Crítica | Contos Macabros 3

Contos Macabros 3
(Tales From The Hood 3)
Data de Lançamento: 06/10/2020
Direção: Rusty Cundieff, Darin Scott

Contos Macabros é uma série de filmes antológicos produzida pelo aclamado diretor Spike Lee. O primeiro filme foi lançado em 1995 e sua sequência somente em 2018. Não foi necessário esperar muito para essa terceira parte da antologia, que foca bastante na temática racial do horror social. Os diretores e roteiristas, Rusty Cundieff e Darin Scott, produziram roteiros intrigantes e ligados ao atual contexto histórico e social dos EUA.

Acompanhamos um personagem interpretado por Tony Todd, que leva uma garotinha até sua mãe. Ao longo do caminho eles fogem de aparições, monstros e/ou demônios. Eles não sabem ao certo explicar o que são. A revelação vem somente na última cena. Enquanto caminham, a menina decide contar quatro pequenos contos de horror.

O primeiro se relaciona ao processo de gentrificação de bairros negros, algo trabalhado também no recente Vampiros Vs The Bronx (2020). O dono de um prédio tenta convencer uma família, a última restante no edifício, a vender sua casa. Ele justifica dizendo que ali seria construído um hospital para ajudar o bairro, contudo, o pai o acusa de querer construir um condomínio de alto padrão e encarecer a vida na região. A solução que ele encontra é a de provocar um incêndio, com consequências trágicas.

Horror de fantasmas e aparições, esse primeiro segmento constrói bem a tensão através das ligações telefônicas misteriosas. O protagonista tem que fugir, mas não há para onde correr. O trabalho de maquiagem foi muito bem feito. Provavelmente é o segmento com maior valor de produção.

No segundo conto, acompanhamos um racista que vive em um bunker subterrâneo. Ele se considera um verdadeiro estadunidense, que vota em políticos brancos e conservadores que desejam uma “américa branca”. Ele parece estar sendo observado por policiais, que nunca agem. Quando se revela quem são os observadores, compreendemos tudo. É uma excelente crítica aos EUA de Trump.

A gravação de um álbum musical embala o terceiro segmento. Chela é uma cantora que faz o vocal de apoio para uma grande artista é demitida por mostrar demais do seu talento. Um homem que observa a gravação, e pretende trabalhar com gerenciamento de artistas, a oferece um emprego enquanto o sonho da música ainda não pode ser realizado.

A jovem sonhadora consegue o emprego de cuidadora de Marie Benoit, uma cantora de ópera negra que, por conta do racismo, teve apenas uma apresentação pública na vida. Ela a revê intermináveis vezes, alimentando a raiva de Chela. O desenrolar desse segmento é um pouco previsível, assim como o plot twist, que não tem nada de original. Mesmo assim, é um segmento interessante.

O último conto da garotinha trata de violência urbana e maldições. Percy é conhecido por ser um ladrão que soca suas vítimas e rouba seus pertences enquanto elas estão desacordadas. A neta de uma das assaltadas que entrou em coma após a violência o amaldiçoa a sofrer no lugar das vítimas. O homem passa a ser perseguido por estranhas figuras, sente dores e perde o controle de seu corpo. A revelação é brutal, assim como o seu desfecho.

Por fim, há a conclusão do segmento de ligação. Nos é revelado quem é o personagem de Tony Todd. O roteiro, contudo, guarda uma boa surpresa para o público. Infelizmente os efeitos especiais atrapalham em muito essa parte. O CGI fica parecendo coisa de série televisiva do final dos anos 1990, e contrasta muito com o restante da produção.

Contos Macabros 3 (2020) é uma filme muito interessante. Foi lançado para o Halloween, porém teve uma distribuição muito limitada. As críticas propostas são extremamente pertinentes. É muito presente a veia satírica de Spike Lee, que somada ao roteiro de Rusty Cundieff e Darin Scott geram um ótimo entretenimento.