Crítica | Insânia (1ª Temporada)

Insânia (1ª Temporada)
Data de Lançamento: 03/12/2021
Criação: Lucas Vivo García Lagos
Distribuição: Disney Media & Entertainment Distribution

         Com gravações que começaram em fevereiro de 2020, Insânia, a primeira série original brasileira do “Star+” finalmente chegou ao público. Contando com diversos adiamentos por conta da pandemia, a história de Insânia segue Paula (Carol Castro), uma investigadora forense que acaba internada em uma clínica psiquiátrica após um incidente traumático com Lúcia (Bella Camero), sua filha. 

         Mesclando a trama criminal com o sobrenatural, a série é, sem dúvidas, uma grande produção, que é competente em grande parte de sua trama, apostando em uma narrativa ousada para os padrões mais “mastigados” das séries mais atuais de streaming. Insânia, porém, tem erros e acertos tão próximos uns dos outros que é difícil separar os pontos positivos dos negativos. 

         Começando pela trama adulta, que não gasta muito tempo explicando para que veio. Tudo é posto na mesa muito rápido, sem necessidade de muitos diálogos explicativos – embora ainda existam alguns –, dando a possibilidade de deixar a trama mais ágil. Porém, em muitos momentos, a história faz mais suspense do que o necessário para confirmar algo que já está quase explícito. Se sabemos que determinada personagem tem uma habilidade especial, então sabemos que o que ela conta é verdade, não são necessários seis episódios para confirmar uma suspeita óbvia. 

         Além disso, a quantidade de personagem que fala, fala, fala e no final não diz nada é muito grande, alguns diálogos não levam a lugar nenhum e incomoda tanto quanto o português formal das conversas, que irrita a quem sabe que ninguém fala desse jeito normalmente. Alguns personagens passam toda a série falando em parábolas sem a menor necessidade de tal artifício. Além de outros personagens que são quase um “Festival de Promessas” mas que no final das contas, não servem para muita coisa. 

         Agora eu me contradigo ao dizer que muitos dos diálogos entre os personagens são bastante interessantes. A intensidade em que os atores carregam as cenas leva a imersão a outro nível e deixam as tais “parábolas” com um tom poético que combinam com o ambiente de sonho que permeia toda a série.

         Esse ambiente de sonho, aliás, parece algo bastante inspirado em um filme do David Lynch já que é muito comum que sequências de sonho se misturem à realidade no dia a dia de Paula, fazendo com que não apenas ela, mas também a gente se sinta desnorteado acompanhando-a. A montagem é muito eficaz, assim como os efeitos sonoros, que entregam a angústia da personagem através dos sentidos. 

         Mas toda essa tentativa de imersão não seria nada sem um elenco muito bom, começando pela Carol Castro que entrega até mais do que você pode esperar da personagem. Nas cenas iniciais a atriz já mostra a que veio, encarnando as situações vividas por Paula em todas as micro expressões.

         Também temos Rafaela Mandelli como Camila, companheira de trabalho e amiga fiel de Paula que embora quase que totalmente despida de qualquer história de fundo, é uma personagem que move a trama, carregando a parte de investigação policial junto com Marques (Ravel Cabral), que entra no espiral de tretas que toda essa história revela. Já na parte “civil” temos Rafael (Rafael Losso), pai de Lúcia (Bella Camero), que parte em busca da possibilidade de achar sua filha.

         Porém, uma das tramas mais interessantes de Insânia é deixada de lado por grande parte do tempo, ficando apenas na periferia da trama principal. Essa trama é a que abre a série e é responsável pelo maior número de cadáveres expostos da série, que mostra um ex-cônsul da Espanha no Brasil que comete uma chacina com um grupo de jovens. E toda a trama do cônsul Almeida (Fabio Marcoff) é um exemplo de como a série não consegue dar um final digno para muitos dos personagens ou histórias que rondam a vida de Paula – até agora tentando entender o personagem do Thomas Aquino. 

         Com oito episódios que variam entre 31 e 39 minutos, Insânia apresenta sua trama de uma maneira muito competente, em que os erros podem incomodar mais a uns do que outros, principalmente se a síndrome de vira lata bater forte. A série, no entanto, é definitivamente uma produção incrível que merece uma segunda temporada para explorar mais – e mais aprofundadamente – toda essa mitologia criada nessa temporada, que mais parece um prefácio do que uma história propriamente desenvolvida.