Crítica | Mau-Olhado – Welcome to the Blumhouse

Mau-Olhado
(Evil Eye)
Data de Lançamento: 13/10/2020
Direção: Elan e Rajeev Dassani
Distribuidora: Amazon Studios/Blumhouse Productions

A história do mau-olhado é tão antiga que se perde em si mesma. Existem relatos desde que o mundo é mundo de cabelo que caiu devido a mau olhado, a emprego perdido, a coisas quebradas. Mas e se o mau olhado fosse uma força superior? E se fosse uma maldição lançada contra aqueles que você ama? Esse é um questionamento levantado no mais simpático dos filmes do projeto Welcome to the Blumhouse, o longa “Mau-Olhado”.

Nele acompanhamos uma família indiana na qual Pallavi (Sunita Mani, de Glow) é uma jovem independente que vive sua vida nos Estados Unidos lutando contra as tentativas de sua supersticiosa mãe, Usha (Sarita Choudhury, de Jessica Jones), de encontrar para ela um marido ideal. Porém, a partir do momento em que Pallavi conhece Sandeep (Omar Maskati, de Unbelievable), Usha começa a desconfiar que ele possa ter algo a ver com acontecimentos terríveis de seu passado.

“Mau-Olhado” tem um roteiro amarrado e fluido que lida muito bem com a dúvida entre superstição, trauma e obsessão. Graças a um belo trabalho de edição, os flashbacks, sempre interrompidos, aumentam a tensão, dando pistas sutis do que houve anteriormente  sem estragar o momento em que o acontecimento é finalmente revelado. A briga entre gerações e o embate entre mãe e filha também é muito crível e as atrizes estão muito bem, entregando cenas de discussões acaloradas em que é possível sentir a dor de ambas mesmo quando estão tentando machucar uma a outra.

A utilização do misticismo é muito interessante. O “olho grego” – ou “evil eye”, como é conhecido em línguas estrangeiras – é colocado como um símbolo de proteção ativa, quase como um ídolo religioso. Usha sempre reitera como o karma e o mau-olhado são energias tão fortes que podem até transcender nosso entendimento comum de realidade e isto não soa de forma alguma forçado, já que a atmosfera do filme prepara o terreno para que as reviravoltas aconteçam, mesmo sem explicar diretamente como eles podem ter ocorrido da forma que ocorreram.

No fim das contas, na verdade, “Evil Eye” é uma grande analogia para um relacionamento abusivo. O emaranhado de situações em que Pallavi é levada a se colocar por Sandeep, que afirma estar realizando tudo na melhor das intenções, faz com que ela se torne vulnerável, tanto financeiramente quanto psicologicamente, tendo nele a imagem do salvador imaculado que faz tudo para seu bem. Usha tem em seu passado seu próprio abusador, o que, devido a seu trauma e sua experiência, desperta um alarme em relação a Sandeep, dando indícios de que ele possa não ser  quem aparenta. O filme utiliza um pretexto sobrenatural, mas, numa cena até exageradamente  didática e que poderia não ter sido roteirizada como foi, se tem a passagem sobre como sempre haverá homens abusivos no mundo e como os pais precisam educar suas filhas a reconhecer esses padrões, por mais sutis que sejam, para que encontrem em si forças para sair dessas situações ou nunca precisar se submeter  à elas.

Embora a recepção de “Mau-Olhado” tenha sido mista, acredito que esse tenha sido o melhor dos quatro longas lançados do projeto Welcome to the Blumhouse, pois possui uma identidade própria, personagens cativantes, uma história intrigante e atuações e produção dignas de reconhecimento. Espero que as notas baixas não tenham sido decorrentes de nenhum mau olhado alheio.