Crítica | O Páramo

O Páramo
(El Páramo)
Data de Lançamento no Brasil: 06/01/2022
Direção: David Casademunt
Distribuição: Netflix

Assim como experimentar diferentes culinárias em viagens internacionais, é extremamente importante e benéfico consumir a cultura de diversos países, principalmente fora do nicho norte-americano que praticamente domina as salas de cinema e os streamings. E se o assunto é dar chance para experimentos, conferir novas obras européias de horror é sempre uma boa pedida. Para alguns espectadores é até um hábito constante, pois nos permite enxergar o mundo através de diferentes olhares e abordagens. Aos que não estão familiarizados com filmes espanhóis de terror, o novo lançamento da Netflix, O Páramo, pode ser um ótimo começo para conhecer o que o país tem a oferecer ao gênero.

Se o longa O 3° Andar – Terror na Rua Malasaña (2020) soube nos entreter com diversos personagens, vários sustos e entidades aterrorizantes em torno de um prédio mal-assombrado de Madrid, a mais nova produção de horror da Netflix trilha um caminho um tanto quanto distinto. Em O Páramo, não são os sustos, o excesso de personagens e diálogos, ou mesmo o dinamismo de uma cidade grande e metropolitana que nos cativa. Tudo aqui se apoia em um contagiante minimalismo da direção de David Casademunt, que estreia como diretor e roteirista de um longa-metragem. 

O filme, que se passa na Espanha durante o século XIX, apresenta uma família composta por Lucía (Inma Cuesta), seu marido Salvador (Roberto Álamo) e seu filho, o garotinho Diego (Asier Flores). Os três vivem no interior, em um ambiente rural, isolados do restante da sociedade. A vida da família é afetada quando, a cada dia que passa, um ser maligno que se alimenta do medo humano se aproxima mais da propriedade.

Há um forte apelo ao poder da sugestão, algo infelizmente cada vez mais desvalorizado pelos filmes de terror comerciais. Aqui, o diretor faz questão de mostrar somente o necessário, ainda que em alguns instantes opte por expôr a entidade. A ambientação tenebrosa do longa, junto à tensão familiar cada vez mais sufocante, se constrói de maneira gradativa, permitindo que o público imagine e interprete tais estranhos acontecimentos como melhor lhe convir. Em paralelo aos eventos sobrenaturais, a sanidade de Lucía passa a se esvair, enquanto o jovem Diego é obrigado a manter a razão e ajudar sua mãe de todas as formas possíveis. Porém, onde o drama familiar é estimado, o potencial do enredo principal em torno da entidade tão bem alimentado durante o primeiro ato, é, em pouco tempo, reduzido a picos sonoros de frequências altíssimas e aparições frequentes da criatura.

Há uma inconstância de ritmo realmente problemática em O Páramo. Tristemente, o horror espanhol enfrenta dificuldades de se encontrar nos caminhos frutíferos do suspense convidativo apresentado anteriormente. A sugestividade do roteiro dá lugar a cenas pouco proveitosas que, por mais que reforcem consideravelmente a relação entre mãe e filho, cortam rapidamente o envolvimento do espectador com o medo criado pela aproximação da criatura e pelo clima horripilante tão bem construído.

Regado a lindos enquadramentos, uma bela cenografia e uma fotografia que sabe valorizar sua baixa iluminação, O Páramo impressiona estéticamente e conta com elementos narrativos de folk horror realmente poderosos, mas falha em manter suas qualidades durante seus 92 minutos de duração. Equilibrando de forma insatisfatória o suspense, o horror e o drama de seus personagens, o longa demonstra uma falta de foco comprometedora, ainda que sirva como um ótimo exemplo de como o terror ainda pode ser eficaz sem a necessidade de assustar a todo momento ou mostrar demais seu antagonista.