Crítica | Halloween Kills: O Terror Continua

Halloween Kills: O Terror Continua
Halloween Kills
Data de Lançamento: 14/10/2021
Direção: David Gordon Green
Distribuição: Miramax

Halloween (2018) foi responsável por resgatar uma franquia que estava parada desde Halloween II (2009), de Rob Zombie. A ousadia de ignorar todas as sequências e considerar apenas o longa de 1978 permitiu um foco naquilo que era o mais básico e importante: Michael perseguindo Laurie Strode (Jaime Lee Curtis). O roteiro optou por negar o parentesco entre os dois e transformar a protagonista em uma mulher traumatizada, mas (muito bem) preparada para o próximo encontro com o vilão.

Halloween Kills começa exatamente de onde o último terminou. Tudo se passa na mesma noite, assim como no agora-não-canônico Halloween 2 (1981). Assim sendo, temos o retorno de personagens do longa anterior, como Cameron, sobre quem havíamos até feito piada por ter desaparecido. A grande surpresa é a adição de personagens do filme de 1978: Tommy e Lindsey, as crianças que estavam sendo cuidadas por Laurie, Marion, a enfermeira atacada por Myers e até mesmo Lonnie, aquele garoto que bate na abóbora de Tommy.

Com esse novo núcleo de personagens, o foco do filme muda. As mulheres da família Strode não detém mais o mesmo protagonismo. Laurie foi ferida gravemente no último filme e isso não é ignorado. O que ocorre é que a direção e o roteiro abrem espaço para um elemento que, se não é novo na franquia, nunca foi tratado dessa forma anteriormente: o pânico social. O medo se torna um personagem muito presente e que define alguns acontecimentos importantes.

O antagonismo entre Laurie e Michael é deixado de lado, o que pode não agradar alguns fãs. Realmente é estranho não ter um elemento que, até então, foi tão fundamental. Porém, devemos lembrar que já em 2018 alguns desses elementos típicos já haviam sido questionados ou mesmo negados. Halloween Kills arrisca – e arrisca muito – e traz conceitos novos, quebrando ideias que já estavam estabelecidas.

O ponto mais forte do filme é justamente esse: a coragem de arriscar. David Gordon Green não tem medo de apresentar coisas novas à saga e chegar a lugares evitados anteriormente. Me refiro aqui a algumas cenas de conflito mesmo, que chegaram a me fazer questionar no cinema se realmente haveria uma sequência – Halloween Ends está confirmado para 2023. O roteiro sai do foco pessoal dado em 2018 e amplia nossa visão para a cidade como um todo. Laurie não foi a única vítima e não é a única pessoa traumatizada.

Um dos riscos que o filme toma é o de debater o próprio Michael Myers, sua natureza, suas ambições, suas motivações. O faz, porém, sem incorrer na tentação de adicionar elementos “satânicos”, “demoníacos” ou mesmo um parentesco surpresa – não me entendam mal, eu realmente gostava do fato de os dois serem irmãos, mas reconheço que não era o melhor dos plots. Halloween Kills também nos apresenta um Michael muito mais violento. As mortes são mais sangrentas, mais brutais. Há sim muito Michael andando e matando – que é exatamente o que queríamos ver. O segundo filme da trilogia de Gordon Green consegue esse feito de entregar a violência que queríamos ver e nos apresentar a novos debates.

A maior critica fica realmente para o final. Ao optar por apresentar uma cena tão forte através de flashes, a conclusão fica soendo um pouco apressada. O clima inteiro do filme passa uma sensação de ser um conector entre o longa de 2018 e o próximo de 2023. Até por isso, no final, ele parece voltar ao lugar onde tudo estava no começo. Apenas parece, há coisas que não tem como voltar. Um outro ponto negativo é que os personagens estão todos menos preparados do que no filme anterior. Em Halloween Kills há muito mais a presença do clichê “personagem que faz burrice” do que no seu antecessor.

Apesar de sair com sentimentos mistos da sala de cinema, após refletir sobre o filme, percebo que gostei das “inovações” propostas. O melhor de tudo, reitero, é ver que o filme não tem medo de arriscar – algo que é sempre muito bem vindo no cinema em geral. Michael Myers está vivo e não vai parar de matar até… o próximo filme? Vamos ter que esperar para ver.