Crítica | Hellbender

Hellbender
Data de Lançamento: 24/02/2022
Direção: John Adams, Zelda Adams, Toby Poser
Distribuição: Shudder

Hellbender é um longa familiar, no sentido da palavra. Ele é dirigido por pai, mãe e filha, – apelidados carinhosamente de “Família Adams” – sendo que as duas últimas são também as protagonistas do filme. Embora o visual em si não seja adequado para todas as faixas etárias, as entrelinhas do filme podem ser consideradas universais. 

Em Hellbender conhecemos Izzy (Zelda Adams) que vive em uma casa isolada nas montanhas com sua mãe (Toby Poser). A garota é aparentemente portadora de uma doença autoimune que a impede de manter contato com outras pessoas além de sua mãe, até que uma série de incidentes façam com que ela questione sua condição, sua criação e suas origens. 

O filme é introspectivo e conta com diversos momentos de divagação em sua primeira metade, demonstrando o dia a dia de Izzy e ressaltando particularidades estranhas da Mãe, enquanto não se entrega de vez para o sobrenatural. Sobrenatural este que não fica em dúvida hora nenhuma devido a cena inicial do longa que entrega com o que estamos lidando. E depois que essa linha é cruzada, Hellbender usa e abusa de bizarrices e rituais para contar uma história de amadurecimento obscura e intensa. 

O filme inteiro passa por uma outra linha muito tênue, onde ficamos presos entre “isso é conceitual ou brega?”. A forma com que a direção conduz a história passa por momentos que beiram o tosco, mas não o suficiente para desagradar. Isso se dá também pela capacidade de Zelda e Toby de entregarem personagens tão verdadeiras. Conseguimos então ignorar algumas transições estranhas e aproveitamos o visual sombrio e lúdico de voyeurismo que envolve a história.

A mitologia criada – e recriada – pelo filme também é um ponto muito positivo. Apesar de ser familiar a quem assiste por pontos similares a histórias já conhecidas sobre bruxas e feiticeiros, o filme cria novos seres e motivações para sua própria história, o que deixa os acontecimentos mais ricos e perturbadores enquanto conhecemos e acompanhamos as personagens. 

No final das contas, o filme é uma história sobre mãe e filha. Sobre como a vida é passada para frente através desses laços e como isso pode ser o fim e o começo de diversas histórias – como o roteiro gosta de nos lembrar por várias vezes durante o filme através da metáfora das estações do ano. Sobre o medo de que sua criação não seja o que você esperava, sobre o medo de perder o controle, sobre conter desejos e resistir a tentações. 

Apesar de considerar o filme mais lento do que o necessário, o que pode atrapalhar a imersão na proposta que o filme oferece, Hellbender ainda assim consegue envolver ao apresentar uma história interessante e que toca em pontos profundos do amadurecimento através de uma aura mística e tenebrosa.