Crítica | A Maldição de Sharon Tate

A Maldição de Sharon Tate 
(The Haunting of Sharon Tate)
Data de Lançamento: 20/06/2019
Direção: Daniel Farrands
Distribuição: Saban

A Maldição de Sharon Tate é o novo filme de Daniel Farrands, que já dirigiu alguns documentários sobre franquias de terror como Pânico e A Hora do Pesadelo, além de já ter produzido os filmes Evocando Espíritos (2009) e Amityville: O Despertar (2017). O longa não só é um de seus primeiros trabalhos como diretor, como também marca a estreia de Hilary Duff em um trabalho do gênero terror.

O assassinato de Sharon Tate, na noite de 8 de agosto de 1969, é o crime mais famoso e cruel envolvendo uma personalidade de Hollywood. Grávida do cineasta Roman Polanski (do clássico O Bebê de Rosemary, 1968), a atriz de apenas 26 anos foi surpreendida em sua casa por membros da seita de Charles Manson e apunhalada 16 vezes. Susan Atkins, uma das assassinas, ainda usou o sangue de Tate para escrever a palavra pig (porco, em português) na porta principal da residência. Mais quatro pessoas morreram naquela noite.

A produção foi voltada para o mercado dos Estados Unidos, especialmente para consumo em home video, VOD e com lançamento muito restrito. No cinema foi exibido somente em algumas salas de Los Angeles, mas ainda assim, vemos espaço para discutir um pouco sobre o filme, porque nos dá a oportunidade de um pequeno e interessante debate sobre os limites do cinema e de sua “criatividade” sob o prisma da célebre frase, controvérsia gera dinheiro.

No caso da Sharon Tate, você tem uma recriação do fato, baseado na premissa do “e se”. E se o crime não tivesse ocorrido? E se a Sharon não tivesse sido brutalmente assassinada com os quatro amigos? É a desconstrução de um fato histórico, de uma narrativa, sob o pretexto de construção de um novo roteiro, um novo projeto.

A ficha técnica do filme o classifica como terror, por que o roteiro tenta incutir a ideia de que a atriz Sharon Tate teve algumas premonições antes dos assassinatos. Pura exploração comercial para se vender o filme.

O decepcionante é que a narrativa utilizada para falar sobre os assassinatos, transforma a morte deles em um simples e superficial filme de terror. O roteiro trafega descrevendo o contato deles com os membros da família Manson, utilizando fórmulas conhecidas do gênero, tais como: jump scares, uma trilha sonora que cria tensão e todas as convenções que estamos acostumados a ver em filmes de fantasmas mainstream.

A distribuidora Saban Filmes sabia que era um filme ruim, que iria gerar controvérsias, mas a estratégia era lucrar sobre os comentários, mesmo que negativos. Mídias que jamais cobririam o tema de um filme de terror B e outras formas de divulgação, acabam sendo provocadas a se manifestar a partir do peso da narrativa deste filme.

The Haunting of Sharon Tate (A Assombração de Sharon Tate, em tradução literal ao português) é aquele típico caso de filme que parte de uma ideia boa, mas acaba prejudicado por uma execução terrivelmente ruim. Se o primeiro trailer divulgado prometia uma obra carregada de violência e tensão, o longa escorrega em um roteiro cheio de clichês do subgênero de home invasion: o cachorro morto, o telefonema anônimo, o visitante misterioso que bate na porta, entre outros.

O filme busca um suporte poético para analisar o que poderia ter acontecido, caso a história terminasse com um final diferente da realidade. Mas é ao falar do roteiro que as coisas se complicam. A trama é até interessante por mostrar uma outra visão do caso, os sonhos macabros de Sharon Tate e uma certa mediunidade da atriz nunca explorada. Porém acaba por parecer desrespeitoso aos envolvidos e familiares das vítimas do caso, por “brincar” demais com a história e ir por caminhos duvidosos. Quando se trata de um caso real é perigoso tomar certos rumos, e Daniel Farrands acaba por tomar estes rumos perigosos e quase estragar seu projeto, digo quase por que o filme não é de todo ruim, mas fica bem abaixo da média, até para um filme B.