Crítica | A Garota no Trem

A Garota no Trem
(The Girl on the Train)
Data de Lançamento: 26/02/2021
Direção: Ribhu Dasgupta
Distribuição: Netflix

Baseado no livro de Paula Hawkins, A Garota no Trem (2021) é a segunda adaptação cinematográfica da referida obra. A primeira data de 2016 e contou com atores como Emily Blunt, Rebecca Ferguson e Lisa Kudrow. A versão Hollywoodiana ganhou alguns prêmios e foi bastante elogiada por crítica e público. Já a versão indiana vem sendo criticada de forma pesada e, em grande parte, injusta.

Em primeiro lugar, devemos saber que o cinema indiano tem suas particularidades – assim como Hollywood, a diferença é no caso da indústria dos EUA, já estamos acostumados a suas regras internas. De fato, quando comparado ao filme estadunidense, a versão bolywoodiana parece mais exagerada, pois é de praxe no cinema indiano deixar os sentimentos dos personagens o mais explícito possível.

Dito isso, partimos para a análise do filme em si. A história gira em torno de duas mulheres, Mira e Nusrat. A primeira é uma advogada de sucesso que prendeu um gangster perigoso. Ela era casada com Shekhar até que um atentado contra suas vidas faz com que o casamento de desfaça. Mira desenvolve alcoolismo e para de trabalhar. Ela pega um trem todo dia e passa a observar a vida aparentemente perfeita de Nusrat.

A segunda mulher está casada, tem um marido que parece ser muito atencioso. Sua vida passa a ser objeto de obsessão da primeira mulher, que se torna uma espectadora da rotina da outra. Um dia Mira a flagra com outro homem na sacada de casa. Estaria Nusrat acabando com seu casamento perfeito?

O mistério começa quando Nusrat desaparece. Ela guardava segredos perigosos. Estariam eles conectados com seu desaparecimento ou a razão é algo que ninguém pensou ainda? O diretor Ribhu Dasgupta busca nos surpreender com pelo menos 3 plot twists que funcionam bem – bom, ao menos 2 deles funcionam muito bem, o último é um pouco estranho, mas fica valido dentro da trama.

A introdução do desaparecimento de Nusrat ocorre, literalmente, do nada. Parece que trocou o canal da televisão. Demora alguns minutos para voltarmos a nos situar no roteiro. Outro ponto fraco é a perda de memória que Mira desenvolveu desde o atentado contra sua vida. Ela é muito seletiva e serve a todas as conveniências de roteiro. Ao longo do filme fica difícil saber o que ela é capaz de lembrar e o que não é.

A parte da noite misteriosa que Mira tem de recordar lembra roteiros do mestre Dario Argento, que trabalhou muito com esse tipo de estrutura narrativa. Ribhu Dasgupta, contudo, não possui a mesma sensibilidade do diretor italiano para lidar com o tema. Uma coisa tem que ser dita, Dasgupta sabe como criar suspense. Em certos momentos ele parece criar expectativa com o óbvio, ledo engano, tudo não passa de uma artimanha para que o plot twist tenha um impacto explosivo.

A Garota no Trem (2021) propõe um final diferente do original, acrescentando mais uma surpresa. Os grande problemas da produção são a direção, peca em alguns momentos, e a trilha sonora que em certos momentos parece completamente sem relação com os acontecimentos. Apesar dos pesares, é um filme de grande qualidade e que merece ser assistido, especialmente por aqueles que amam um bom suspense.