Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4

O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4
(Chilling Adventures of Sabrina: Part 4)
Data de Lançamento: 31/12/2020
Criador: Roberto Aguirre-Sacasa
Distribuição: Netflix

Após diversas aventuras macabras, O Mundo Sombrio de Sabrina chega ao fim. Entre o macabro e o adolescente, a jovem bruxa tem que lidar com seus dramas pessoais e salvar o mundo da destruição iminente. Dessa vez, Sabrina enfrenta o pior de todos os perigos: os terrores sobrenaturais. Eles são oito, o mesmo número de episódios dessa última temporada.

A estrutura de “monstro da semana” esteve presente em séries icônicas como Arquivo X (1993-2018) e Buffy, a Caça-Vampiros (1992-2003), permitindo uma maior independência dos episódios e, às vezes, uma maior dinâmica narrativa. A quarta parte de O Mundo Sombrio de Sabrina propõe essa estrutura, mas não consegue dar a seus episódios a independência que gostaríamos de ver.

A história começa a partir de onde terminou a terceira parte. Existem duas Sabrinas, Spellman e Estrela da Manhã, uma comanda o inferno e a outra vive o quotidiano adolescente. A rainha parece ter se dado melhor, possui uma vida de luxo e um pretendente. Já a Sabrina Spellman, sofre com o fato de estar solteira enquanto seus amigos todos estão em um relacionamento, um drama que fica um pouco forçado, mas se trata de uma série adolescente.

A ameaça do padre Blackwood está mais forte do que nunca. Dessa vez, o feiticeiro invocou os terrores sobrenaturais: a Escuridão, o Indesejado, o Estranho, o Perverso, o Cósmico, o Retornado, o Infindável e o Vazio. Eles exigem todas as habilidades de Sabrina, sua família e seus amigos. Alguns deles, porém, decepcionam e se mostram fáceis de serem derrotados, um problema de roteiro que não consegue manter o mesmo nível em todos os episódios.

O clube do terror não tem desenvolvimentos relevantes, à exceção de Roz, que assume de vez o manto de bruxa graças à influência de Mambo Marie. A bruxa vodu, aliás, possui um arco confuso, cuja conclusão não faz muito sentido e não muda em nada o rumo da história. Surpreendente? Talvez, mas completamente dispensável. Theo e Robin continuam o relacionamento. Um obstáculo surge, mas é rapidamente – muito rapidamente – superado.

Um episódio que se destaca para os fãs de horror é o terceiro. O Estranho faz uma homenagem à obra de H. P. Lovecraft. O personagem de Lucas Hunt passa tão rápido que é até difícil lembrar dele. A aposta é que os criadores o utilizem em Riverdale, já que ele foi transferido para o colégio. Falando nisso, os planos de Aguirre-Sacasa envolviam um crossover com Riverdale na 5ª temporada. Com o cancelamento da série, essa história será restrita aos quadrinhos.

O episódio do Perverso também apresenta elementos interessantes. Blackwood altera a realidade e se torna um líder fascista. É o episodio em que Harvey possui maior destaque – nos outros ele passa meio apagado. O roteiro joga com a questão da realidade paralela questionando o caráter dos personagens.

Outro destaque é a homenagem à Sabrina, Aprendiz de Feiticeira (1996-2003), com direito a participações de Beth Broderick e Caroline Rhea, as tias Zelda e Hilda originais. Os fãs finalmente recebem o Salém falante, mesmo que por poucos minutos. Tudo desemboca na chegada do Vazio, o maior dos terrores sobrenaturais.

O último episódio é corajoso. Ele corta o clima que vinha sendo construído e vai minando as esperanças do espectador a medida que o roteiro avança. O final não irá agradar a todos os fãs. A decisão de Aguirre-Sacasa foi bastante corajosa e, agora falando de forma mais pessoal, me agradou bastante. Não fosse pela cafoníssima ultima cena, a série poderia ter encerrado de forma pesada e madura.

O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 desenvolve pouco seus personagens secundários, alguns simplesmente desaparecem em dados momentos. Apesar dos defeitos no roteiro, conseguiu entregar um final digno, e em minha opinião, muito bonito, para a série.

 

A partir desse ponto a crítica apresenta spoilers

Apesar do tom mais adolescente, alguns acontecimentos macabros não nos são poupados. Quando Lilith mata seu bebê e serve para Lúcifer comer é bastante chocante. Aliás, o choque, a surpresa, parece ser o sentimento que os roteiristas querem extrair do espectador, nem sempre o conseguindo de forma satisfatória. A revelação de Mambo Marie como Barão Samedi ficou muito fora do tom. Desnecessário perdermos uma personagem tão interessante.

As adoradoras de Hécate estão mais fortes. A derrota dos reis do inferno pelo poder das dores do parto é genial, porém é o único momento nesse estilo. O coven reformulado aparece muito pouco. Embora a série nos apresente alguns elementos do novo culto, fica faltando substância.

A série abraçou de vez o lado musical. A performance de Total Eclipse of the Heart é bastante divertida. A batalha das bandas vai bem, sobretudo a versão de Time Warp que, em minha humilde opinião, merecia ter levado o prêmio.

Por fim, falemos do final. O sacrifício final de Sabrina já estava sendo anunciado em vários momentos, por isso não foi uma surpresa. A surpresa é ela não ser ressuscitada. Com Estrela da Manhã morta, poderia se pensar que Spellman sobreviveria. Sabrina entendia suas responsabilidades e sempre colocou como seu objetivo principal proteger aqueles que amava. Considero um final bonito e condizente com os caminhos que a série estava tomando. A única cena que poderia ter sido dispensada é o final no pós-vida em que descobrimos que Nick se matou para passar a eternidade com seu amor.