Crítica | Spell

Spell
Data de Lançamento: 30/10/2020
Direção: Mark Tonderai
Distribuição: Paramount Players

Roteirizado por Kurt Wimmer (Ultravioleta, 2006), Spell (2020) acabou com o jejum de cinema do diretor Mark Tonderai (A Última Casa da Rua, 2012), que estava a 8 anos sem trabalhar em um longa-metragem. A produção passou um pouco despercebida pelo público fora dos EUA, mas nos apresenta uma história interessante com uma boa carga de tensão.

Omari Hardwick vive Marquis T. Woods, um rico advogado negro que carrega na pele seus traumas de infância. Ele recebe a informação da morte de seu pai, que o submeteu a diversos abusos quando criança, e decide ir com sua família até o local afastado em que viveu na infância. A viagem é feita em seu avião particular. As  coisas começam a se apresentar estranhar quando ele pousa em um posto para abastecer a aeronave. O dono do estabelecimento insiste que ele leve “proteção”, mas o homem, cético como é, recusa.

Uma tempestade vem de vez acabar com a tranquilidade da família. Após um acidente, Marquis é o único que acorda na casa de um casal de idosos bem macabros. Eles insistem que não havia ninguém mais no avião e o deixam trancado no sótão. Qualquer tentativa de fuga é rapidamente interrompida pelo forte empregado do casal.

O diretor trabalha bem com a tensão ao redor de Marquis. Ele não é um personagem completamente impulsivo e planeja seus atos como pode. Ele consegue enganar o casal diversas vezes, mas seus planos são constantemente frustrados. O grande problema é que o casal é o líder de uma comunidade religiosa de práticas mágicas. Apesar de não se relacionar ao Vodu, é inegável a aproximação dos bonecos boogity com os estereótipos cinematográficos do Vodu.

O roteiro não nos poupa de cenas fortes onde canibalismo e mutilação são apresentados sem pudor. A grande revelação acontece no encerramento do segundo ato. Os planos da comunidade não são muito originais se pensarmos em outros filmes que trabalham com essa temática, mas são o suficiente para convencer o espectador.

No fim das contas, Spell (2020), apesar de suas qualidades de direção, nos apresenta um roteiro fraco que apresenta problemáticas, mas as trata de forma superficial. Um ponto positivo é que em nenhum momento outra religião é utilizada no filme como contraponto. Não há “religião boa versus religião má” na história. Marquis, inclusive, se utiliza da magia da comunidade para tentar sobreviver. Há claramente uma inspiração em Jordan Peele, apesar de a produção não conseguir replicar o mesmo impacto de títulos como Corra (2017) e Nós (2019).