Crítica | Calls (1ª Temporada)

(Calls Season 1)
Data de Estreia no Brasil: 19/03/2021
Direção: Fede Alvarez
Distribuição: Apple TV+

A nova série criada, escrita e dirigida por Fede Alvarez, um dos nomes mais promissores do horror e suspense nos últimos anos, é tudo  aquilo que precisávamos e mais um pouco. Em parceria com o Canal+, o streaming da Apple acertou em cheio ao nos trazer Calls, uma produção baseada na ideia central de uma série homônima criada por Timothée Hochet, que nos apresenta, da forma mais ousada e diferente possível, histórias individuais extremamente cativantes em cada um de seus curtíssimos 9 episódios, que possuem em torno de 12 minutos de duração. 

A primeira temporada da série gira em torno de misteriosos acontecimentos envolvendo pessoas comuns, suas famílias e conhecidos. A grande sacada de Calls é a maneira como suas histórias são contadas, apenas através de chamadas de voz entre os personagens, que descrevem, uns aos outros, as situações bizarras e inexplicáveis que estão vivenciando. Ou seja, não vemos nada além do nome dos personagens e seus diálogos. E, acredite, é mais do que o suficiente para nos deixar extremamente envolvidos com histórias perfeitamente roteirizadas, dirigidas e interpretadas. O elenco conta com diversos nomes conhecidos como Mark Duplass, Nick Jonas, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Lily Collins, Judy Greer, Riley Keough, Pedro Pascal, e muitos outros, que dão o melhor de si utilizando apenas suas cordas vocais e seu controle de respiração.

Calcada no drama psicológico com elementos de suspense e ficção científica, Calls encontra seu público facilmente desde seu primeiro episódio, mostrando bem qual é sua proposta. A experiência unicamente auditiva permite uma sensação semelhante ao que possuímos ao ler um livro de ficção, onde imaginamos em nossas cabeças como seriam os personagens daquela história. Porém, essa experiência é altamente intensificada pelo desespero transmitido nas vozes dos atores/personagens, além da pouca porém profundamente funcional informação visual da série, que ainda nos traz uma representação óptica das ondas de frequência das ligações, que se alteram em cores e formatos para nos ambientar ao contexto apocalíptico que aquelas pessoas parecem estar experienciando. Isso, inclusive, juntamente aos efeitos sonoros, pode em muitos momentos até remeter o espectador ao jogo eletrônico “Oxenfree” (2016), desenvolvido pela Night School Studio.

O criador da série, responsável pelos aclamados “A Morte do Demônio” (2013) e “O Homem nas Trevas” (2016), constrói diálogos inteligentes e realistas, em torno de tramas que abordam a falha do espaço-tempo por meio de assuntos como complicações de relacionamentos amorosos e familiares, reservando ainda espaço para pequenos comentários e reflexões sociais sobre as convenções do mundo em que vivemos. Embora cada episódio tenha uma história diferente (sendo os enredos dos episódios 2 e 8 os mais bem desenvolvidos) e possa dar a impressão de que podem ser assistidos em ordem aleatória, todos estão conectados de alguma forma (que só virá a ser descoberta no episódio final), portanto a recomendação é que a série seja contemplada em sua ordem pré-estabelecida.

Inventiva e original o suficiente para prender sua atenção do primeiro ao último episódio, Calls revoluciona a forma como nos identificamos com personagens de uma obra audiovisual, trabalhando em cima de temas como o sobrenatural e o desconhecido, com a sutileza necessária para nos manter curiosos, aflitos e preocupados a todo o tempo. Provando mais uma vez, em pleno 2021, como é possível instigar o espectador com histórias imersivas, produzidas com um baixíssimo orçamento, a série original da Apple TV+ se coloca facilmente como uma das produções mais interessantes e imperdíveis dos últimos anos.