Crítica | Rua do Medo: 1978 – Parte 2

Rua do Medo: 1978 – Parte 2
(Fear Street Part 2: 1978)
Data de Estreia: 09/07/2021
Direção: Leigh Janiak
Distribuição: Netflix

Talvez eu esteja me precipitando, mas acho que é bem seguro dizer que ‘Rua do Medo’ é o evento cinematográfico do ano. Em um momento no qual estamos tão carentes por novos lançamentos e acontecimentos de impacto, a roteirista e diretora Leigh Janiak e seu time de produção nos presentearam com uma ideia de ouro: uma trilogia de filmes mundialmente lançada ao longo de três semanas, em um formato serial que o streaming não só permite como potencializa. Assim, enquanto sentíamo-nos embasbacados perante o final de Rua do Medo: 1994 – Parte 1 na sexta passada, sabíamos exatamente o que nos aguardava na semana seguinte.

Começando exatamente onde 1994 havia parado – há até um recap, bem ao estilo de séries de TV – a parte 2 de ‘Rua do Medo’ nos presenteia com aquilo que estávamos aguardando, a história do massacre no acampamento Nightwing. Então, acompanhamos, tão atentos e ansiosos quanto Deena e Josh, enquanto uma traumatizada C. Berman reconta mais um capítulo da contínua tragédia de Shadyside, dessa vez no verão de 1978. Não se preocupe: não há idas e vindas no relato ou qualquer tipo de narração em off, nossa atenção é dedicada inteiramente à história de Ziggy e Cindy Berman, Nick Goode, Alice e seus demais colegas em Nightwing.

Logo de cara, devo dizer que ‘Rua do Medo: 1978’ apresenta alguns dos mesmos problemas da parte 1. No entanto, também consegue introduzir algumas ótimas soluções. Em primeiro lugar, a comparação entre os dois deixa óbvio que o elenco da parte 2 é muito superior, especialmente no que diz respeito a suas protagonistas e a empatia que nos despertam. A começar pela excelente GIllian Jacobs, que em poucos segundos consegue transmitir toda a angústia e paranoia de uma traumatizada C. Berman. Ryan Simpkins (Alice), McCabe Slye (Tommy) e Drew Scheid (Gary) são excelentes complementos ao time de coadjuvantes.

O grande destaque, todavia, certamente é de Sadie Sink e Emily Rudd, que interpretam Ziggy e Cindy Berman. Sink, que já havia conquistado grande destaque como Max Mayfield em Stranger Things, cria uma protagonista extremamente carismática em Ziggy, capaz de nos envolver em seus conflitos, dramas e, principalmente, em sua angústia quando sua vida está em perigo. Já Emily Rudd tem vida um pouco mais difícil como Cindy, uma vez que o roteiro apresenta dificuldades para desenvolver sua personagem no primeiro ato, insistindo demais em pontos rasos como sua obsessão por controle e perfeccionismo. Ao longo do segundo e terceiro atos, contudo, ela consegue juntar-se a Ziggy como excelentes condutoras da trama.

Nesse sentido, aliás, o filme sofre de dois dos grandes problemas da parte 1: diálogos forçados e mal escritos, além de uma duração excessivamente longa e uma narrativa arrastada em sua primeira metade. O problema do roteiro e do desenvolvimento dos personagens acaba sendo atenuado, uma vez que ‘1994’ já havia cumprido o trabalho mais pesado de apresentar todo o cenário de Sunnyvale/Shadyside e os personagens em sua versão anos 90. Em 1978, portanto, temos um desenvolvimento um pouco mais aprofundado da maldição de Sarah Fier e de suas repercussões na vida dos shadysiders, ainda que muito fique reservado, compreensivelmente, para a parte 3.

Assim como seu antecessor, contudo, ‘1978’ não consegue ir muito além da superfície no que diz respeito a seus personagens e a questão socioeconômica de uma cidade inteira condenada ao alcoolismo e à pobreza, enquanto a vizinha Sunnyvale prospera. Esse problema de desenvolvimento é o que torna o miolo da trama bastante desinteressante, com os quase protocolares embates adolescentes de um slasher de acampamento de verão que não empolgam muito. É apenas quando a matança começa, por assim dizer, que o filme realmente mostra a que veio.

Desviando com sucesso tanto de estereótipos moralistas de slashers quanto de soar derivativo demais de ‘Sexta-Feira 13’, o clímax de ‘Rua do Medo: 1978’ é um deleite. Encontrando um ótimo equilíbrio entre o que é necessário mostrar em tela e aquilo que se beneficia de um toque mais sugestivo, Leigh Janiak apresenta uma exímia condução do filme. Há aqui tudo o que poderíamos esperar de um competente terceiro ato de slasher: um vilão cativante e amedrontador, algumas mortes inesperadas e outras extremamente impactantes, tudo isso enquanto torcemos apreensivos pela sobrevivência de nossos personagens.

Ainda no aspecto visual, devo dizer que o filme sente um pouco falta do visual azulado/avermelhado com toques neon da parte 1, tanto pela perda estética quanto por uma certa dificuldade de discernir algumas cenas no escuro. Tratando-se este de um filme lançado direto em streaming, o time de produção deveria ter levado em conta o fato de que os televisores domésticos não têm o melhor ajuste de iluminação, e que tampouco é possível para todos assistir ao filme no breu completo. Não sei quanto a vocês, mas eu confesso que tive bastante dificuldade em acompanhar algumas das cenas mais escuras, especialmente as que se passam na caverna sob o acampamento Nightwing.

Apesar destes e de alguns outros pontos negativos que o impedem de alcançar um nível ainda mais elevado, ‘Rua do Medo: 1978’ cumpre muito bem seu papel como o segundo ato de uma trilogia. Desenvolvendo mais a fundo muitas das temáticas apresentadas por seu antecessor, o filme deixa também as lacunas necessárias para que 1666 conclua a história com louvor na semana que vem. Não sei quanto a vocês, mas eu aguardo ansiosamente o desfecho dessa trilogia no dia 16/07. Nos vemos lá!