Crítica | Pranto Maldito

Pranto Maldito
(Tarumama)
Data de Lançamento no Brasil: 29/10/2021
Direção: Andrés Beltrán
Distribuição: HBO Max

Se a série original da Netflix, Cidade Invisível, assim como o recente filme nacional Curupira – O Demônio da Floresta, provaram que o folclore sul-americano ainda tem muito a oferecer ao universo audiovisual de horror e suspense, já era hora da Tarumama aterrorizar seu público. Essa lendária figura do folclore colombiano, descrita como uma mulher idosa enrugada, com seios alargados e cascos de mula, é conhecida como uma das mais assustadoras criaturas da mitologia de seu país. Em Pranto Maldito, nova produção de horror colombiana distribuída exclusivamente pela HBO Max, mesmo diante de uma premissa pouco original e de uma narrativa que pode muito bem afastar alguns espectadores por sua condução nem sempre assertiva, temos a chance de conhecer um pouco mais sobre essa peculiar entidade. 

O filme conta a história de um casal que está prestes a se divorciar, interpretados  pela emocional e dedicada Sara (Paula Castaños) e pelo cético e absolutamente racional Óscar (Andres Londono). Em uma  última tentativa de salvar seu relacionamento, ambos decidem sair de férias com os filhos, buscando passar uma semana em uma afastada cabana na floresta. Tudo parece se tornar ainda mais difícil quando Sara e seu filho começam a presenciar acontecimentos estranhos em volta da cabana, causados por uma mulher que é vista sempre chorando, em busca de seu filho.

Optando muitas vezes, principalmente durante o segundo ato, por um ritmo lento, com poucos ou nulos elementos assustadores, o filme dirigido por Andrés Beltrán ainda encontra alguns bons frutos. Mesmo sem se aprofundar muito nas características  de seus personagens, há um cuidado por parte do roteiro na elaboração da relação entre cada membro da família, ficando evidente para o espectador quais são as razões que têm causado um distanciamento amoroso naquele ambiente. Sentimos as dificuldades matrimoniais enfrentadas por Sara e Óscar, o que de início nos permite nos importarmos com aquelas pessoas e suas vidas.

Trabalhando seus enquadramentos em praticamente uma única locação, a cabana, o diretor se mostra capaz de criar a tensão necessária para que nos identifiquemos com o medo sentido pelos personagens, principalmente Tomás (Jerónimo Barón), o filho mais jovem do casal. Por outro lado, a pouca exploração de cenas, principalmente noturnas, em um ambiente hostil como a floresta que contorna a cabana, impede que Pranto Maldito amedronte devidamente e tire o fôlego de seu público com aparições sutis de seu ser mitológico. Durante boa parte da história, nos vemos entediados com as escolhas narrativas tomadas pelos roteiristas Andres Beltran e Anton Goenechea. 

Na tentativa de trazer um antagonismo na figura da mãe, fortalecendo o distanciamento entre os personagens, o filme acaba por perder forças, mesmo que consequentemente traga os holofotes ao drama familiar e à ótima interpretação de Paula Castaños. Por fim, embora sejamos presenteados com a  cena mais assustadora do filme nos últimos minutos, é deixada a sensação de não nos horrorizamos com a Tarumama como gostaríamos. O roteiro apresenta muitas de suas características físicas e comportamentais, como por exemplo a forma que se alimenta de tochas e carbonos de fogos acesos, mas acaba por limitar o poder de fogo da entidade quando o assunto é realmente causar medo.

Sendo possivelmente a primeira obra sul-americana de horror com distribuição exclusiva da HBO Max, o longa colombiano Pranto Maldito demonstra possuir algumas ideias próprias e criatividade para nos gerar medo e desconforto, ainda que, em boa parte de sua duração, semeie terrenos inférteis. Sabendo que não é a melhor pedida para os que buscam um entretenimento de horror dinâmico, com diversos sustos garantidos ou mesmo aparições frequentes de seres sobrenaturais, é preciso reconhecer que o filme merece uma chance daqueles que se interessam por conhecer um pouco mais sobre o cinema de horror praticado em países como a Colômbia, além de se impressionar com a diversidade do folclore sul-americano.