de ter tido um enorme lucro para seu custo (65 milhões) “A Visita” é o primeiro filme do diretor a não ser indicado a um framboesa de ouro desde “A Vila” (2004).
O mais interessante sobre “A Visita” para mim é que não se trata de um suspense apenas pelo suspense. Os personagens do filme tem suas histórias e motivações muito bem definidas desde as primeiras cenas. Isso é possibilitado pela acertada escolha de Shyamalan de montar o filme como se fosse um documentário produzido pela protagonista Becca. O que acompanhamos a princípio são duas crianças, Becca e Tyler, que foram abandonadas pelo pai e vivem com a mãe. Após um inesperado contato, os dois decidem ir passar um final de semana com seus avós, que nunca haviam conhecido. Este primeiro ato do filme serve para estabelecer cenários, motivações e o estilo do restante do filme. Quando Becca e Tyler chegam na casa de seus avós é que o filme passa a construir e cultivar uma competente atmosfera de terror.
Ao assistir “A Visita” fica muito claro quais filmes serviram de fonte de inspiração para Shyamalan. Com uma mistura muito clara entre terror e comédia, “A Visita” segue muito na linha dos filmes de Sam Raimi, como “A Morte do Demônio” (1981) e o mais recente “Arraste-me Para o Inferno” (2009). Estes são filmes que conseguem a façanha de extrair o riso e o medo das mesmas situações. Os bizarros acontecimentos nunca deixam de ser assustadores, mas conseguimos ver neles algum tipo de graça, funcionando como uma válvula de escape ante a situações tão perturbadoras. Esta mistura de emoções conflitantes contribuem para criar uma marca muito particular ao filme, ajudando a criar sua originalidade.
Outro grande ponto positivo do filme está em suas atuações. Peter McRobbie e principalmente Deanna Dunagan fazem um excelente papel na criação e desenvolvimento da estranheza de seus personagens. Já Ed Oxenbould e Olivia DeJonge se dão muito bem no papel das crianças desamparadas lidando com situações desesperadoras. De suma importância é a atuação de DeJonge, pois é ela quem conduz o filme através da produção do documentário que sua personagem faz. As atuações e o roteiro combinados dão origem a complexos personagens, que tem excelentes diálogos ao longo do filme. Crucial para isso é a estrutura de “documentário” proposta pelo filme, que o permite explorar melhor as camadas das personalidades que conduzem a trama, mas sem fugir do tema geral do horror e do found footage.
O problema de “A Visita” está justamente no fato de que o excelente roteiro acaba sendo limitado pelo found footage. Acredito que o filme teria sido mais bem-sucedido se insistisse no drama psicológico dos personagens, algo que aparece de maneira apenas esporádica ao longo do filme, fazendo com que seu clímax pareça desconexo em relação ao restante. Shyamalan afirmou que editou o filme de três formas: uma engraçada, uma puramente aterrorizante e um misto das duas, que é a versão final que estreou nos cinemas. Talvez esta indecisão do diretor seja a causa da irregularidade irregularidade no filme, que provavelmente pudesse ter sua trama melhor explorada se utilizasse uma estrutura mais próxima à de “Goodnight Mommy”, por exemplo. Pequenos defeitos à parte, “A Visita” é um filme sobretudo divertido de assistir e que traz uma assinatura que Shyamalan parecia há muito ter perdido. Ele fez por merecer sua indicação na categoria de “melhor volta por cima” no framboesa de ouro. Nunca sabemos o que esperar do “novo Spielberg”.