Crítica | Os Novos Mutantes

Os Novos Mutantes
(The New Mutants)
Data de Estreia no Brasil: 22/10/2020
Direção: Josh Boone
Distribuição: Fox Film do Brasil

Tentar revolucionar o gênero de super-heróis é ironicamente, heróico. Trabalhar uma história em cima de dois elementos extremamente diferentes como super-heróis e horror, é ainda mais arriscado, principalmente quando o orçamento ali existente é altíssimo. Sabendo do fato de haver pouquíssimos (senão nulos) exemplos de obras equivalentes e que foram felizes em seu resultado, é dificílimo conciliar a carga dramática de ambos os gêneros sem dispersar a atenção e o envolvimento do público. Ainda assim, não é uma desculpa para o fracasso de enredo apresentado em Os Novos Mutantes, filme adiado por mais de um ano por companhias de renome como a 20th Century Studios e Marvel Entertainment. Longe do que filmes como “Corpo Fechado” (2000) ou mesmo “Kick-Ass” (2010) nos ofereceram de novo para o gênero em suas respectivas décadas, o novo filme dirigido por Josh Boone, de “A Culpa é das Estrelas” (2014), se mostra escasso em empatia e originalidade.



A história acompanha a rotina de cinco jovens mutantes (Blu Hunt, Maisie Williams, Anya Taylor-Joy, Charlie Heaton e Henry Zaga) em uma instituição administrada por uma médica chamada Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga). Enquanto os mutantes aprendem como controlar seus poderes, são visitados à noite por figuras aterrorizantes que representam seus traumas mais profundos. Sem ter para onde fugir, eles percebem que se pretendem sobreviver é preciso unir forças e combater o mal.

Os Novos Mutantes trabalha seu enredo em cima de um formato de roteiro já saturado, com a enjoativa premissa de um grupo de jovens presos em um suposto hospital psiquiátrico/instituição misteriosa, em busca de uma saída. Estamos cansados de saber que premissas semelhantes nem sempre significa um roteiro ruim, Invocação do Mal (2013) é a prova disso (uma família que se muda para uma nova casa mal-assombrada). Ainda assim, o que faz do filme de fato cansativo e nada criativo, é sua condução apressada e inverossímil.

Na maior parte do tempo, o filme parece estar um passo à frente do espectador, e não de uma forma boa. O roteirista parece acreditar que apresentou suficientemente os personagens e suas condições, quando na verdade mal riscou a superfície. Tudo acontece de forma corriqueira, sem calma e cuidado o bastante para envolver o público, portanto somos forçados a engolir desde os primeiros segundos de filme, uma narrativa preguiçosa que não nos apresenta bem suas regras e não nos prepara para o que está por vir.

Além de inserir arcos de personagens rasos e não aproveitar uma história que poderia render bons dramas individuais, outro grande desperdício é o talento de seu elenco. Charlie Heaton que já entregou ótimas interpretações desde Stranger Things, e principalmente Anya Taylor-Joy, que impressionou em obras como “A Bruxa” (2015) e “Fragmentado” (2017), estão extremamente apagados em seus dispensáveis papéis, ainda que não meçam esforços para tirar algo de interessante naquele meio. Mesmo nossa conterrânea e experiente Alice Braga não cativa em seus melhores momentos.

Se há algo de bom a ser dito sobre o filme, é a respeito de sua direção certeira em alguns (poucos) momentos dramáticos, que por mais que não se destaque devido à superficialidade dos diálogos e circunstâncias, ainda nos tocam pela composição geral das cenas mais emocionais. O entretenimento é fortemente prejudicado pela falta de proximidade com a vivência de cada personagem, ainda que o espectador seja condicionado a apreciar pequenos momentos de ação, na ausência de algo mais elaborado. Se os efeitos especiais e a trilha musical cumprem seu papel ao nos transmitirem o mínimo de sensibilidade necessário para não abandonarmos o filme, é a montagem quem se sobressai, garantindo a vitalidade que a obra demanda, mesmo ainda refém das péssimas escolhas de roteiro.

Os Novos Mutantes é o conjunto perfeito de decisões equivocadas, que vão dos frequentes adiamentos de seu lançamento e do marketing de divulgação à conclusão do filme. Com praticamente nenhuma cena frutífera, a obra coloca à prova nossa capacidade de nos demonstrar interessados por um roteiro que parece não ter a menor noção de como conquistar a atenção de seu público. Por film, a obra não funciona nem como um filme de super-heróis por sua falta de carinho com os personagens e seus poderes, e muito menos como um filme de terror, uma vez que não nos ambienta diante de um desenvolvimento eficiente de tensão e medo.