Crítica | O Mistério da Casa Assombrada

O Mistério da Casa Assombrada
(Das schaurige Haus)
Data de Estreia no Brasil: 14/05/2021
Direção: Daniel Prochaska
Distribuição: Netflix

Se você ainda se pergunta se é possível trazer algo de novo ao universo de filmes sobre casas assombradas, não sou eu quem irá te confirmar isso. Trabalhar com uma temática específica, a partir de uma premissa obsoleta de um gênero cinematográfico, e ainda surpreender o espectador é definitivamente uma tarefa complicada. Mas o curioso aqui é que, mesmo sem surpreender ou inovar, é possível entreter e cair no gosto do público através da forma como se conta determinada história, valorizando o carisma de seus personagens. E é exatamente nisso que o novo terror adolescente austríaco-alemão da Netflix se sai bem. 

Em O Mistério da Casa Assombrada, uma família composta por Sabine (Julia Koschitz) e seus filhos Hendrik (Leon Orlandianyi) e Eddi (Benno Rosskopf) se muda para uma pequena cidade do interior, no sul da Áustria, a fim de recomeçar a vida. Aos poucos descobrem segredos bizarros sobre a casa e sobre o passado dos antigos moradores, e, enquanto suspeitam que a casa seja assombrada, tudo indica que um assassinato ocorreu no local. O pior de tudo é que o culpado parece ainda estar à solta. Resta aos irmãos Hendrik e Eddi, ao lado de seus novos amigos, Ida (Marii Weichsler) e Fritz (Lars Bitterlich), desvendar esse mistério. 

Chama a atenção na trama a força da amizade entre os jovens. Embora o sentimento de união entre os personagens se construa um pouco rápido demais, o mesmo rende cenas interessantes, que nos aproximam da inocência daqueles jovens apaixonados por uma boa aventura. Isso, e não somente isso, nos remete de diversas maneiras ao enredo do incrível Verão de 84 (2019), mas de forma bem menos dramática e densa.

Embora praticamente todos os jovens atores sofram com a falta de expressividade facial diante de vários momentos, o jovem Lars Bitterlich se mostra uma rara exceção e uma ótima surpresa para a trama com seu personagem Fritz, que centraliza quase todo o viés cômico da narrativa ao mesmo tempo que motiva os outros a continuarem em busca da verdade, de justiça. Sem dúvidas o futuro do cinema europeu reserva boas oportunidades para este ator. E, por falar em ótimas surpresas, é interessante que o filme se passe em tempos atuais, embora o ar oitentista seja mantido pelas músicas, por uma fotografia levemente embaçada e por uma direção de arte que realça os tons pastéis, trazendo a nostalgia necessária para que nos identifiquemos com a obra, ainda que não tenhamos vivenciado a década de 80, de fato.  

Reconhecemos facilmente as conveniências do roteiro e um desenrolar nada fora do que já vimos antes, mas aqui suspendemos nosso olhar crítico para simplesmente embarcarmos em um bom mistério, que se anuncia aos poucos. A impressão que temos desde os trailers e cartazes de divulgação do filme, e que apenas confirmamos ao assistí-lo, é que O Mistério da Casa Assombrada talvez se resolvesse  bem melhor e explorasse muito mais de seu universo, seus personagens e conflitos se fosse uma série, ou ao menos uma minissérie. Com míseros 98 minutos de filme, que passam mais rápido do que o esperado , os arcos e a relação entre os jovens não são tão bem definidos, e é inevitável ficarmos curiosos para descobrir mais sobre a misteriosa cidade e seus moradores. 

O filme nos seduz pela facilidade que tem ao conduzir uma aventura com jovens que possuem personalidades bem elaboradas, com objetivos nobres e uma amizade inspiradora. Onde o medo se transforma em frio na barriga, e o suspense se oferece como um prato quente de mistério a ser descoberto, somos levados pelo dinamismo de uma história nada original, mas com entrelinhas valiosas o suficiente para que não percamos o interesse pela narrativa. O Mistério da Casa Assombrada não assusta e nem oferece nada de novo, mas sabe entreter todos os públicos com uma boa história, além de ser tenso nas horas certas.