Do Outro Lado da Porta
(The Other Side of the Door)
Direção: Johannes Roberts
Distribuição: –
Ao ver a nota que este filme possui no IMDB é provável que você acredite que está é uma obra a qual simplesmente se atira a clichês percorrendo caminhos fáceis e desinteressantes das obras de terror atuais… E você estaria certo, porém, deve-se atentar para o fato de que “Do Outro Lado da Porta” é uma obra que possui sim muitos aspectos técnicos e certas ideias de roteiro de grande potencial dramático, criando no meio do caminho um bom clima de tensão, o qual infelizmente é quebrado por jump scares sem qualquer imaginação e completamente previsíveis. O fato é que este longa metragem pode até não ser tão ruim quanto muitas pessoas irão afirmar, mas a frustração de se observar certas qualidades sendo desperdiçadas é indiscutivelmente um sentimento que se sobressai.
Sendo uma história de fantasmas tradicional (com temas de perda, luto, culpa, bem como todos os estados psicológicos do modelo de Kübler-Ross) a narrativa gira em torno de Maria (Sarah Wayne), uma mulher atormentada pela perda de seu filho num acidente de carro e que certo dia descobre uma forma de entrar em contato com ele a partir de um ritual. A partir de tal premissa é que se desenrola a trama, já que ao fazer tal contato a mãe acaba abrindo o portal entre o mundo dos vivos e dos mortos, gerando a tipica quantidade de sustos que já imaginamos que tal história poderia gerar.
Soando extremamente “Orientalista” (em referência ao termo cunhado por Edward Said), a obra aposta numa constituição de uma Índia mística e exótica, ainda que permeada por um realismo duro das regiões pobres. Toda a mística de tensão a qual se cria no decorrer da história vem deste olhar calcado em esteriótipos de seitas sobrenaturais e canibais e de uma cultura simplista de pessoas as quais levam sua vida a partir de dogmas religiosos. O filme ainda adiciona à projeção a figura de uma “indiana sábia”, personagem a qual indicará o caminho dos mortos para Maria – e qualquer fã de terror espera sem qualquer surpresa o desfecho para tal personagem. Não posso negar que todos estes elementos estejam a serviço da narrativa e que a impulsionam de fato, mas não há como deixar de comentar o caráter de “senso comum” que tal abordagem possui.
Pelo menos quando tais perspectivas estão sendo desenvolvidas no primeiro ato nós os espectadores somos surpreendidos com uma direção com bons movimentos de câmera do diretor Johannes Roberts, o qual, a todo momento, movimenta sua câmera em busca de um certo dinamismo (e o momento no qual Maria chega ao templo, onde passamos de um plongée para um plano baixo da personagem, é brilhante por salientar o tom de divino, terrestre e demoníaco de tais atos). Porém, o grande aspecto técnico que merece destaque é mesmo a fotografia maravilhosa de Maxime Alexandre, o qual não aposta somente em tons sombrios para suas imagens, trabalhando numa paleta de cores que ressaltam o azul e o amarelo. Aliás, tal opção não é um mero acaso já que a direção de arte aposta justamente nestas cores para trabalhar seus personagens, com o amarelo atrelado ao misticismo da personagem Piki (Suchitra Pillai-Malik) e o azul relacionado tanto ao luto dos personagens principais (“blue” que banha a casa, roupas de cama e figurino) quanto à água ligada a própria tragédia.
Mas nada disso parece importar para os roteiristas (Ernest Riera, junto de Roberts), os quais, a partir do segundo ato, parecem atirar todas as ideias que lhe vinham a mente para criar e solucionar situações, esmorecendo qualquer ato de direção interessante com uma montagem tropega, mais interessada nos sustos do que em seus personagens. O filme se torna aborrecidamente previsível em seu ato final, com um desfecho que poderia soar mais interessante se um houvesse qualquer identificação com um dos personagens envolvidos. Mas quando nem o filme parece preocupado em gerar tal empatia, como o espectador poderia? Acaba soando falso, frágil e extremamente frustrante…
O filme acaba parecendo muito pior do que realmente é.