Colossal

Colossal
Data de Estreia no Brasil: 27/04/2017
Direção: Nacho Vigalondo
Distribuição: Paris Filmes

         Antes de mais nada, preciso estabelecer estabelecer uma coisa: “Colossal” definitivamente não é um filme de terror. A presença de um monstro e um robô gigante no poster e no trailer do filme fez com que muitas pessoas pensassem nesta direção. No entanto, após assistir o filme não resta dúvidas de que ele é acima de tudo um drama, com elementos de fantasia, dando no máximo algumas pinceladas no suspense. O roteiro desenvolve sua história em torno de Gloria (Anne Hathaway), que está há mais de um ano desempregada e começa a desenvolver uma forte tendência ao alcoolismo. A personagem decide abandonar Nova York, voltando a sua pequena cidade natal para morar na antiga casa de seus pais. Paralelamente, um monstro começa a aterrorizar Seul e Gloria começa a perceber um bizarro paralelo entre ela e tais acontecimentos.

          Como a sinopse deve ter indicado, “Colossal” dedica quase todo o seu tempo de duração ao estudo de seus personagens. Gloria é certamente a protagonista aqui, mas o roteiro dá grande destaque a Oscar, um antigo amigo de infância de Gloria que ainda mora na cidade (nunca nomeada) e é dono do antigo bar de seus pais. A enigmática figura construída por Jason Sudeikis adiciona uma grande camada de imprevisibilidade à trama, uma vez que é muito difícil saber para onde ela caminhará levando em conta a ambiguidade nas atitudes de seu personagem. Isto pode ser dito também sobre o filme, aliás, que começa como um drama leve, se desenvolve em seu segundo ato como uma fantasia e envereda novamente para um drama, desta vez mais pesado, com alguma ação durante seu clímax.

          Esta inconstância verificável no roteiro de “Colossal” é certamente o elemento gestador de seus principais problemas. Após o término da exibição é impossível não constatar: o filme tem uns 20 minutos a mais do que deveria. Com uma hora e cinquenta minutos de duração, “Colossal” acaba tendo um segundo ato extremamente inchado, que passa tempo demais sem dizer a que veio. A falta de pistas por parte do roteiro é interessante a princípio, mas logo se torna falta de identidade transforma o filme em algo desinteressante. A narrativa engrena apenas no momento em que Gloria começa a perceber a estranheza de sua situação em relação aos acontecimentos que se desenrolam do outro lado do mundo, mas ainda assim o roteiro puxa novamente o freio de mão e faz com que o filme estanque.

          Em seus melhores momentos, “Colossal” é um criativo e original estudo de personagens que utiliza de metáforas e alegorias vindas da fantasia para explorar seus personagens e situações. Ao melhor estilo “O Labirinto do Fauno” (2006) o filme engloba em sua trama os elementos fantásticos que cria e os utiliza como forte paralelos para situações e sentimentos reais. A personagem de Gloria é muito bem desenvolvida e os olhos expressivos de Hathaway apenas ajudam a torná-la ainda mais relacionável e complexa. No entanto, os personagens masculinos são todos mal desenvolvidos. Não considero o fato em si como um problema, visto que boa parte dos filmes faz o oposto, ou seja, bons personagens masculinos cercados e personagens femininas mal desenvolvidas e unilaterais. O problema aqui é que Oscar, Tim, Joel e Garth orbitam o universo de Gloria sem parecerem realmente fazer parte dele, como se estivessem todos em filmes diferentes. A utilização que o roteiro faz deles parece sempre estar pela metade ou no mínimo incompleta, prejudicando a complexidade no arco da protagonista e na relação que estabelece com eles.

          Apesar de suas visíveis falhas enquanto roteirista do filme, Nacho Vigalondo se prova um ótimo diretor. O espanhol conduz o filme com grande sensibilidade e tato em suas abordagens, apostando em fortes metáforas visuais que se materializam através de inteligentes e criativos enquadramentos de câmera, servindo ao propósito de enaltecer visualmente as temáticas apresentadas pelo roteiro. O clímax do filme é bastante satisfatório, com um impressionante uso de CGI e uma boa sequência de ação. Porém, é impossível não sentir-se cansado ao fim da exibição, com aquele segundo ato arrastado pesando em direção a este sentimento. Tivesse um roteiro melhor trabalhado e uma montagem mais precisa, “Colossal” tinha o potencial para ser inclusive um dos melhores do ano. Da forma que chegou aos cinemas, é um filme muito melhor de pensar e falar sobre do que de fato assistir.