Antologia da Pandemia
Data de Lançamento: 31/07/2020
Direção: Fabrício Bittar, Martín Blousson, Guillermo Carbonell, Julio Napoli Filho, Giordano Gio, Karl Holt, Andreas Kyriacou, Junior Larethian, Matheus Maltempi, Emerson Niemchick, Daniel Pires, Alejo Rébora, Beatriz Saldanha
Fantaspoa 2020
Para melhor definir o que é a Antologia da Pandemia, vamos apresentá-la nas palavras do próprio festival:
2020 é o ano em que um vírus parou o planeta. Em meio à quarentena e à incerteza sobre o futuro, o Fantaspoa criou um concurso para cineastas criarem suas histórias da pandemia – em suas casas, com os recursos disponíveis. Essa antologia reúne os 13 curtas mais criativos produzidos, capturando esse momento que, se a humanidade tiver sorte, nunca se repetirá.
O filme então é comporto por 13 curta-metragens que pensam justamente o atual momento em que vivemos. De forma geral, eles trabalham com a temática do isolamento, da solidão, da paranoia e dos problemas causados por ou presentes na internet. Já me desculpo pelo aparente “bairrismo”, mas devo dizer os segmentos brasileiros brilharam mais do que os outros.
Fabrício Bittar (Brasil) nos apresenta Quarentena Sem Fim. Se passa em um ano de 2022 no qual ainda é perigoso sair de casa. Bastante claustrofóbico, o segmento trabalha bem com a paranoia decorrente do isolamento social. O Último Dia, de Guillermo Carbonell (Uruguai) também trabalha com um futuro em que ainda existe a quarentena. O problema está justamente quando a saída é permitida.
Estúpidemia de Junior Larethian (Brasil) gera horror através do exagero (mas não tanto) de um assunto importante: a disseminação de notícias falsas e discursos de ódio pela internet. Da mesma forma Baldonero, dirigido pelo argentino Martín Blousson, apresenta de forma mais fantástica – e cômica – os perigos dos webrelacionamentos.
O quinto curta, Jérôme: um conto de natal é dirigido por Beatriz Saldanha (Brasil). Em um futuro bastante próximo, um gato que está preso em casa se vê em uma busca por ração. Seu método muito pouco ortodoxo acaba gerando um irônico “milagre natalino”. Jérôme é um dos segmentos mais interessantes da antologia.
Eclosão (Alejo Rébora, Argentina) tem núcleos distintos de personagens. Aqui o estranho é praticamente um personagem. Enquanto um se preocupa com barulhos estranhos vindos do teto e outra tenta projeção astral, uma menina observa a todos com uma luneta. A resolução, bastante fantástica, vai agradar os fãs de ficção científica.
A Mancha na Parede (Daniel Pires, Brasil) é um dos segmentos mais macabros. A fotografia escura e a filmagem sufocante ampliam o nervosismo da personagem. Uma mancha em forma de gente aparece na parede no quarto. Seria apenas a representação da paranoia da protagonista ou algo mais?
O oitavo segmento é o peculiar Pique Esconde Macabro, de Julio Napoli Filho. Um homem compra uma boneca macabra pela internet e tenta algum jogo com ela que, aparentemente, não dá certo. O problema é que ele desperta a ira assassina da boneca. O curta é muito bem feito e muito engraçado. Compras online também pautam Barata (Emerson Niemchick, EUA) cujo protagonista vende papel-higiênico a preços abusivos por sites de compras. Um dia recebe um aviso de que uma vingança logo chegará a sua porta.
Às Vezes Ela Volta (Matheus Maltempi, Brasil) acontece todo através das teles do computador e do celular de Erica, que perdeu a irmã para a covid. Pouco depois, contrariando a lógica, ele começa a receber mensagens dela pelo whatsapp. Seria uma brincadeira de mal-gosto ou algo sobrenatural?
Desenterrado (Karl Holt, Reino Unido) apresenta um homem que, durante uma reforma, encontra uma fita debaixo do assoalho da casa. Quando a coloca para tocar, percebe que ela não é uma fita comum. O ambiente doméstico também é cenário de Psicopompa (Giordano Gio, Brasil). Um homem faz gravações do panelaço e acaba captando uma estranha contagem. A antologia encerra com Roleta Russa (Andreas Kyriacou, Chipre) que imagina um perigoso jogo online em que os participantes devem descobrir quem está infectado pelo coronavírus em apenas 5 minutos.
Antologia da Pandemia conversa com nossas angústias atuais – alguns segmentos mais, outros menos – e apresenta boas histórias. Os brasileiros Jérôme: um conto de natal, A Mancha na Parede, e Às Vezes Ela Volta se destacam. Acredito que eles consigam conversar de maneira mais profunda com o cenário atual. Pique Esconde Macabro é, também, imperdível.
O XVI Fantaspoa está chegando ao fim em grande estilo. Os filmes ficam disponíveis gratuitamente na Darkflix até o dia 2 de agosto, quando o festival encerra. Vale a pena conferir o trabalho, em particular o dos diretores e diretoras brasileiros/as.
