Ao Cair da Noite
Data de Estreia no Brasil: 22/06/2017
Direção: Trey Edward Shults
Distribuição: A24
“Ao Cair da Noite” já foi lançado aqui no Brasil há algum tempo. No entanto, ao assistir o filme hoje não resisti a escrever sobre ele aqui neste novo site do rdm. Produzido e distribuído pela A24 (mesmo estúdio de “Corra”), “Ao Cair” é acima de tudo um thriler psicológico, um terror que se enfoca não naquilo que é tido como real, mas naquilo que seus personagens principais enxergam como tal. Assim, conhecemos Paul, Sarah e Travis, uma família que tenta apenas sobreviver à uma nova epidemia sobre a qual detêm pouquíssimas informações.
Ao abrir seu filme com a morte de Bud, sogro de Paul, o roteiro de Shults dispensa qualquer tipo de diálogo expositivo e nos imerge de forma extremamente inteligente na vivência daqueles personagens, sua dinâmica e situação atual. Com uma câmera ampla e de bastante movimentação, Shults consegue enquadrar uma série de elementos que vão aos poucos construindo sua narrativa. Enquanto os quadros na parede nos informam o parentesco dos personagens, o silêncio soturno que se instaura entre eles nos dão tantas informações quanto os diálogos que trocam. Da mesma forma, os espaços vazios capturados pela câmera são capazes de dizer tanto quanto as expressões faciais dos atores. Resumindo: há aqui uma forte narrativa visual que complementa à escrita e falada.
“Ao Cair da Noite” é, sobretudo, um estudo de personagens, que se utiliza de um cenário apocalíptico para contar sua história de medo, desesperança e desconfiança. Uma montagem extremamente inteligente comprime e mistura diferentes cenas e diálogos para imprimir um ritmo rápido ao filme, que, apesar das temáticas densas, nunca se torna cansativo ou lento em seus 90 minutos de duração. O ritmo preciso é de grande auxílio na montagem de um primeiro ato que nos informa todos os elementos que darão base para nossa interpretação posterior do segundo ato, que começa com a chegada de Will à história.
É justamente por já conhecermos a personalidade de Paul e de Sarah que a tensão nos domina logo que o elemento Will é introduzido no filme. Em uma situação em que o pragmático protagonista já demonstrou que proteger sua família é seu primeiro e único objetivo, como confiar em alguém que ele nem mesmo conhece? Desenvolvendo de forma ainda mais profunda algo já abordado pelo ótimo “Rua Cloverfield, 10”, “Ao Cair da Noite” aborda as relações de empatia humana quando a sobrevivência torna-se sua principal preocupação. Neste sentido, deve-se reconhecer o ótimo trabalho dos atores em criar uma dinâmica convincente entre seus personagens, conseguindo achar a medida exata entre a sinceridade e a falsidade, nos fazendo desconfiar de todos os personagens a todo momento.
Enquanto Christopher Abbott, Carmen Ejogo e Riley Keough fazem ótimos trabalhos com seus personagens, Joel Edgerton foi a escolha perfeita para interpretar o pragmático e quieto Paul. Em um personagem que resume tudo o que o ator sabe fazer de melhor, Edgerton é capaz de nos fazer simpatizar e entender todas as ações de seu personagem, mesmo as que parecem reprováveis na superfície. Kevin Harrison Jr., por outro lado, acaba tornando-se o elo fraco do elenco, não aguentando o peso de Travis tornar-se o protagonista da história a partir da metade da trama. Com expressões extremamente exageradas em momentos chaves, Harrison acaba por desperdiçar um pouco do potencial impacto do terceiro ato. Mas apenas um pouco.
Com uma resolução enigmática no ponto certo, “Ao Cair da Noite” consegue ao mesmo tempo concluir de forma contundente e ser coerente com o que vinha apresentando até aquele momento. Utilizando-se de pouquíssimos elementos que extrapolam a realidade, Shults emprega uma câmera enérgica e enervante para gerar tensão com meros silêncios e olhares; tanto pelo que é dito pelo que é omitido. O verdadeiro medo em “Ao Cair da Noite” encontra-se nas atitudes e decisões dos próprios personagens que acompanhamos e torcemos. Isso em si já é muito mais assustador do que qualquer jump scare.