Crítica | Mudança Mortal

Mudança Mortal
(Aftermath)
Data de Lançamento no Brasil: 04/08/2021
Direção: Peter Winther
Distribuição: Netflix

Será que ainda podemos nos surpreender com algo realmente novo em thrillers de invasão domiciliar? Ainda que filmes como Emelie (2015) e Hush: A Morte Ouve (2016) sejam bons exemplos de que este subgênero do horror ainda pode se reinventar de maneiras interessantes, somos levados a nos questionar frequentemente sobre até onde pode ir a criatividade de roteiristas dentro dessa temática, principalmente devido à imensa quantidade de filmes hollywoodianos com a mesma premissa, desenvolvimento e conclusão. Mudança Mortal, trazido ainda neste início de agosto pela Netflix, deixa claro que não veio para inovar, mas também se mostra pouco preocupado em construir uma trama minimamente cativante.

Após um casal com o relacionamento  em crise comprar uma casa, detentora de um  passado questionável, com a intenção de recomeçar, acontecimentos estranhos e misteriosos começam a ocorrer, envolvendo vultos, barulhos e até encomendas misteriosas que chegam para o casal. As complicações se tornam ainda maiores quando Natalie (Ashley Greene) começa a ser ameaçada por algo aparentemente sobrenatural e precisa convencer seu cético marido, Kevin (Shawn Ashmore), de que não se trata de pesadelos vívidos e muito menos de alucinações.

O roteiro do filme, co-escrito por Dakota Gorman e pelo próprio diretor, Peter Winther, situa bem o espectador diante dos problemas conjugais enfrentados pelo casal, e define muito bem desde cedo o papel de cada personagem na história. Infelizmente, talvez possa se dizer que as qualidades da obra cessam por aqui. Após Natalie e Kevin começarem a se sentir encurralados pelos perigos que envolvem a casa, o ritmo frenético e amedrontador que se espera de um suspense do tipo simplesmente nunca chega. Pelo contrário. Há espaço para que a suspeita de infidelidade, desconfiança e discussões do casal volte a atormentar suas vidas, e também as dos espectadores, que anseiam como nunca por cenas realmente arrepiantes para se agarrar.

Mesmo a abordagem tomada para retratar essas complicações amorosas é extremamente previsível, cansativa e repetitiva. Não há absolutamente nada em Mudança Mortal que não tenhamos visto em tantos outros filmes do gênero. A obra complica-se ainda mais ao final de seu segundo ato, quando tenta trabalhar diferentes vertentes do horror e relacionar suas subtramas, claramente ineficientes. Após um descuido tão grande, por parte da narrativa, com personagens que possuíam significativo potencial de desenvolvimento, não nos vemos tão curiosos em descobrir a razão daqueles acontecimentos como deveríamos.

Onde os sustos não aparecem e o drama romântico dos protagonistas é pincelado de forma grosseira e nada natural, nos vemos frente à uma péssima história de gato e rato, em que os ratos precisam encontrar uma forma de sobreviver, mas não conseguem sequer dividir um pedaço de queijo. O filme se alonga demais para expor uma virada inesperada que também parece saída das fórmulas com as quais  já estamos acostumados. Nada se explica e nada se justifica.

Mudança Mortal é um definitivo sonífero de quase 120 minutos de duração, preparado para decepcionar a quem tiver a coragem de enfrentar a obra. Problemas sérios de roteiro impedem que qualquer um dos gêneros aqui presentes funcionem de forma orgânica. Os atores principais com certeza mereciam um roteiro mais humano e dosado em mãos. Não sabemos dizer até onde a obra foi limitada pelos produtores por questões de verba, mas podemos afirmar que nem de longe atinge seus objetivos de ser um filme de suspense que nos deixa tensos ou mesmo preocupados com os personagens.